sábado, 22 de dezembro de 2012

Moral e Cívica


Vocês se lembram das aulas de EMC? Educação Moral e Cívica? Bem, eu imagino que somente os mais velhos se lembrarão disso. E no Brasil, claro. Não sei se existe um paralelo em outros países, mas desconfio que sim. Para quem desconhece do que se trata, eram aulas versando sobre civismo, com ênfase em aspectos éticos. Aliás, a própria ética era dissecada. Havia, na escola onde eu estudava, uma outra matéria que tratava de política, a OSPB (Organização Social e Política Brasileira), que, a rigor, era uma imposição do Ministério da Educação às escolas, em tempos de regime militar. 

Nunca tive paciência para nenhuma das duas matérias. A questão política era algo intangível para um garoto de 14 anos, muito mais interessado em outras coisas mais próprias de sua idade do que se a Revolução de 64 havia sido boa ou não. Eu sabia que meu pai era um anticomunista ferrenho, e isso me bastava. Se ele era contra as idéias de Marx, eu também era, e pronto. Já no tocante ao civismo e ética, nada daquilo que era ensinado nas aulas me era novidade. Civismo? Eu morei durante boa parte da infância, numa pacata cidadezinha da Pensilvânia, e na escola o civismo era um dos pilares do ensino. O amor à pátria, o respeito às leis, a Regra de Ouro da ética ("Não faça aos outros aquilo que não admites que façam contigo"), eram tão corriqueiras quanto o jogo de baseball na hora do recreio. E quanto aos outros aspectos de respeito ao próximo e ojeriza à mentira, o cinto do meu pai, de couro grosso e fivela dupla, valia por mil aulas. Ainda assim, eu tirava boas notas em ambas as matérias, consideradas "fáceis" - o que não era o caso de Matemática ou Francês, onde eu me arrastava de uma série a outra.

Creio que não existe mais Educação Moral e Cívica nas escolas. Talvez tenha se tornado uma matéria politicamente incorreta, nesses tempos em que a "nova educação" prescinde de ensinar o português correto e adota a esculhambação gramatical como aceitável, ajudando a formar legiões de ignorantes e iletrados que servem à perfeição para votar em outros iletrados e ignorantes. Mas faz falta, se querem minha opinião. Talvez, se ensinassem um pouco de ética básica na escola, não precisaríamos de tantas penitenciárias. Talvez esses estudantes, quando crescessem, e resolvessem seguir pelo caminho da política, pensassem mais no povo que os elege, do que no seu poder e fortuna pessoal. Quem sabe?

E já que atrevo-me a dar conselhos educacionais (ainda estamos num país livre, espero!), vou dar mais um. Não creio que o Ministério da Educação, em tempos de Haddad e Mercadante, vá aceitar minha sugestão, mas... isso não lhe tira o mérito, muito antes pelo contrário. Retornem com a Moral e Cívica! Ensinem ética na escola! 

E para contribuir ainda mais com a questão, anexo um vídeo que achei por aí, que pode servir de "aula magna" reintroduzindo a velha e boa MORAL e CÍVICA nas escolas brasileiras. Certamente será uma aula controversa, vai gerar discussões inflamadas, como é da natureza de todo bom assunto.

Quem ministra essa aula é um professor de ilibada reputação, um jurista cuja história é parte da história do Brasil, do lado BOM do Brasil. Cujas credenciais são sólidas, em defesa da cidadania, dos direitos humanos e da moralidade pública. Advogado formado pela USP em 1947, jurista, ativista de direitos humanos. Um homem de esquerda. Não dessa esquerda de araque que grassa na América Latina nos nosso dias, mas de uma esquerda cuja preocupação maior era a diminuição da desigualdade entre as pessoas. Essa esquerda que não existe mais, seduzida que foi pelos charutos Havana e uísque 12 anos tão próprios do poder. Sobrou nas almas e mentes de poucos, e resiste bravamente na mente ainda afiada desse senhor de 90 anos. Ele lutou por isso. No auge da ditadura, enfrentou e venceu o Esquadrão da Morte, e nem mesmo o mais feroz dos generais encontrou nele uma falha moral que lhe permitisse cassar-lhe os direitos ou levá-lo a um dos porões da repressão. Fez carreira política, sempre dentro do PT. Deixou o partido em 2005, desiludido com os rumos que o partido e seus donos seguiram após se apossarem do poder.

Peço desculpas antecipadamente por algumas inserções no vídeo, a meu ver desnecessárias e que na verdade tiram o foco do mais importante: as palavras de um homem honesto, de rara inteligência, e sua desilusão frente ao que se transformou um ideal depois de vislumbrar a chave do cofre. O video não e de minha lavra - eu teria mantido apenas a entrevista. Sejam pacientes, portanto, o vídeo é um tanto longo.

Com vocês, o professor Hélio Bicudo.




sábado, 1 de dezembro de 2012

Teúda e manteúda




"Deite, que hoje vou lhe usar"
Coronel Jesuíno (José Wilker) para Sinhazinha, na minissérie "Gabriela", da TV Globo



Eu costumo acordar cedo. Pela seis da manhã, eu já estou fora da cama. A meia-idade tem dessas coisas, a gente tem sono só na hora errada. Aos sábados não é diferente. E hoje segui o costume. Levanto às seis, banheiro para as atividades inerentes ao local, vou à cozinha, ponho um café-com-leite no microondas, espero, pego a xícara e rumo ao escritório, onde mora a minha janela para o mundo, um notebook ligado numa conexão sonolenta com a internet. Ligo, espero carregar, clico no ícone da Veja On-Line, para ver as novidades. Nada de muito interessante, Israel vai metendo os pés pelas mãos na Cisjordânia (preciso escrever sobre isso mais tarde, há dias escrevi um post defendendo Israel do jogo sujo da mídia, mas essa de permitir a expansão dos assentamentos em represália à decisão da ONU de reconhecer a Palestina com Estado Observador é, para dizer o mínimo, um tremendo tiro no pé, parece até coisa de petista!), mais uns rolos da tal Rosemary, enfim, mais do mesmo. Vou à coluna do Reinaldo Azevedo, sempre um prazer de ler. Hummm... Hein?  Como é?  Deparo-me com o seguinte texto:

Jornal decide contar ao leitor o que os jornalistas e o governo sabiam há muito: Lula e Rosemary, no centro do novo escândalo, eram amantes desde 1993


Um homem público ter uma amante é ou não assunto relevante? Nos EUA, basta para liquidar uma carreira política, como estamos cansados de saber. Foi um caso extraconjugal que derrubou o todo-poderoso da CIA e quase herói nacional David Petraeus.
Desde quando estourou o mais recente escândalo da República, todos os jornalistas que cobrem política e toda Brasília sabiam que Rosemary Nóvoa Noronha tinha sido — se ainda é, não sei — amante de Lula. Assim define a palavra o Dicionário Houaiss: “Amante é a pessoa que tem com outra relações sexuais mais ou menos estáveis, mas não formalizadas pelo casamento; amásio, amásia”.
Embora a relação fosse conhecida, a imprensa brasileira se manteve longe do caso. Quando, no entanto, fica evidente que a pessoa em questão se imiscui em assuntos da República em razão dessa proximidade e está envolvida com a nomeação de um diretor de uma agência reguladora apontado pela PF como chefe de quadrilha, aí o assunto deixa de ser “pessoal” para se tornar uma questão de interesse público.
O caso, com todos os seus lances patéticos e sórdidos, evidencia a gigantesca dificuldade que Lula sempre teve e tem de distinguir as questões pessoais das de Estado. Como se considera uma espécie de demiurgo, de ungido, de super-homem, não reconhece como legítimos os limites da ética, do decoro e das leis. (...) 
Ainda segundo o texto do Reinaldo, o jornal responsável pela notícia é a Folha de São Paulo que, ao questionar o porta-voz do Instituto Lula, José Chrispiniano, ouviu dele a afirmação de que "o ex-presidente Lula não faria comentários sobre assuntos particulares".
Fiquei ali uns cinco minutos, olhando aquilo, meu café esquecido, esfriando no canto da escrivaninha. A notícia era inacreditável. Quer dizer, se analisado à luz fria dos fatos, fazia todo sentido. A nomeação da moça, seu poder quase rasputiniano, seu trânsito com o "PR" (Presidente), sua preocupação com plásticas e coisas afins, as viagens sem justificativa aparente, seu poder junto ao chefe e sua sede de aproveitar ao máximo esse poder. Até mesmo a repentina viagem de Lula à Europa, logo que eclodiu o escândalo do tráfico de influência da "Rose". O prudente distanciamento de Dilma, acoplada à intensa movimentação nos bastidores para evitar, a qualquer custo, que a dita-cuja seja interrogada por parlamentares da oposição. Tudo se encaixava, tudo começava a fazer sentido. Mas... até NESSE tipo de escândalo, o Imperador de Garanhuns se mete? Tem foto rodando a internet, com o abraço carinhoso dos três protagonistas desse triângulo: Lula, Rose e Marisa Letícia! Cara de pau, o Coronel Jesuíno do Planalto, não?
Ok, ok.... vamos com cautela. Vai que o Reinaldo perdeu o juízo... Para buscar a contrapartida, vou ao blog sujinho mais popular da esgotosfera petista: o Brasil 247. Ela certamente deve estar esbravejando por conta de tal injúria contra seu ídolo máximo. Hummm... não. O blog a serviço do lulopetismo não desmente nada. Pelo tom das manchetes espalhafatosas que estampa na abertura, pelo contrário: praticamente confirma a notícia da Folha, com a ressalva podre de que "FHC fez o mesmo, e não deu nem escândalo, pois foi tudo abafado pelo "PIG" (a maneira  estranha pela qual a imprensa a serviço do governo se refere a qualquer tipo de imprensa que não lamba as botas do petismo). 
O mais impressionante é que, segundo a Folha, esse fato já era rumor corriqueiro em Brasília há mais de uma década - e nunca ganhou repercussão! E isso num país onde até a sexualidade de figurinhas carimbadas da TV vira hit da internet!

Muito bem.... Antes de fazer qualquer análise do caso, e preciso apurar sua veracidade. Pelo que se vê na internet, é "pedra 90", ou seja, verdadeira. Isso posto, é preciso separar as coisas. A vida sexual de Luiz Inácio Lula da Silva, é da minha conta? Óbvio que não, assim como a minha não é da conta de ninguém. Afinal de contas, ter amantes é corriqueiro em nossa sociedade. Há centenas de anedotas a respeito, e poucas condenam a atividade "por fora" do casamento, desde que executada pelo marido. Chamar um homem de "galinha" no Brasil, sequer chega a ser um xingamento, mas no máximo uma leve repreensão, muitas vezes eivada de inveja. Claro que no caso da mulher infiel, a coisa muda de figura. Chamar de "galinha" é ofensa mortal.  É uma grande injustiça, fruto do machismo que ainda permeia a nossa sociedade. Mas eu é que não me meto a querer corrigir o mundo na sua visão machista da traição, não. Quem tem chifres que os ajeite como melhor lhe aprouver. E não será a primeira vez em que um chefe de Estado dá suas puladas de cerca, nem será a última. Muito antes de Dom Pedro I conceder o título de Marquesa à bela Domitilia, a corte era célebre por seus casos extraconjugais. Boa parte dos presidentes brasileiros tinham lá suas "peguetes" (para usar um termo mais atual). Na cultura latina, isso nem era considerado pecado grave. E segue sendo tolerado com bom humor. Estamos muito mais para os italianos que morrem de inveja de Silvio Berlusconi e suas festas "bunga-bunga", do que para o falso puritanismo americano que por pouco não causou o impeachment de Bill Clinton por suas aventuras sexuais com uma estagiária da Casa Branca. O caso do ex-presidente paraguaio Fernando Lugo, um voraz reprodutor extraconjugal, nunca causou espécie entre seus admiradores, mesmo ele tendo sido padre durante o período em que "pegava geral". Para a idiotia latino-americana, a promiscuidade (masculina, é certo) é quase um sinônimo de "macheza", desejável, portanto. Lula, ao ter uma amante, provavelmente não teria grande desgaste em sua imagem, tradicionalmente revestida de teflon contra escândalos de toda ordem. O fanatismo pró-Lula é tão arraigado, que esse seria considerado um "mal menor" e que, de mais a mais, nem é crime coisa nenhuma. No caso dele seria apenas mais uma faceta do folclore lulista, assim como seu hábito de tomar uns goles além da conta da "mardita pinga", e de abominar certos hábitos típicos de pessoas ditas civilizadas, como a leitura. De fato, os comentários dos leitores do "247" estavam, de modo geral, todos alinhados com esse pensamento: Lula é "o cara", além de "ter salvo o Brasil", é "pegador". Sabem como é, aos idiotas tudo é permitido.
Sabe-se que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso teve um caso extraconjugal, com uma jornalista da Globo. Ela teve um filho, que foi reconhecido por FHC como filho da união dos dois. Anos depois, provou-se que o filho não era de FHC, o que não muda absolutamente nada no fato de que houve um caso fora do casamento. Os blogs a serviço do lulopetismo estão explorando esse fato à exaustão, tentando traçar um paralelo entre os dois casos, de modo a "aliviar a barra" de Lula. À primeira vista, seria isso mesmo: dois presidentes, dois casos, nada de novo no front. Cada um que faça seu julgamento pessoal sobre esse tipo de comportamento. Creio que poucos farão uma censura rigorosa, talvez lembrando daquela frase de Jesus Cristo: "Atire a primeira pedra, quem nunca errou..."  Na mente nos lulistas, são casos análogos, e se um foi esquecido pela grande imprensa, o outro merece o mesmo destino.

Eu discordo disso - e mostro por quê.

Ter uma amante é "assunto particular", sem dúvida. Mas espetar a conta da manutenção da amante na viúva (leia-se: erário, o seu, o meu, o nosso dinheiro), já extrapola a seara do "particular" para chafurdar naquilo que o petismo tem de característico: a transformação da vida pública na privada (pode-se entender como quiser). A pornográfica e obscena mescla de dinheiro público com o desejo particular. A suruba entre assuntos de alcova e assuntos de Estado. Estou me lixando para o fato do ex-presidente Lula ter amante, seja uma, sejam dez.  Em algumas partes do mundo, a poligamia masculina é tradição milenar. No Irã islâmico do amiguinho de Lula, o nuclear Ahmadinejad, a poligamia é cultural (sempre masculina, se uma mulher seguir esse rumo acabará morta a pedradas, sob aplausos da turba enfurecida). Mas mesmo no Islã, o número de esposas é limitado pelo poder aquisitivo - e não vale incorporar as reservas monetárias do país na conta! No Brasil, é assunto estritamente particular. Mas no preciso instante em que Lula arruma um empreguinho camarada, regiamente remunerado, para a concubina, ele sai do "particular" e vai para o lodaçal do escândalo. Não se tem notícia de que FHC, ou qualquer outro mandatário, tenha tido tamanho escárnio para com a coisa pública. E assim sendo, o papelão moral que o ex-presidente protagoniza deixa de ser um assunto "particular", para virar notícia, com todos seus desdobramentos. No caso em questão, mais do que uma troca de favores, um ninho de roubalheira que a cada dia nos brinda com novidades. Não é caso amoroso, é caso de polícia. A "teúda" não se contentou em receber seus generosos proventos da administração pública. Resolveu diversificar as atividades, e, seguindo o modelito tão em voga nas hostes do petismo, prestar "consultoria" para fora. Emplacou os irmãos Vieira em duas Agências reguladores diretamente ligadas a interesses de pessoas que buscavam favores intermediados por ela. Arrumou, através de outra indicação sussurrada ao ouvido do "PR", uma boquinha para a filha na ANAC. Até para o ex-marido, ela deu um jeitinho de dar uma forcinha, arrumando um diploma fajuto para que ele pudesse conseguir um emprego na seguradora do Banco do Brasil. Em outras palavras, ela cuidou da família toda. Lula se declarou "esfaqueado pelas costas" com o episódio. Esfaqueado por quem? Pela amante? Tenho minhas dúvidas. A mulher já perdeu o emprego, a filha foi demitida, o ex foi demitido, ela está indiciada em processo na Polícia Federal. Fico aqui imaginando o estado de espírito de Rosemary, ao ver que seu "Coronel", ou, na expressão em inglês, "sugar daddy", pegou um vôo para a Europa para deixar o caso esfriar, e a deixou nas mãos "competentes" de Marcio Thomaz Bastos e equipe. Como ficarão as contas que vencem no final do mês? O condomínio da cobertura? Será que alguma alma caridosa vai pagar? Ou será que Lula vai repetir seu comportamento habitual, e deixá-la arder no mármore do inferno, declarar que foi vítima" e que "não sabia de nada"? Um expediente perigoso, para dizer o mínimo. No lugar da Rose, eu pediria garantias de vida à polícia, e faria um bom acordo de delação premiada com o Ministério Público. Imaginem o que pode estar trancado a sete chaves na cabeça da mulher?

Quanto a Lula, ele pode inventar os subterfúgios que quiser. É impressionante a capacidade quase inesgotável que esse cidadão possui, se se esmerar na produção de escândalos. Quando a gente pensa que já viu tudo, que estão esgotadas as alternativas para mais uma "cagada", lá vem ele com um balaio cheio de dejetos para emporcalhar a sua biografia. Até hoje, o revestimento de "teflon" que auferiu, ao longo de décadas de enganação e oito anos de mandato nos quais o clientelismo e a demagogia foram a tônica, resistiu a tudo. Um escândalo como o Mensalão mandaria a popularidade de qualquer um para o fundo do poço. Lula surfou no escândalo, pintou e bordou, e saiu com a maior cara lavada. É possível que saia de mais esta. Mas nada é certo. O povo tende a perdoar o fato de ter uma "teúda". Mas que ela seja "manteúda" com o dinheiro do contribuinte, é ir um pouco longe demais. Os que trabalham com o humor estão em polvorosa, com a mais nova safra de inspiração para suas charges. É bem capaz de Lula resistir a denúncias de toda espécie. Mas resistir ao humor implacável lhe será mais difícil. Agora, entre dezenas de epítetos nada elogiosos que ele recebe da oposição, somará mais um - o de pândego. 






sexta-feira, 30 de novembro de 2012

PERDEU!!!

"Negue. Negue sempre. Morra negando"
Nelson Rodrigues

Deu no Estadão de hoje:


A ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha divulgou nota à imprensa nesta quinta-feira em que nega as acusações feitas contra ela pela Polícia Federal. "Enquanto trabalhei para o PT ou para a Presidência da República, nunca fiz nada ilegal, imoral ou irregular que tenha favorecido o ex-ministro José Dirceu ou o ex-presidente Lula em função do cargo que desempenhavam", afirma.
Rosemary foi exonerada do cargo após a Operação Porto Seguro, da PF, mostrar que ela fazia parte de uma quadrilha que praticava tráfico de influência e corrupção em, pelo menos, sete órgãos federais. O cargo que Rosemary ocupava foi extinto pela presidente Dilma Rousseff. 
Segundo interceptações telefônicas, Rose operava valendo-se de sua influência no governo federal, atuado em conjunto com os irmãos Paulo Vieira, diretor de Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA), e Rubens Vieira, direto da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Ambos estão presos e foram afastados dos cargos. 
A investigação da PF aponta que Rosemary facilitava o encontro de autoridades com membros da quadrilha. No período que trabalho para o governo, ela empregou a filha Mirelle na Anac e, com a ajuda de Paulo, conseguiu um diploma falso para que o ex-marido, José Claudio Noronha, fosse indicado a um cargo em uma seguradora do Banco do Brasil.  
(Com Estadão Conteúdo)
Mas o que que é isso, companheira? Como é que é? 
Lendo bem o texto e a afirmação da agora ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo, percebe-se uma pequena sutileza, um engana-trouxa que jaz ali, uma pequena válvula de escape para a acusação de mentirosa descarada que certamente lhe farão: a palavra "que". Sim, uma palavrinha pode fazer toda a diferença, não? Ela nega que tenha cometido alguma ilegalidade, imoralidade ou irregularidade (ufa, será que fez algo engordante?), ou nega que tenha feito isso PARA beneficiar José Dirceu ou Lula? Olhando pela interpretação do Estadão, ela nega qualquer desvio de conduta, e ponto. Afinal de contas, ela "nega as acusações da Polícia Federal". Como a PF nunca acusou a moçoila de "beneficiar José Dirceu ou Lula" (essa história surgiu depois, nas afirmações do delator do esquema), é de se concluir que ela nega toda e qualquer irregularidade. Não é um espanto? As conversas por e-mail, apreendidas pela Polícia Federal, seriam então o que? Uma brincadeira? 
O que será que passa na cachola dessa gente? Será que eles acham que ALGUÉM, qualquer um, com mais de um único neurônio solitário nos miolos vai ACREDITAR nisso? 
O petismo faria bem em incorporar ao seu estatuto as célebres palavras de Nelson Rodrigues, no seu conselho aos adúlteros: "Negue... negue sempre... morra negando". Mesmo em face de uma inexplicável marca de batom no colarinho (ou na cueca, para usar um artigo tão mais em voga no petismo atual), o adúltero nega. Inventa as mais tresloucadas sandices, é capaz de falar de abdução por alienígenas, se faz de vítima das circunstâncias, chora e, sobretudo, nega. Nega com convicção, como é de praxe aos bons mentirosos.  O que tem acontecido após a dosimetria das penas impostas pelo STF aos mensaleiros é bem assim.
João Paulo Cunha contesta as penas aplicadas pelo STF, diz que é "injustiça" e que vai recorrer. Recorrer a quem, cara-pálida? A Deus Todo-Poderoso? A Belzebu? Não existe instância judicial no Brasil com alçada superior à do STF. E como não foi instituído (ainda, ufa!) o "governo mundial", apelar para algum Tribunal internacional tem o peso exato da bazófia: zero. "Ah, mas tem os tais embargos infringentes!". Sei. O que o cidadão, réu condenado, que já deveria ser EX-deputado (pela letra da Lei) e EX-petista (pelo estatuto do Partido) quer mesmo, é um "novo" julgamento, já sem o rigor de um Cezar Peluzo e Ayres Britto, talvez com o voto "toffoliano" de algum neo-indicado por Dilma, que lhe seja mais compreensivo. O STF já se manifestou a respeito, e os tais "embargos infringentes" não devem passar de mera chicana, para procrastinar a mudança de domicílio de João Paulo Cunha (e seus colegas) para a penitenciária, que é seu lugar.
Nada disso me espanta. É, como se diz, o "jus esperneandi". Numa imagem que me vem à cabeça, recordo da cena que vi na TV esses dias, de um marginal sendo preso pela PM de São Paulo, e colocado no camburão. Ele vai fácil, numa docilidade total. Sabe que "perdeu", e não vai se arriscar a levar umas "bifas" do sargento que lhe deu voz de prisão. O sargento, vejam só, ainda lhe põe a mão na cabeça, para evitar que o meliante se machuque ao entrar na "caçapa" do camburão. Numa cena hipotética, um petista apanhado em flagrante delito faria o inverso: se agarraria desesperadamente na lataria do carro da PM, abriria o berreiro, chamaria Deus, o diabo, o Paulo Henrique Amorim e metade da imprensa a soldo do lulopetismo, para tentar se safar das grades. Seria um escândalo - como está sendo o escândalo dos inconformados com as sentenças proferidas pelo Supremo Tribunal brasileiro, uma Corte na qual mais de metade dos membros foram colocados no cargo por obra e graça do partido que lhe dá guarida! 
O que me espanta é a naturalidade com que alguém apanhado "com a boca na botija", como a tal "Mamys" vem e tenta, a exemplo de seus ex-chefes, vender à opinião pública uma lorota que não convenceria sequer a falecida Velhinha de Taubaté. Como diria uma amiga minha: "Tua cara não queima não, Rosemary?" (pode-se substituir "Rosemary" por qualquer um dos condenados no processo do Mensalão. Pelo que vi, a única que teve um pingo de caráter foi a diretora do banco Rural, Kátia Rabello, que tratou logo de se preparar para a estadia que fará na cadeia).
Está certo, acusados de crimes tendem a negar seus feitos. Como se diz, na cadeia está cheio de gente inocente. Mas... poxa! Que um trombadinha diga que "não foi bem assim", vá lá... ele não tem a inteligência suficiente para saber que suas imprecações não lhe trarão benefício algum. Mas gente que se diz educada, culta... chega a ser patético! Assumam seus erros, seus pulhas! Tenham a consciência de saber que "a casa caiu" e busquem atenuantes dentro da realidade, não no mundo da fantasia!
Rosemary, José Dirceu, Delúbio, João Paulo Cunha e outros, adotam a postura que antes de mais nada, é tremendamente cínica: "Não fui eu, eu não fiz nada, eu não sabia de nada..."  É possível que façam isso orientados por seus advogados milionários (aliás, estou curioso para saber quem será o advogado de Rosemary, e quem lhe pagará os honorários. E, a propósito, ONDE terá sido redigida a nota que ela divulgou à imprensa? Na casa dela, ou no Instituto Lula?), é possível que seja uma estratégia de defesa válida. Tudo bem. Mas que é imoral, ah, isso é.
Sinceramente? Caso fosse eu o apanhado num escândalo desses (pouco provável, admito!), eu não teria a cara-de-pau de dizer que "não fiz nada". Meu rosto arderia, eu ficaria vermelho feito pimentão, a mentira se estamparia na testa. Eu teria vergonha. É como ser apanhado pela Polícia Rodoviária fazendo uma barbeiragem (já fiz, confesso). Ficar ali argumentando com o agente da Lei, apanhado em flagrante delito, vai adiantar o que? Melhor assumir o erro e receber a multa... "e que te sirva de lição" (já ouvi essa...).
A polícia brasileira, quando pega um meliante em flagrante, não segue seus colegas de filmes americanos. Lá, gritam "POLICE!" e todo mundo congela. Aqui, a palavra de ordem é "PERDEU!!!!". É o mesmo termo usado pelos bandidos, quando assaltam um transeunte. Carrega um significado completo, resume uma frase inteira, Miranda rights, explicações legais, tudo, numa única palavra forte, que paralisa e submete.
Pois então....

PERDEU, Rosemary!
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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Debaixo desse angu....



"tem carne", professa o ditado mineiro. Corre a lenda que a expressão surgiu com o almoço servido por fazendeiros aos peões da fazenda. Como o almoço era servido lá no campo, ia uma carroça com fogão, e esquentava as marmitas preparadas na véspera. Acontece que para a peãozada em geral, pouca ou nenhuma carne acompanhava a marmita. Já para o capataz, a carne estava sempre presente. Na hora de esquentar as marmitas, o fato de uma conter carne e as outras não, era motivo de insatisfação e até roubo da marmita "premiada". Para evitar isso, na hora do preparo, a cozinheira escondia a carne do capataz, por baixo de uma generosa porção de angu (polenta, em outras plagas). Assim, à primeira vista, a marmita do chefe era igual às outras. Mas ali debaixo tinha carne...

Evidente que não estou aqui falando de culinária, muito menos da sociologia trabalhista do Brasil rural. A expressão ganhou o mundo com outro significado. Na acepção popular, quando se diz que "debaixo desse angu tem carne", significa que há mais, naquele assunto, do que parece. "More than meets the eye", diriam, em inglês. 

O que me leva, face os acontecimentos dos últimos dias, à questão da ex-chefe do Escritório da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Nóvoa de Noronha (para os íntimos, apenas "Rose" ou, ainda, "Mamys"). À primeira vista, apenas um caso corriqueiro de tráfico de influência para faturar uns trocados, cruzeiros com duplas sertanejas de gosto duvidoso, uma cirurgia plástica ou outra. Nada com teor explosivo que possa abalar o happy-hour nos points brasilienses, que dirá os alicerces da República petista. Ou não?

Olhando o angu a uma certa distância, é isso mesmo. A moça tinha lá sua influência, e a usou para obter pareceres técnicos nas searas da Agência Nacional de Águas e Agência Nacional de Aviação Civil, entre outras, e negociar esses pareceres com interessados. Fez do escritório da Presidência em São Paulo uma espécie de quitanda para oferecer seus préstimos. Já vimos algo parecido em passado recente, não? E se nada aconteceu com a Erenice Guerra, que, pelo visto, fez um angu bem mais encorpado, por que haveria de ter carne logo no angu da "Mamys"?

Mas.... olhando melhor, quer me parecer que há uma protuberância no angu, que pode indicar a presença de algo que não seja simplesmente fubá cozido. Examinemos melhor o prato.

A Rosemary de Noronha não só obteve seus pareceres técnicos, como também indicou os dois irmão que comandariam ANA e ANAC. Indicou e emplacou no cargo. Alto lá! Eu já vi deputado indicando apadrinhado. Já vi senador fazendo o mesmo. Na república petista, o aparelhamento do Estado é a norma geral, portanto há muito cargo para preencher - e muita gente para indicar. Mas Secretária indicando chefe de Agência Reguladora? Ai ai ai.... começa a exalar um aroma desse angu, e certamente não haverá de ser caldo Knorr.

A Rosemary de Noronha trabalhou por anos a fio com  ninguém menos do que José Dirceu. Sabem, o Zé Dirceu? Aquele? É... ele mesmo. Tanto que quando avisada que a Polícia Federal faria uma busca e apreensão no escritório, para quem ela ligou, em busca de socorro? Ele mesmo. Dado o prontuário do ex-deputado (cassado), ex-Chefe da Casa Civil (demitido) e ex-réu primário (agora condenado e aguardando a hora de arrumar a mudança para o xilindró), eu diria que qualquer um que gozasse da confiança dele já seria, por si só, um angu abarrotado de carne.

A Rosemary de Noronha fez um monte de viagens internacionais acompanhando Lula, mundo afora. Foram, se não erro na conta, 24 países visitados. Em boa parte dessas viagens, ela sequer constava na lista de passageiros. Segundo consta das investigações da Polícia Federal, ela aproveitava a proximidade aeronáutica com o Presidente, para lhe sugerir coisas, como, por exemplo, arrumar uma boquinha para sua filha na ANAC, remunerada a R$ 8 mil e pouco por mês, livre das complicações como concurso público. Agora... estou aqui fundindo a cuca para tentar descobrir o que, exatamente, a chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo fazia, de oficial, nessas viagens mundo afora. Seria um enfeite (ela até que é bonitinha, não é?). Qual a função dela na comitiva? Os vapores da carne debaixo do angu começam a fazer salivar os apreciadores do prato.

A Rosemary de Noronha, entre março e outubro de 2011, trocou nada menos que 122 (cento e vinte e dois) telefonemas com o cidadão comum Luiz Inácio Lula da Silva, até o fim do ano anterior conhecido por "PR", ou melhor, Presidente da República. Em 2011, ele já não era presidente de coisa alguma. E seu escritório em São Paulo, ao que consta, não era o mesmo da "Mamys". Fazendo as contas, considerando apenas os dias úteis, são mais de CINCO ligações por dia. CINCO! Agora tem o seguinte: eu sou filho único (meu irmão faleceu tragicamente em 1984). Minha mãe é idosa, e está numa fase de grande preocupação comigo, algo que é motivo de uma doce implicância entre nós. Ela me rastreia Brasil afora, e me liga constantemente, até por motivos triviais. Mas mãe é mãe, como se diz. Nem ela, no seu afã de supermãe, me liga CINCO vezes por dia, todo santo dia. O que resta para falar, depois da terceira, quarta ligação? A campanha do Corínthians? Ah, me poupe, vai! Tirando uma improvável relação que extrapole a amizade e dever profissional, simplesmente não há nada que leve duas pessoas a trocarem 122 telefonemas em período tão curto. Principalmente se não existe mais qualquer conexão de chefia entre os dois. Nessa, a Polícia Federal enfiou o garfo no angu, e espetou um naco de carne de bom tamanho. Será que gravaram as conversas? Ora, se gravações ditas sigilosas entre Carlinhos Cachoeira e seus pares chegaram à mídia antes mesmo de chegar ao Ministério Público, é de imaginar que as 122 conversas irão desembocar, cedo ou tarde, nos jornais. Vai ser uma delícia acompanhar.

E por fim, para mostrar que esse prato de angu está mesmo REPLETO de carne, filé, paio, linguiça e torresmo, a tropa de choque da bancada governista no Senado Federal rejeitou, nessa terça-feira, o pedido do Senador Álvaro Dias (PSDB), para que a Rosemary de Noronha fosse ouvida pelo Senado. Montou-se a blindagem de praxe, alegando-se a "inutilidade" da convocação da moça. Esse fato deve ser visto em conjunto com as declarações dela de ontem, nas quais afirmou que "não cairá sozinha". Dona de um temperamento explosivo, a "Mamys" talvez virasse o prato inteiro na cabeça de petistas, revelando a verdadeira festa de Babette que estava debaixo daquele angu. Os parlamentares do PT trataram de botar a tampa na panela, e com isso querem nos convencer que ali, só tem mesmo um angu dos mais chinfrins.

Eu tenho minhas dúvidas.  E você?


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Lula é o Tufão da política?



Há pouco mais de sete anos, um vídeo que mostrava o então diretor dos Correios, indicado por um partido aliado do governo de Lula, recebendo maços de dinheiro vivo, provocou uma reação em cadeia que levaria ao maior escândalo na história da República brasileira, o suborno sistemático de congressistas de outros partidos (e até do próprio PT, quem conhece como funciona a colcha de retalhos ideológica do petismo sabe que ali os interesses pessoais tendem a sobrepujar os partidários) para que seguissem, feitos títeres, os mandamentos emanados do Planalto, nas votações da Câmara dos Deputados. O que se buscava com isso era um golpe contra a democracia, a traição da vontade popular, sob o eufemismo de "governabilidade". Certamente não terá sido a primeira vez que políticos trocam votos por favores pessoais nessa República, mas foi a primeira vez em que isso foi adotado como uma ferramenta contumaz de governo. E, pior, o petismo, àquela altura endividado com os gastos abusivos da campanha eleitoral de 2002, não tinha de onde tirar os recursos para pagar a propina. Como sói acontecer nesses casos, voltaram os olhos cobiçosos para o dinheiro público, o qual foi dilapidado sem cerimônia, para pagar os caraminguás que davam de presente para deputados, e que ganhou o nome de Mensalão. 

O esquema ia bem, até que o vídeo mostrado na TV levou ao escândalo, potencializado pela decisão de um dos beneficiados, o ex-deputado Roberto Jefferson, de não ir a pique sozinho. Ele botou a boca no trombone, e com isso deixou um rastro de evidências e denúncias que, por pouco, não levaram ao impeachment do então Presidente. Só não deu em processo de cassação, por covardia da oposição, temerosa da reação popular diante de uma governo recém-empossado, e que prometia mudar o país, principalmente na questão da pobreza. Em nome de um "respeito" indevido, Lula foi poupado.

Antes disso, porém, o Presidente, já com medo de se ver envolvido no escândalo (que viria a ser mais um dentre muitos de seu governo), inaugurou sua estratégia que se tornaria um favorito nas hostes do petismo: "Eu não sabia de nada". Era uma afirmação difícil de ser levada a sério, pois ele havia sido o principal beneficiado do esquema criminoso e, nas palavras de seu "Primeiro-Ministro" ad hoc, José Dirceu, "nada se fazia no PT sem o conhecimento e aval de Lula". Lula escancarou: foi à TV, e num pronunciamento que hoje é antológico, pediu desculpas à nação pelo mau comportamento de seus correlegionários. Se disse traído, chamou os fatos de "inaceitáveis" e pediu desculpas.  Passados sete anos, há quem duvide disso. Pois o vídeo está aqui, para refrescar a memória:


Já em 2011, com a progressão do caso do Mensalão de um simples escândalo (ora, foram tantos...) para um processo judicial no Supremo Tribunal Federal, com perspectivas concretas de acabar não em pizza, mas em cadeia, principalmente para a cúpula petista comandada por José Dirceu, Lula resolveu mudar o discurso. Esqueceu seu pedido de desculpas, e passou a acusar os acusadores. Surgiu uma versão alucinada de que o Mensalão teria sido uma "farsa", montada pela oposição e pela "mídia golpista" (da qual o mais odiado participante é a Editora Abril e sua revista semanal, a Veja), com o apoio logístico e operacional de um contraventor goiano, o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Não se falou mais naquela confissão e pedido de desculpas de 2005. Era como se Lula agora se confessasse "traído" pelas informações errôneas que teria recebido, dando conta das estrepolias de seus colegas do PT, e agora afirmava que era tudo invenção, uma farsa. Quer dizer, o cidadão primeiro se diz traído, depois muda e se diz traído, não pela "esposa", mas pelo "Ricardão"....  Como se viu depois, pelo resultado do julgamento da AP 470, o Mensalão, essa história de "farsa" não passou mesmo de uma ... farsa! Lula talvez devesse ter voltado à sua versão de 2005, e se confessado traído duplamente, primeiro pelo ato em si, e depois pela negativa do ato, tudo culpa de seus interlocutores no PT.  Não o fez, óbvio, e pelo visto, agora segue firme na nau dos insensatos que questiona o julgamento realizado por uma Suprema Corte da qual mais de metade dos membros foram escolhidos e nomeados por ele mesmo. 

E agora, mais um escândalo, no longo rosário de mutretas levadas a cabo por gente graúda do PT. Como escreveu Reinaldo Azevedo no seu blog, "a cada enxadada, uma minhoca". A Polícia Federal recebeu uma denúncia, foi atrás, e... voilá: mais uma roubalheira, mais uma corrupção em série, mais podridão... mais minhocas. Dessa vez, a secretária responsável pelo escritório da Presidência da República em São Paulo, pessoa de confiança de Lula, tanto que o acompanhou por mais de uma década, tendo sido mantida no cargo pela Dilma por imposição do ex-Presidente, resolveu "tirar o seu", seguindo o exemplo de tantos outros. Cobrava uns trocados aqui, uma viagenzinha acolá, coisas miúdas, para obter pareceres de encomenda de órgãos do governo, como ANA e ANAC, para empresários interessados. Transformou o escritório da Presidência da República Federativa do Brasil, em São Paulo, num free-shop de favores vendidos a preços de ocasião. Poderosa, indicou e conseguiu emplacar nas diretorias de agências reguladores, apadrinhados seus, que muito facilitariam seus negócios. Arrogante, exigia tratamento de "madame".

Descoberta a maracutaia, a moçoila "madame" foi para o olho da rua, e responde a processo, assim como várias pessoas ligadas a ela. Isso pode parecer um ato de eficiência da Presidente Dilma. Não é. Eficiência seria ela nem ter mantido no cargo essa pessoa, tendo por fiador apenas a palavra de Lula que, como se sabe, tem um valor relativo nas horas de crise. Há quem diga que Dilma foi isenta e democrática, ao "permitir" que a Polícia Federal fizesse a investigação! Vejam só a que ponto chegamos! É bem possível que Dilma, quando ainda era Ministra-Chefe da Casa Civil, tenha dado ordens à então-Secretária da Receita Federal, Lina Vieira, para que encerrasse logo a investigação que a SRF conduzia sobre a família Sarney, aliada do governo Lula. Ela nega, a Lina Vieira confirma, ficou uma palavra contra a outra, o assunto morreu. Talvez nunca venhamos a saber a verdade dos fatos. Mas daí a imaginar que ela poderia impedir o trabalho da Polícia Federal, é um despropósito. Seria crime de responsabilidade, e além de tudo, seria inócuo, pois a Polícia Federal não é a KGB do governo - é a Polícia Federal do Brasil, ora bolas.

E onde entra o Tufão nessa história? Afinal de contas, colocamos lá no topo uma charge do Lula empunhando a máscara do chifrudo mais célebre da televisão brasileira...

Ao tomar conhecimento do (novo) escândalo, agora envolvendo sua apadrinhada Rosemary Noronha, quando chegou de seu périplo à Índia em busca do Prêmio Nobel (!!!), Lula novamente recorreu ao paradigma do marido traído, ao pegar a companheira no pulo: "Eu me senti apunhalado pelas costas".  Ou seja, o eterno desavisado leva mais uma rasteira de suas pessoas de confiança, e, mais uma vez, "não sabia de nada".

É possível que ele não soubesse mesmo. Afinal de contas, é corrupção de varejo. 

Mas... vai gostar de levar uma "facada nas costas" assim, lá em Mumbai, Lula! Desse jeito, sendo sempre o último a saber das coisas, o que o senhor me passa é uma terrível impressão de que não tem a menor noção de recrutamento de pessoal, e escolha de amizades!

Isto é, claro, se ele não chegar na TV daqui a uns anos e afirmar que foi tudo armação da Veja, não é?

PS: A Rosemary Noronha mandou avisar que "não afundará sozinha".  Foi montada uma operação especial do PT para "acalmar" a moça. Como conseguirão esse feito, não sei. Mas torço para que não consigam. Se ela decidir mesmo que vai naufragar agarrada a uns e outros, podem surgir dali coisas interessantes. Principalmente sobre a real utilidade do tal "Escritório da Presidência" em São Paulo. É aguardar e torcer.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Os vizinhos e as pedras


Conforme escrevi há tempos, a violência no Oriente Médio segue num crescendo, com desfecho bastante previsível. Ainda não chegou o momento de Israel buscar conter o projeto bélico iraniano por seus próprios meios, face a passividade do resto do mundo perante essa ameaça. O Irã quer a bomba, está trabalhando para tê-la, a terá - e a usará, sem sombra de dúvida. Até hoje, a posse de armas nucleares sempre foi mais uma questão de showbiz do que de ação real. Quem tem, nem cogita de usar, mas usufrui do status de "potência nuclear" que sua posse confere. E a usa como escudo contra possíveis agressores. Assim é no caso do conflito India-Paquistão - ambas possuem ogivas nucleares, ambas adoram anunciar isso, numa espécie de aviso-prévio: "Não se meta comigo!". Mas ninguém de qualquer lado da fronteira cogita de lançar uma bomba atômica no quintal do vizinho, por causa de uma ou dez Caxemiras. O custo simplesmente é proibitivo - e resta um pouco de bom-senso na cachola dessa gente. 

Já no caso do Irã a história é diferente. Os aiatolás professam um dos paradigmas mais caros aos radicais islâmicos: "Israel é uma abominação, e deve ser exterminado". Não "derrotado", não "obrigado a fazer concessões", nem mesmo expulso dos territórios ocupados. "Exterminado". Uns ainda tentam dourar essa pílula, dizendo que não precisa exterminar Israel, basta que o país "deixe de existir". O que, convenhamos, é a mesma coisa. Ou alguém acha que os israelenses irão se espalhar pelo mundo de novo, em diáspora? O que impede o Irã e seus financiados do terror pelo mundo de acabar com Israel não é a falta de vontade nem a determinação para levar a cabo a tarefa, e sim a falta de meios para realizá-la. Israel já deu provas incontestes que não pode ser vencido pelo terror, muito menos por uma guerra convencional. Cercado por inimigos, o país aprendeu da maneira mais dura o risco que significa não investir na sua proteção. E aprendeu também que não se pode confiar na eventual boa-vontade de um ou outro interlocutor do lado de lá. Para cada islamita bem-intencionado, que busca a paz, existem cem outros que sonham com a possibilidade de matar judeus. Agora imagine uma bomba nuclear em mãos iranianas. Eles acabam de admitir que fornecem armamento ao Hamas, grupo terrorista que se ocupa exclusivamente de executar atentados contra civis israelenses. O que impediria Ahmadinejad e sua turma de entregar um artefato nuclear de alguns quilotons ao Hamas, para ser levada a Israel e detonada em alguma grande cidade? Nada! O que inibe essa ação extrema é a determinação de Israel de impedir que o Irã tenha a bomba. Caso o desenvolvimento do know-how atômico dos iranianos não seja coibido pelas sanções da comunidade internacional, Israel agirá. Já fez isso antes, com o Iraque e a Síria, e não relutará em agir novamente, por mais danos que possa causar em sua imagem internacional. A responsabilidade maior de Israel é com seu povo, não com as manchetes dos jornais. O país tem dado sinais de que sua paciência com o Irã está no fim. Ainda mais agora, com a confissão iraniana daquilo que até as pedras da calçada já sabiam: o arsenal do terror é vendido e financiado pelo governo iraniano. Ou seja, cada cidadão israelense morto pelos Hamas é, na verdade,  vítima de uma guerra que o Irã não tem a coragem de declarar.

Enquanto a ação direta contra o Irã não acontece, Israel tem que lidar com o Hamas, que, municiado pelos aiatolás, já lançou cerca de 12 mil foguetes em direção ao território israelense. Mais de 600 apenas nesse mês de novembro! Os foguetes foram lançado a partir da Faixa de Gaza, que Israel entregou à administração palestina, num esforço para obter a tão-sonhada paz na região. Os mísseis são lançados sem precisão alguma, como se fossem pedras jogadas no quintal do vizinho. Se matar alguém, ótimo. Senão, lança-se outro. E outro.  Israel se defende, alvejando os mísseis com destinos considerados mais danosos, usando para isso um sofisticado e caríssimo sistema de rastreamento e mísseis interceptadores. Tem tido sucesso na tarefa, o que que tem poupado vidas. Como escreveu um respeitado jornalista brasileiro: "Enquanto Israel cria um escudo para proteger seus civis, o Hamas usa seus civis como escudo para proteger a si mesmo". Mas chega uma hora em que a paciência se esgota. Israel resolveu agir ofensivamente. Está deflagrado mais um conflito na região, com suas imagens de horror. No momento, há uma frágil trégua, com cessação das hostilidades. Quanto tempo durará? A experiência nos ensina que, em que pese a vontade israelense de ter uma paz duradoura, a sobrevida da trégua será curta. Atacar Israel é o motivo da existência do Hamas e de outros grupos terroristas, como a Jihad Islâmica. Se tirarem-lhes essa atividade, sobrará o que? 

Tudo isso e lamentável. Os palestinos já poderiam ter seu próprio país há anos. Não tem, porque Israel já viu o que dá deixar esse tipo de vizinho agir livremente. Se conceder a independência a Gaza, no lugar de selar a paz, vai estar dando uma base territorial autônoma para o terror. A cada ataque do Hamas, mais argumentos contra o país palestino. E o ciclo da violência cresce. Quem tem razão? Mesmo concordando que os palestinos devam ter seu país, eu creio enfaticamente que a razão está do lado israelense. Basta que qualquer um se coloque no lugar deles. O que o Brasil faria, se acaso houvesse um território colado ao seu, e que esse lugar fosse usado por um grupo terrorista para lançar foguetes contra uma cidade brasileira, em nome de qualquer ideologia? O que diria o governo brasileiro, se esse grupo tivesse como lema o extermínio do Brasil?  Ora, não é preciso ser adivinho para imaginar o que aconteceria, não é? Para quem duvida que o Islã prega a morte a Israel, basta um vídeo dentre os muitos que existem na internet, com declarações de ideólogos do islamismo. Ou, melhor, basta consultar o Estatuto do Hamas, onde o extermínio de Israel e morte dos judeus é um dos pilares da ideologia do terror. 



Aliás, pelo que se vê, não é só o extermínio de Israel que faria a alegria do mundo islâmico radical. No fundo, eles querem mesmo o extermínio de todo mundo que não seja do lado deles. Estados Unidos, Europa.... e por aí vai.

Então façamos um exercício de imaginação. Imagine que você, leitor, more numa casa, num bairro onde seus vizinhos querem, não só sua casa, mas lhe ver morto. Um dia, numa negociação, você entrega aos vizinhos um terreno, pegado ao seu, que era disputado entre as partes. Os vizinhos instalam lá uma base ofensiva contra sua casa. Todo dia, jogam pedras no seu telhado, esperando acertar um filho teu. Se um filho teu for apanhado andando pela rua sem escolta, os vizinhos vão matá-lo. com certeza. Você já telefonou para a prefeitura (ONU) reclamando. Já ligou também para a polícia (EUA). Não adiantou nada. Um nem atende seu telefonema. O outro diz que está muito ocupado com seus próprios problemas, não vai se meter em briga de vizinho. E as pedras seguem caindo. Lá no vizinho, publica-se um manifesto, afirmando que matar você é dever moral de qualquer vizinho que se preze.

O que você, leitor, faria? Mudar de bairro está fora de cogitação, claro.

Não sei quanto a você, mas eu compraria um revólver. E se as pedras seguissem caindo, é bem capaz de eu, mesmo sendo um amante da paz, ir lá no vizinho  tirar satisfações e, em caso extremo, dar uns tiros.

E você? Aguentaria as pedras, para não parecer rude? Até quando?

Mas esse não é o meu foco de hoje. O que leva a escrever não é o conflito em si, que é cruel como todo conflito armado, mas sim aquilo que eu tenho visto na mídia, entendendo como tal não só o que sai publicado nos jornais, veiculado nas TV's mas também o que rola nas chamadas redes sociais e blogosfera. É um escândalo. A re-edição do trabalho midiático usado pelos nazistas nos anos 30, para preparar o espírito dos alemães para o Holocausto que viria. Existe um bombardeio de inverdades, invencionices e bobagens abissais circulando na internet, e endossado pela mídia, acusando Israel dos maiores horrores imagináveis, nessa sua "guerra de agressão" a Gaza. Já li até um enojante blog de um cidadão, que, pasme, acusa os radicais islâmicos de incompetência, porque se unidos estivessem, seria mais fácil exterminar Israel!!!. E acusa Israel de ser... nazista!!!!  Esse mentecapto ainda recebe guarida para suas sandices num blog que (tenta) ser de "jornalismo"!!!! Vejam aí que pérola:


Agora vejam essa foto:



Essa foto rodou o mundo, nas asas na internet. Foi postada em todas as redes sociais. Foi viral no Facebook. Segundo as informações que a acompanhavam, era a foto de um soldado israelense pisando no peito e apontando sua AK-47 para o rosto de uma criança palestina, em Gaza. As reações foram as esperadas: horror, revolta, declarações de ódio a Israel, xingamentos diversos. Eu estimo que 99% das pessoas que viram, acreditaram na mensagem da foto, e condenaram Israel pela atrocidade.

Mas eu não sou um dos 99%. Me situo, com orgulho, entre os 1% que possuem cabeça para pensar, e não para ser vaca de presépio, muito menos massa de manobra de mentirosos. Fui investigar a foto. E... voilá!

Essa foto foi postada por um sujeito de nome Wesley Muhammad (o que por si só já explica muita coisa, não?). Era parte de uma foto maior (veja abaixo), tirada no Bahrain, em 2009, durante uma apresentação teatral. O uniforme do "soldado" não e das Forças de Defesa de Israel. E a arma, uma AK-47, não é de uso da IDF, sendo, entretanto, a arma de escolha dos... terroristas! Ou seja, a foto é tão legítima quanto uma nota de 3 reais! É MENTIRA!



O pior não é ver esse tipo de contra-informação ganhando ares de veracidade na internet. O pior é ver gente que se diz culta e esclarecida, caindo nessas lorotas, e fomentando um sentimento antissemita que só encontra paralelo no estúpido antiamericanismo que grassa nos países do terceiro mundo com complexo de inferioridade - como o Brasil. Muito embora as filas para obtenção de visto no consulado dos EUA sigam enormes. 

Como qualquer pessoa de bem, eu torço pela paz. Gostaria de ver palestinos, árabes, sírios, libaneses e outros adeptos do islamismo, convivendo lado a lado, pacificamente, com os judeus. Ora, isso acontece em São Paulo, por que não poderia acontecer no resto do mundo? Mas, sinceramente, não tenho esperança de que isso venha a acontecer. Ao contrário de outros denominados "movimentos revolucionários", o terrorismo islâmico não objetiva independência ou liberdade. Objetiva a destruição de um Estado legítimo e democrático, a morte de seus cidadãos, o genocídio. É como o alien de "Independence Day", que, quando perguntado pelo presidente dos EUA interpretado por Bill Pullman sobre o que os humanos poderiam fazer para permitir a co-existência, respondeu: "Sem co-existência. Morram."  Israel possui os meios para impedir a realização do sonho escabroso dos radicais. Negar-lhe o direito a defender-se, usando para isso a mentira exaustivamente repetida, é asqueroso - e inútil.



quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Os cupins do Jardim Botânico



O Jardim Botânico do Rio de Janeiro é uma das mais belas atrações da Cidade Maravilhosa. Arrisco dizer que é a mais bela, infinitamente mais importante do que a estátua fincada no alto do morro do Corcovado. Sua história data da chegada da família imperial portuguesa ao Brasil, em 1808. Dom João VI desapropriou as terras em parte do contorno da Lagoa Rodrigo de Freitas, para ali instalar o "Parque da Aclimação", para aclimatar espécies botânicas vindas do oriente. Dentre as primeiras espécies trazidas estavam as palmeiras trazidas das Ilhas Maurício, que se destacam por seu porte majestoso. São as palmeiras imperiais, que até hoje adornam o parque. Nesses 204 anos de história, o Jardim Botânico ganhou muitas espécies novas, um Instituto de Pesquisa, Museu, Orquidário e Bromeliário reconhecidos mundialmente. Possui ainda uma biblioteca com 66 mil volumes, sendo 3 mil considerados raros. Seus jardins e estufas possuem um acervo de mais de 6.500 espécies vegetais, de todo mundo. É um cartão-postal do Rio de Janeiro, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, desde 1937. Em 1991 a UNESCO deu-lhe status de Reserva da Biosfera.

O parque recebe milhares de visitantes, quase meio milhão por ano, vindos do mundo inteiro para estudar, conhecer, ver as atrações naturais e, claro para respirar um pouco de ar puro e passear em contato com a natureza, por seus 144 hectares, boa parte dos quais  impecavelmente preservados e mantidos. Para tal, cobra uma modica taxa de ingresso, além de contar com recursos do IBAMA, órgão ao qual está subordinado, e também com a generosa contribuição de empresas privadas e estatais, que ajudam a manter essa maravilha ecológica em plena zona sul do Rio de Janeiro, uma área urbana  com o metro quadrado mais caro do planeta.

Há décadas, o Jardim Botânico enfrenta um grave problema. Desde seu início, no século XIX, a administração do parque, num erro que teria graves consequências, permitiu que os funcionários morassem na área do parque, autorizando a construção de casas. Eram poucas, e considerou-se que jamais representariam uma ameaça à integridade do parque. Ledo engano. As poucas famílias, como sói acontecer sempre que o poder público se faz de cego, surdo e mudo, cresceram, se multiplicaram, se apossaram do espaço. Há trinta anos, eram pouco mais de cem. Viraram 300, 400, 500...600. Seiscentas. Uma área considerável do parque foi simplesmente invadida, e as modestas casas viraram um bairro, totalmente ilegal, construído dentro de um espaço que não só é patrimônio público, mas é um monumento tombado. Boa parte das casas estão em área de risco, com perigo de desabamento, no morro. Sucessivos governos foram indiferentes a esse descalabro, valorizando mais os votos que obtinham dos moradores, do que o patrimônio que lhe cabia cuidar. O tempo passou, e surgiram os famosos "direitos adquiridos", através dos quais o moradores se diziam não só habitantes precários, mas verdadeiros donos das terras, num ato de grilagem histórica. Se fosse para remover, a indenização teria que ser pelo preço do metro quadrado na Lagoa, em valores astronômicos. Para evitar o enfrentamento, o governo federal tergiversou, e acabou "deixando para lá". E a comunidade cresceu, e trouxe consigo os problemas típicos de um assentamento sem lei nem normas. O rio Macacos, que corta o parque, foi poluído. áreas do parque viraram estacionamento de carros dos moradores. A violência se fez presente.

Por fim, houve uma reação. A Advocacia-Geral da União, representando o patrimônio público, entrou com Ação de Reintegração de Posse, que transitou em julgado e teve sentença favorável à remoção dos invasores. Mas... a reintegração nunca foi executada. Sob o comando do PT, até mesmo o diretor-geral do parque admitiu entregar, de mão-beijada, parte do patrimônio aos invasores: "Como parte dos imóveis não é de interesse do Jardim Botânico, estamos dispostos a fazer concessões".  A Secretaria de Patrimônio da União, que, a princípio e por princípio, deveria lutar pela preservação do espaço público, lançou se na Justiça para barrar as mais de 200 ações impetradas pela AGU, já julgadas em última instância, e que ordenavam a desocupação. Distribuiu-se um "documento" às famílias com a afirmação de que  a área invadida "está em processo de regulamentação fundiária", algo tão descabido quanto ilegal. Chegaram a pensar em transformar a área em quilombo, como se lá tivesse sido um quilombo em algum momento da história. Imagine se poderia haver um quilombo a menos de cinco quilômetros da Quinta da Boa Vista, palácio do Imperador?  A justificativa da SPU é um espanto. "É nossa função social destinar terras públicas às famílias carentes", disse a responsável no SPU pelo imbróglio. Era o proselitismo político petista, como sempre lesivo aos interesses do Brasil.

Em 2011, enfim, houve progressos. A Associação dos Moradores e Amigos do Jardim Botânico, entidade civil que agrega pessoas que querem ver o parque cumprindo sua verdadeira função, denunciou a ação deletéria do SPU ao Tribunal de Contas da União, como lesiva aos cofres públicos. A ação foi julgada procedente, e portanto os invasores tem que sair. Mas quem os obrigará a tanto? 

Enfim, é uma briga judicial que, aparentemente, está longe do fim. Enquanto isso, as construções seguem se multiplicando, ocupando cada vez mais o espaço que deveria ser de todos, mas que vem sendo privatizado com a complacência dos ineptos e mal-intencionados.

A esse respeito, cabe aqui mostrar um vídeo de uma sessão da Câmara dos Deputados em Brasília, com o discurso do Deputado Edson Santos, do PT (por que será que eu não fico surpreso com esse fato?) No discurso, o deputado, que já morou na área invadida, e tem a irmã como presidente da associação dos invasores, defende, pura e simplesmente, a inutilidade do Jardim Botânico. Afirma textualmente que o Rio já tem parque demais, e que o Jardim Botânico quer ser um novo "Central Park". Por ele, arrancavam-se as palmeiras imperiais, os jardins, o Museu e demais preciosidades que fazem parque do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e plantava-se lá uma favela, talvez porque, na visão do "representante do povo", uma boa favela é mais proveitosa do que um parque de inestimável valor ambiental, urbanístico e cultural.  Certamente é para a família do deputado, que mora lá, e para ele mesmo, que obtém seus votos por lá.  Confiram aí o discurso. É de lascar. 



E ainda tem gente que vota nesse tipo de político? 

Excessos à parte....


A "guerra" pela prefeitura de São Paulo, maior e mais rico município brasileiro, está acirrada. São bombardeios verbais disparados de lado a lado, com acusações que, se fossem para ser levadas a sério, seriam casos de delegacia, e não de eleição.

De um lado, José Serra, que já foi prefeito, já foi governador, já foi ministro em mais de uma pasta. Um sujeito em quem eu nunca votaria, há vinte ou trinta anos, por causa de sua militância de esquerda. Como muitos sabem, eu fui a favor da Revolução de 64, e via nos generais um progresso que estancou quando eles entregaram o poder. Claro que o tempo passou, e a minha visão mudou. Ainda tenho profundo respeito por gente da estirpe de Humberto Castello Branco, Golbery do Couto e Silva e Ernesto Geisel, mas concordo que o tempo em que os "milicos" poderiam governar jaz num passado distante, e que não desejaria reviver - no que eu discordo frontalmente de alguns membros da chamada "direita", que sonham com isso. Não, eu não quero a volta da turma do quepe. Não admito perder um milímetro da liberdade que me foi outorgada pela redemocratização (sim, porque ela veio de graça, dizer que a liberdade foi "conquistada" no Brasil é mais uma afronta à verdade dos fatos). Quero falar o que quiser, quero escrever meus textos, quero ler o que me der na veneta, quero ter direitos básicos que, de modo geral, tanto a direita como a esquerda radicais tendem a suprimir. Mas isso é assunto para outra postagem, sobre "liberdade de imprensa" que postarei essa semana, se os afazeres profissionais permitirem.  Volto a José Serra. Passei a nutrir simpatia pelo "feio" quando ele, ao lado de Fernando Henrique Cardoso, cuidou do processo de desestatização de estatais, pelos idos de 1996. Eu sempre abominei esse conceito keynesiano de que o Estado é o motor da economia. Isso foi muito mal interpretado pelos governantes, que acham que o Estado tem que SER a economia. É um entulho marxista. Quanto mais o Estado se mete a ser empresário, menos eficaz ele se torna naquilo que é sua obrigação primeira: governar. Seria muitíssimo mais confortável se FHC e Serra tivessem deixado as estatais, paquidermes ineficazes, quietas. Ainda teríamos fila de espera para comprar (!!!) uma linha telefônica, celular seria para gente rica... Mas, em compensação, seríamos "donos" da Vale, certo? Grande coisa. Ser "dono" da Vale não me ajuda em muita coisa, objetivamente falando. Ela não me pagava dividendos de cidadão, assim como não me paga dividendos de acionista (porque eu não sou, ora bolas!). Epa, divaguei de novo. Serra. O Serra, ao optar pelo caminho mais pedregoso de enfrentar tanto a direita nacionalista saudosista (e ela existe, não tenham dúvida) quanto a esquerda burra e estatizante, ganhou meu respeito. Ganhou um pouco mais quando, na função de ministro da Saúde, enfrentou as multinacionais farmacêuticas com argumentos humanistas no lugar de bravatas, e conseguiu criar no Brasil uma florescente indústria de medicamentos genéricos, que retiram da etiqueta de preço o duvidoso benefício da "marca" (como se essa valesse um tostão furado para quem precisa de remédio). Fez isso com maestria científica e fiscalização eficaz, resultando em benefícios que nem mesmo o mais hidrófobo dos petistas ousa contestar. Foi um bom ministro do Planejamento, e foi melhor ministro da Saúde. Por fim, no comando de São Paulo, iniciou o processo de saneamento financeiro do município, após a desastrosa gestão da petista Marta Suplicy, aquela que tentava compensar a esculhambação financeira com as notórias "taxas". Entregou a prefeitura antes da hora, atendendo a uma convocação do seu partido, que via o risco de um governo petista do estado. Foi eleito, e o povo da cidade de São Paulo lhe deu essa vitória, mesmo ele tendo deixado a prefeitura prematuramente. Se Serra não tivesse se candidatado ao governo, teríamos um Mercadante no governo, o que seria, bem... seria a extensão daquilo que estamos vendo no plano nacional, para o estadual. Me dá calafrios. José Serra já se provou como administrador. Eticamente, não tenho reparos a fazer. Quem o acusa disso e daquilo, até hoje, apesar da gravidade das acusações, não conseguiu com que o Ministério Público Federal, sempre à cata de suspeitos de escândalos, abrisse sequer um inquérito. Fala-se em "Privataria Tucana", baseado num livro ridículo de um autor mais ridículo ainda, mas nem mesmo no livro há acusações contra o Serra (se houvesse, o autor teria que provar as acusações na Justiça, e se não obtivesse êxito, isso lhe renderia cadeia, segundo o nosso Código Penal). O autor negou, em juízo, que acusasse Serra ou sua família de alguma coisa. Então qual o valor de um livro desses? Insinua, mas não acusa. É apenas um exemplo mal-enjambrado de péssimo jornalismo. O fato de ter sido promovido pela CartaCapital já dá o tom de sua confiabilidade. Lixo. Serra segue morando na mesma casa do Alto de Pinheiros, não se fala de fazendas de soja compradas em nome de laranjas, não se vê o sujeito em altas badalações parisienses, nem em listas de fortunas. É um tecnocrata, sem dúvida. Não tem lá muito traquejo político, falta-lhe o fogo nas ventas para eletrizar plateias. Tudo bem - eu quero um administrador, não um fanfarrão.

Do outro lado, Fernando Haddad. Rapaz novo, prata da casa do PT. Bacharel em Direito, mestrado em Economia, doutorado em... Filosofia. Sua tese de mestrado foi sobre, vejamos... "O caráter sócio-econômico do sistema soviético". Hein? Foi analista de investimentos do Unibanco. Professor da USP. Subsecretário de Finanças da... Marta.....  Ex-ministro da Educação de Lula e Dilma. Algum cargo eletivo? Não. Já teve alguma função executiva, além do de ministro da Educação? Não.  

Pois muito bem. Nessa campanha, ambos os lados estão pegando pesado nas acusações. Muitos exageros tem sido cometidos, tanto de um lado quanto de outro. Alguns bons exemplos são a acusação de apoio à homofobia, a privataria, supostos roubos em obras em São Paulo, até racismo (contra Serra), e incentivo ao homossexualismo ("Kit Gay"), fraudes no ENEM, quebra das finanças da prefeitura de SP, uso de aviões do governo para fins particulares e o Mensalão (contra Haddad).

Creio que haja uma boa dose de exageros de parte a parte. Em alguns casos, mentiras descaradas. Já falei da "privataria". As outras acusações anti-Serra são mais cômicas do que danosas. Houve um blogueiro patético que o acusou de "Tentar transformar São Paulo na Capital da Homofobia"., como se Serra andasse por aí pregando que se deveria dar bordoada em gays. As insinuações de desvios nas obras do Rodoanel, tão espalhafatosamente anunciadas por integrantes da CPMI do Cachoeira, sumiram como por  encanto, após o depoimento do ex-diretor da DERSA à comissão. Pegaram um vídeo de uma entrevista de Serra à TV, explicando que as notas baixas na avaliação do ensino básico em São Paulo (ainda assim, as melhores do país) se devem, em parte, à maciça imigração para o estado, de pessoas com nível de escolaridade baixo. Uma constatação óbvia, por sinal. Pronto! Usaram isso para acusar Serra de "racista", como se ele tivesse decretado que o imigrante tivesse uma capacidade intrínseca de aprendizado inferior. NÃO! Isso é delinquência argumentativa! 

É preciso dar às acusações sua verdadeira dimensão. Assim como Serra nunca defendeu homofobia, muito menos racismo, Haddad também não foi o autor do absurdo "kit gay" que seria distribuído aos alunos do ensino fundamental. Isso é obra de algum obscuro "chefe" de departamento, de conceitos tão idiotas quanto enviesados, que resolveu pegar uma ideia teoricamente louvável (de divulgar às crianças o conceito de tolerância e aceitação das diferenças) e fazer disso um carnaval. Esse (ir)responsável entregou a execução do projeto, não a educadores, como seria de se esperar, mas a ONG's de ... ativistas gays! Gente que não só defende o modo de vida homossexual (até aí, ótimo, cada um na sua, não é?), como tenta nos convencer de que ele é "superior" ao "ultrapassado" heterossexualismo. Os vídeos da infame cartilha mostram isso além de qualquer contestação. Ser homossexual é "bom", e ser bissexual (eu duvido da existência disso, aliás) é ... vejamos... "50% melhor" (os ativistas fariam bem se voltassem às aulas de aritmética). Haddad teve responsabilidade no episódio, que custou R$ 800 mil ao contribuinte? SIM! Não porque tenha "feito" o kit-gay, mas porque deixou de impedir que ele saísse daquela forma, na função de chefe do ministério. Coube à Dilma, atendendo à gritaria dos que tiveram acesso ao material, vetar sua distribuição. Haddad foi, como ministro da Educação, mero passageiro dos fatos. Para mim, ele não é "culpado" pela besteira. É apenas um incompetente. E o ENEM? Segue o mesmíssimo raciocínio: Haddad tinha diretores que estavam encarregados do processo (louvável, por sinal). Eles "pisaram na bola". Ok, isso acontece nas melhores famílias, como se diz. Uma vez. Houve a segunda tentativa. Nova fraude, mesmo erros. Aí já é caso de demitir gente, não é? Haddad seguiu do mesmo jeito. "Na próxima a gente acerta".  Aí veio a próxima, e... fraude de novo! Mas que coisa!! Leva a mal não, Haddad, mas aí é contigo. Três fracassos é pra demitir Ministro, lamento. Mas o moço deu uma explicação: "Ah, não tem como evitar, o Brasil é muito grande, sabem como é..."  Não eu não "sei como é". Sei que quem não consegue corrigir uma simples falha de segurança numa prova de segundo grau, não merece "passar" em prova alguma. É má-fé? Não. É incompetência? Sem dúvida. E para piorar, houve maracutaia até na contratação das empresas que iriam "sanear" o processo!!! Ah, tem dó, Haddad!

O mensalão se aplica a Haddad? Não. Pelo menos não diretamente. Ele nunca foi sequer mencionado no escândalo. Deve-se abolir a menção ao Mensalão na campanha, então? Também não! Haddad é um candidato do PT. Mais do que isso, é um candidato tirado do bolso do colete de Lula. E o projeto político do PT e de Lula é conhecidíssimo: estabelecer uma hegemonia duradoura do petismo no Brasil todo, esmagando a oposição, a imprensa, o Judiciário e qualquer pessoa ou entidade que se atreva a enfrentá-los. É uma cópia fiel daquilo que vem sendo implantado na Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina... uma "cubanização" sob o nome pomposo de "socialismo", seja bolivariano, seja peronista. Os cubanos desistiram de implantar seu modelito pela via das armas, apelaram para o populismo rasteiro, tão caro aos latino-americanos. Resta ver se conseguem implantar o sistema no continente todo, antes que caia aos pedaços por conta do fracasso econômico, mas isso é outra história. O PT tem um projeto para o Brasil, e algo me diz que ele passa longe daquilo que eu concebo como "democracia". Até hoje, o Brasil que tem resistido aos avanços do lulopetismo é justamente a região mais desenvolvida do sudeste e centro-oeste, como os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e Goiás, que respondem por quase 80% do PIB nacional. O PT sabe que não comandará o Brasil, se não comandar São Paulo. E o partido fará tudo para atingir esse objetivo. Haddad faz parte disso, é uma ponta-de-lança do petismo à moda Lula, no coração de São Paulo. Ora, pela defesa intransigente que o PT fez e faz dos criminosos da Ação Penal 470 (Mensalão), o partido se incorpora aos mesmos, e é tão réu quanto eles. Haddad pode não ter nada a ver com Mensalão, mas cumpre o projeto de poder de um grupo que está enrolado até os fios das barbas no escândalo. Imaginar que seus adversários deixem de usar isso na luta para impedir a tomada de São Paulo, é ingenuidade.

Tirando então as acusações descabidas de moralidade e ética, a questão se resume, mesmo, a uma diferença de COMPETÊNCIA.  Esse deve ser o divisor de águas na eleição. A meu ver, Serra tem. Haddad não. O resto é lero-lero.