sábado, 15 de abril de 2017



Brinquedos Mortais para uma Criança Insana



“Aqueles que não conseguem lembrar-se do passado estão condenados a repeti-lo."
George Santayanna, “The Life of Reason”, 1906

A primeira guerra mundial terminou em 11 de novembro de 1918. Ao custo de 17 milhões de vidas, o planeta finalmente conquistou a paz - ao menos por mais duas décadas. Durante o conflito, vários paradigmas militares foram estabelecidos, tais como a importância crescente do poderio aéreo e a supremacia de duas das máquinas de guerra mais letais: o submarino e o encouraçado. Curiosamente, o poderio aéreo combinado com o uso intensivo de submarinos acabou, mais tarde, jogando na obsolescência os poderosos encouraçados que dominavam os mares até então. Mas ao final da primeira guerra, o encouraçado pesado ainda reinava como a máquina de guerra mais mortífera que um país pudesse ter no seu arsenal. Dessa forma, o Tratado de Versailles de junho de 1919, que estabeleceu as condições impostas à Alemanha e seus aliados para o pós-guerra, proibia terminantemente a posse ou construção dessas armas estratégicas pela Alemanha. A Marinha alemã foi limitada a dez encouraçados antigos da classe Deutschland, com deslocamento máximo de 10 mil toneladas cada, e canhões de no máximo 6 polegadas, para patrulha costeira. Submarinos eram vedados. Aviões de uso militar eram vedados. Tanques de guerra eram vedados. 

Adicionalmente, como punição por ter provocado a guerra, a Alemanha também teve que aderir ao Artigo 231 do Tratado, que criou penalidades financeiras a serem pagas a seus adversários na guerra, cujos valores atualizados chegaram à casa de 440 bilhões de dólares. Ora, com a Alemanha emergindo da guerra derrotada, com a economia despedaçada e parque industrial destruído, é fácil perceber que as reparações de guerra anularam qualquer esforço alemão para reconstruir o país. A Alemanha naufragou econômica e socialmente nos anos 20, instalando-se a República de Weimar, de triste memória. Hiperinflação. desemprego e desesperança contribuíram para uma percepção de que os termos estabelecidos no Tratado eram severos demais, como foi dito por Sir John Maynard Keynes. Por fim, o descontentamento político causado pela punições exageradas deu origem a um partido político que prometia aos alemães que, caso chegasse ao poder, cancelaria esse castigo para a economia do país - pela força, se necessário fosse. O partido era o Partido Nacional-Socialista, que veio a ser conhecido como Nazista, e seu líder era um austríaco chamado Adolf Hitler. É bom ter em mente que já em 1922, onze anos antes de chegar ao poder, Hitler já havia escrito em "Mein Kampf" ("Minha Luta") que, caso um dia chegasse ao poder, a Alemanha revogaria o Tratado de Versailles e voltaria a ser uma potência econômica e militar. Hitler acabou eleito em 1933. O que se seguiu é uma história por demais conhecida.

É preciso chamar a atenção para um fato pouco conhecido sobre a Alemanha do pós-guerra: o país nunca seguiu, a rigor, as limitações estabelecidas no Tratado, no tocante à limitação de poder militar. Já em 1921, três anos após o fim da guerra, operações secretas na Finlândia e Países Baixos estavam projetando duas novas classes de submarinos (que acabaram dando nas classes I e II dos famosos U-Boats, o terror dos marinheiros no Atlântico Norte durante a segunda guerra). A Alemanha seguiu construindo encouraçados, e solenemente ignorou o limite de 10 mil toneladas de deslocamento ou o limite de calibre dos canhões. Em plena luz do dia e sob as vistas complacentes da Europa, a Alemanha reconstruía seu poder militar - e nada lhe sucedia. Nenhuma punição, nenhuma ação eficaz para interromper o processo. Um alemão, Carl von Ossietzky, revelou ao mundo esse fato, em 1931. Seu esforço lhe rendeu o prêmio Nobel da Paz, o que não impediu os nazistas de prenderem, torturarem e acabarem assassinando o delator. O governo britânico, principal vencedor da guerra, nada fez para impedir a Alemanha de ignorar as disposições de Versailles. Os franceses reclamaram mas também nada fizeram. Quanto aos Estados Unidos, que já havia entrado na guerra a contra-gosto, o país simplesmente ignorou o que se passava na Alemanha, descaso que se estendeu até a véspera da segunda guerra em 1939. Hitler foi eleito chanceler em 1933, e prontamente denunciou como nulo o Tratado inteiro - como ele havia prometido fazer uma década antes. Ele supôs - corretamente - que nem a Grâ-Bretanha nem a França iriam à guerra para defender um tratado draconiano assinado nas cinzas da primeira guerra. A Liga das Nações, entidade criada em 1920 com o objetivo de prevenir conflitos tais como o que levou à primeira guerra, advertiu a Alemanha por violar as limitações constantes do Tratado, mas ficou só nisso. De forma inacreditável, em 1935 a Grâ-Bretanha acabou admitindo sua incapacidade de reprimir a Alemanha por suas sucessivas violações do Tratado, e assinou com os alemães um Acordo Naval Anglo-Alemão, permitindo a reconstrução naval militar alemã, impondo apenas uma proporcionalidade entre as frotas inglesa e alemã com vantagem para a primeira. Nem precisa dizer que Hitler ignorou totalmente esse novo acordo, e seguiu no seu esforço armamentista. 

Em setembro de 1939 a Alemanha nazista invadiu a Polônia com seu arsenal construído sob o olhar cúmplice da Europa. Em seis anos, sessenta milhões de seres humanos perderiam a vida no conflito. A raça humana não havia aprendido a lição. Teve que repeti-la.

A questão que surge disso tudo é a seguinte: SE as três grandes potências que derrotaram a Alemanha na Primeira Guerra Mundial (Inglaterra, França e Estados Unidos) tivessem AGIDO para impedir a Alemanha dos anos 20 e 30 de construir encouraçados, submarinos e aviões de combate cada vez mais mortíferos, teria havido a Segunda Guerra Mundial? Sessenta milhões de vidas teriam sido salvas? Se a Liga das Nações (que hoje se chama Organização da Nações Unidas) tivesse feito mais do que reclamar e sim tivesse tomado medidas efetivas para coibir o esforço alemão de reconstruir sua supremacia militar, Hitler teria tido a coragem de invadir a Polônia? Dada a óbvia loucura do ditador, nunca saberemos. Mas uma coisa é certa: sem seus U-Boats, bombardeiros, caças, tanques Panzer ou encouraçados, a Alemanha teria sido derrotada em menos de um ano. Quantos judeus teriam sido poupados dos horrores de Auschwitz ou Treblinka?

É razoável imaginar que a humanidade, depois dessa, tivesse finalmente aprendido a lição: Não é possível "negociar" com malucos. Não se fazem "acordos" com psicopatas, a não ser que seja possível coibir seus esquemas secretos, expor suas mentiras e, acima de tudo pará-los ANTES que eles comecem a matar gente em escala industrial.  Psicopatas simplesmente não raciocinam nos mesmos padrões que as pessoas normais. Em 1962, John F. Kennedy e Nikita Krushchev conseguiram evitar a aniquilação mútua de seus países e do resto do planeta, porque nenhum dos dois era louco. No limiar da guerra termonuclear, o líder soviético lembrou que, assim como Kennedy, ele tinha uma família. Ambos os lados recuaram, concessões foram feitas, e o mundo viveu para ver um novo dia. Mas... e se Krushchev fosse um pirado? E se ele não ligasse a mínima quanto a matar crianças? 

O único modo de lidar com lunáticos dispostos a tudo é mostrar-lhes claramente que suas ações NÂO SERÃO toleradas, e que, para usar uma analogia antiga, se querem "puxar o rabo do tigre", é bom que saibam que do outro lado do animal há um formidável conjunto de dentes afiados. Ameaças não funcionam com doidos, devo dizer. Não se dá uma arma carregada a uma pessoa insana, nem se permite que ele obtenha uma. É simples assim.

Em meados de 2015, a Corèia do Norte detonou o que eles consideram ser uma bomba termonuclear, também conhecida como bomba de hidrogênio. Não é certo se o artefato atingiu status de bomba H, e há quem conteste isso. É uma discussão estéril: a Coréia do Norte, liderado por um caso clínico de psicopatia que jurou destruir seus inimigos por quaisquer meios possíveis, detonou com sucesso uma arma nuclear. De lá para cá, mais testes foram realizados, tanto de bombas nucleares como de mísseis de médio a longo alcance, mostrando que, apesar da proibição ao desenvolvimento dessas armas de destruição em massa, Kim Jong-Un segue na insânia de ameaçar o mundo com seus brinquedinhos. A ONU protestou. Os EUA de Obama protestaram. Praticamente todo país civilizado do planeta protestou. Até a China, vizinha e aliada dos norte-coreanos, condenou os testes. E daí? O menino maluquinho Kim Jong-Un mandou saudações e seguiu no seu esforço para se tornar ditador de uma potência nuclear. Não só isso, como ostensivamente declarou que pretende usar seu arsenal, caso lhe incomodem. É como ter uma Uzi na mão de uma criança de 4 anos. E ele acha que é o caubói, e o resto do mundo são os índios. Já vimos esse filme, como descrevi acima.

Os Estados Unidos, sob a administração equivocada de Barack Obama, ficou só nos protestos veementes. Óbvio: até o momento a Coréia do Norte não dispõe dos meios para enviar uma bomba a alvos nos EUA. O país asiático representa uma ameaça real e imediata apenas para seus vizinhos, certo? Os alvos são a Coréia do Sul, o Japão, Taiwan e a própria China? Eles que cuidem do lunático. Os americanos estão seguros, fora do alcance dos mísseis de Pyongyang. Certo?

Errado.

Há poucos dias, a Coréía do Norte lançou mais uma foguete que, segundo o governo de Kim Jong-Un, teria o objetivo de colocar um satélite em órbita. Mentira, lógico. Mas a inteligência americana admitiu que o míssil atingiu altitude orbital. É o caso de pensar qual uso possível a Coréia do Norte poderia ter para um artefato colocado em órbita terrestre. Possivelmente nada importante. Isso nem vem ao caso.O que importa é que agora o regime de Pyongyang possui a capacidade de lançar mísseis balísticos intercontinentais (ICBM's). Falta o quê? Segundo os especialistas, o país ainda não tem a capacidade de fazer a reentrada do foguete na atmosfera, dirigi-lo a um alvo e, finalmente, capacitá-lo a portar uma bomba nuclear.Mas alguém duvida que o objetivo seja esse e que, dado o progresso até agora, é uma simples questão de tempo?

Assim, no resumo da ópera, a Coréia do Norte está às portas do Clube do Fim do Mundo. E batendo na porta. Com força. A totalidade dos países detentores do poderio nuclear para fins militares usam sua capacidade como simples elemento de dissuasão de eventual agressão. Ninguém em sã consciência cogita usar as malditas coisas. É péssimo para os negócios, como se diz. Milhares de civis inocentes mortos ou morrendo, contaminação radioativa por séculos... imaginem a opinião pública mundial depois de um ato desses? Nenhum país, nenhum governo ficaria de pé após usar um arsenal desses. Não depois de Hiroshima e Nagasaki - pelos quais os EUA pagam até hoje. 

Mas... e Kim Jong-Un? Ele aparentemente não dá a menor importância se algumas centenas de milhares de seus compatriotas serão torradas num confronto nuclear, desde que consiga matar um monte de gente do outro lado também. Sua instabilidade psicológica (acaba de mandar matar o próprio irmão usando arma química banida em todo mundo) o torna imprevisível, mas é consenso que ali, mais dia ou menos dia, vai ocorrer uma ruptura com a realidade, e aí...

Num cenário mais otimista (?) o ditador seguirá usando seu arsenal atômico como chantagem: "Cancelem as sanções ou vou aniquilá-los". Ora, a Coréia do Norte tem repetido com frequência que até as transmissões radiofônicas emitidas pelo seu vizinho ao sul são "atos de guerra". O que o impede de tentar destruir seu inimigo, se já se considera em guerra?

E, ao que parece, em breve ele poderá transformar suas ameaças de atingir os Estados Unidos em realidade. E agora? O que o cidadão americano faz nessa hora? Reforma todos aqueles abrigos antiatômicos que construíram nos quintais nos nos 60, para enfrentar a ameaça de Moscou?


A lição foi ensinada duas vezes nos últimos cem anos: Não confie em malucos. FAÇA ALGUMA COISA. 

Está na hora do governo americano, sob nova administração. ter uma conversa com seus parceiros russos e chineses, e deixar claro a eles que se a Coréia do Norte, sob a ditadura de um psicopata, for ignorada no seu projeto de armas nucleares, a humanidade inteira está em risco. E que, se ele não fizerem nada, os EUA farão. Depois disso, chega de conversa com Kim Jong-Un. É preciso remover essa capacidade mortífera. O preço é o pesadelo da opinião pública, já fortemente antiamericana. Mas é um preço que tem que ser pago, porque a alternativa é vastamente pior.

Quem sabe o pessoal aprende a lição agora. Antes que seja tarde demais.