quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Os cupins do Jardim Botânico



O Jardim Botânico do Rio de Janeiro é uma das mais belas atrações da Cidade Maravilhosa. Arrisco dizer que é a mais bela, infinitamente mais importante do que a estátua fincada no alto do morro do Corcovado. Sua história data da chegada da família imperial portuguesa ao Brasil, em 1808. Dom João VI desapropriou as terras em parte do contorno da Lagoa Rodrigo de Freitas, para ali instalar o "Parque da Aclimação", para aclimatar espécies botânicas vindas do oriente. Dentre as primeiras espécies trazidas estavam as palmeiras trazidas das Ilhas Maurício, que se destacam por seu porte majestoso. São as palmeiras imperiais, que até hoje adornam o parque. Nesses 204 anos de história, o Jardim Botânico ganhou muitas espécies novas, um Instituto de Pesquisa, Museu, Orquidário e Bromeliário reconhecidos mundialmente. Possui ainda uma biblioteca com 66 mil volumes, sendo 3 mil considerados raros. Seus jardins e estufas possuem um acervo de mais de 6.500 espécies vegetais, de todo mundo. É um cartão-postal do Rio de Janeiro, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, desde 1937. Em 1991 a UNESCO deu-lhe status de Reserva da Biosfera.

O parque recebe milhares de visitantes, quase meio milhão por ano, vindos do mundo inteiro para estudar, conhecer, ver as atrações naturais e, claro para respirar um pouco de ar puro e passear em contato com a natureza, por seus 144 hectares, boa parte dos quais  impecavelmente preservados e mantidos. Para tal, cobra uma modica taxa de ingresso, além de contar com recursos do IBAMA, órgão ao qual está subordinado, e também com a generosa contribuição de empresas privadas e estatais, que ajudam a manter essa maravilha ecológica em plena zona sul do Rio de Janeiro, uma área urbana  com o metro quadrado mais caro do planeta.

Há décadas, o Jardim Botânico enfrenta um grave problema. Desde seu início, no século XIX, a administração do parque, num erro que teria graves consequências, permitiu que os funcionários morassem na área do parque, autorizando a construção de casas. Eram poucas, e considerou-se que jamais representariam uma ameaça à integridade do parque. Ledo engano. As poucas famílias, como sói acontecer sempre que o poder público se faz de cego, surdo e mudo, cresceram, se multiplicaram, se apossaram do espaço. Há trinta anos, eram pouco mais de cem. Viraram 300, 400, 500...600. Seiscentas. Uma área considerável do parque foi simplesmente invadida, e as modestas casas viraram um bairro, totalmente ilegal, construído dentro de um espaço que não só é patrimônio público, mas é um monumento tombado. Boa parte das casas estão em área de risco, com perigo de desabamento, no morro. Sucessivos governos foram indiferentes a esse descalabro, valorizando mais os votos que obtinham dos moradores, do que o patrimônio que lhe cabia cuidar. O tempo passou, e surgiram os famosos "direitos adquiridos", através dos quais o moradores se diziam não só habitantes precários, mas verdadeiros donos das terras, num ato de grilagem histórica. Se fosse para remover, a indenização teria que ser pelo preço do metro quadrado na Lagoa, em valores astronômicos. Para evitar o enfrentamento, o governo federal tergiversou, e acabou "deixando para lá". E a comunidade cresceu, e trouxe consigo os problemas típicos de um assentamento sem lei nem normas. O rio Macacos, que corta o parque, foi poluído. áreas do parque viraram estacionamento de carros dos moradores. A violência se fez presente.

Por fim, houve uma reação. A Advocacia-Geral da União, representando o patrimônio público, entrou com Ação de Reintegração de Posse, que transitou em julgado e teve sentença favorável à remoção dos invasores. Mas... a reintegração nunca foi executada. Sob o comando do PT, até mesmo o diretor-geral do parque admitiu entregar, de mão-beijada, parte do patrimônio aos invasores: "Como parte dos imóveis não é de interesse do Jardim Botânico, estamos dispostos a fazer concessões".  A Secretaria de Patrimônio da União, que, a princípio e por princípio, deveria lutar pela preservação do espaço público, lançou se na Justiça para barrar as mais de 200 ações impetradas pela AGU, já julgadas em última instância, e que ordenavam a desocupação. Distribuiu-se um "documento" às famílias com a afirmação de que  a área invadida "está em processo de regulamentação fundiária", algo tão descabido quanto ilegal. Chegaram a pensar em transformar a área em quilombo, como se lá tivesse sido um quilombo em algum momento da história. Imagine se poderia haver um quilombo a menos de cinco quilômetros da Quinta da Boa Vista, palácio do Imperador?  A justificativa da SPU é um espanto. "É nossa função social destinar terras públicas às famílias carentes", disse a responsável no SPU pelo imbróglio. Era o proselitismo político petista, como sempre lesivo aos interesses do Brasil.

Em 2011, enfim, houve progressos. A Associação dos Moradores e Amigos do Jardim Botânico, entidade civil que agrega pessoas que querem ver o parque cumprindo sua verdadeira função, denunciou a ação deletéria do SPU ao Tribunal de Contas da União, como lesiva aos cofres públicos. A ação foi julgada procedente, e portanto os invasores tem que sair. Mas quem os obrigará a tanto? 

Enfim, é uma briga judicial que, aparentemente, está longe do fim. Enquanto isso, as construções seguem se multiplicando, ocupando cada vez mais o espaço que deveria ser de todos, mas que vem sendo privatizado com a complacência dos ineptos e mal-intencionados.

A esse respeito, cabe aqui mostrar um vídeo de uma sessão da Câmara dos Deputados em Brasília, com o discurso do Deputado Edson Santos, do PT (por que será que eu não fico surpreso com esse fato?) No discurso, o deputado, que já morou na área invadida, e tem a irmã como presidente da associação dos invasores, defende, pura e simplesmente, a inutilidade do Jardim Botânico. Afirma textualmente que o Rio já tem parque demais, e que o Jardim Botânico quer ser um novo "Central Park". Por ele, arrancavam-se as palmeiras imperiais, os jardins, o Museu e demais preciosidades que fazem parque do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e plantava-se lá uma favela, talvez porque, na visão do "representante do povo", uma boa favela é mais proveitosa do que um parque de inestimável valor ambiental, urbanístico e cultural.  Certamente é para a família do deputado, que mora lá, e para ele mesmo, que obtém seus votos por lá.  Confiram aí o discurso. É de lascar. 



E ainda tem gente que vota nesse tipo de político? 

Excessos à parte....


A "guerra" pela prefeitura de São Paulo, maior e mais rico município brasileiro, está acirrada. São bombardeios verbais disparados de lado a lado, com acusações que, se fossem para ser levadas a sério, seriam casos de delegacia, e não de eleição.

De um lado, José Serra, que já foi prefeito, já foi governador, já foi ministro em mais de uma pasta. Um sujeito em quem eu nunca votaria, há vinte ou trinta anos, por causa de sua militância de esquerda. Como muitos sabem, eu fui a favor da Revolução de 64, e via nos generais um progresso que estancou quando eles entregaram o poder. Claro que o tempo passou, e a minha visão mudou. Ainda tenho profundo respeito por gente da estirpe de Humberto Castello Branco, Golbery do Couto e Silva e Ernesto Geisel, mas concordo que o tempo em que os "milicos" poderiam governar jaz num passado distante, e que não desejaria reviver - no que eu discordo frontalmente de alguns membros da chamada "direita", que sonham com isso. Não, eu não quero a volta da turma do quepe. Não admito perder um milímetro da liberdade que me foi outorgada pela redemocratização (sim, porque ela veio de graça, dizer que a liberdade foi "conquistada" no Brasil é mais uma afronta à verdade dos fatos). Quero falar o que quiser, quero escrever meus textos, quero ler o que me der na veneta, quero ter direitos básicos que, de modo geral, tanto a direita como a esquerda radicais tendem a suprimir. Mas isso é assunto para outra postagem, sobre "liberdade de imprensa" que postarei essa semana, se os afazeres profissionais permitirem.  Volto a José Serra. Passei a nutrir simpatia pelo "feio" quando ele, ao lado de Fernando Henrique Cardoso, cuidou do processo de desestatização de estatais, pelos idos de 1996. Eu sempre abominei esse conceito keynesiano de que o Estado é o motor da economia. Isso foi muito mal interpretado pelos governantes, que acham que o Estado tem que SER a economia. É um entulho marxista. Quanto mais o Estado se mete a ser empresário, menos eficaz ele se torna naquilo que é sua obrigação primeira: governar. Seria muitíssimo mais confortável se FHC e Serra tivessem deixado as estatais, paquidermes ineficazes, quietas. Ainda teríamos fila de espera para comprar (!!!) uma linha telefônica, celular seria para gente rica... Mas, em compensação, seríamos "donos" da Vale, certo? Grande coisa. Ser "dono" da Vale não me ajuda em muita coisa, objetivamente falando. Ela não me pagava dividendos de cidadão, assim como não me paga dividendos de acionista (porque eu não sou, ora bolas!). Epa, divaguei de novo. Serra. O Serra, ao optar pelo caminho mais pedregoso de enfrentar tanto a direita nacionalista saudosista (e ela existe, não tenham dúvida) quanto a esquerda burra e estatizante, ganhou meu respeito. Ganhou um pouco mais quando, na função de ministro da Saúde, enfrentou as multinacionais farmacêuticas com argumentos humanistas no lugar de bravatas, e conseguiu criar no Brasil uma florescente indústria de medicamentos genéricos, que retiram da etiqueta de preço o duvidoso benefício da "marca" (como se essa valesse um tostão furado para quem precisa de remédio). Fez isso com maestria científica e fiscalização eficaz, resultando em benefícios que nem mesmo o mais hidrófobo dos petistas ousa contestar. Foi um bom ministro do Planejamento, e foi melhor ministro da Saúde. Por fim, no comando de São Paulo, iniciou o processo de saneamento financeiro do município, após a desastrosa gestão da petista Marta Suplicy, aquela que tentava compensar a esculhambação financeira com as notórias "taxas". Entregou a prefeitura antes da hora, atendendo a uma convocação do seu partido, que via o risco de um governo petista do estado. Foi eleito, e o povo da cidade de São Paulo lhe deu essa vitória, mesmo ele tendo deixado a prefeitura prematuramente. Se Serra não tivesse se candidatado ao governo, teríamos um Mercadante no governo, o que seria, bem... seria a extensão daquilo que estamos vendo no plano nacional, para o estadual. Me dá calafrios. José Serra já se provou como administrador. Eticamente, não tenho reparos a fazer. Quem o acusa disso e daquilo, até hoje, apesar da gravidade das acusações, não conseguiu com que o Ministério Público Federal, sempre à cata de suspeitos de escândalos, abrisse sequer um inquérito. Fala-se em "Privataria Tucana", baseado num livro ridículo de um autor mais ridículo ainda, mas nem mesmo no livro há acusações contra o Serra (se houvesse, o autor teria que provar as acusações na Justiça, e se não obtivesse êxito, isso lhe renderia cadeia, segundo o nosso Código Penal). O autor negou, em juízo, que acusasse Serra ou sua família de alguma coisa. Então qual o valor de um livro desses? Insinua, mas não acusa. É apenas um exemplo mal-enjambrado de péssimo jornalismo. O fato de ter sido promovido pela CartaCapital já dá o tom de sua confiabilidade. Lixo. Serra segue morando na mesma casa do Alto de Pinheiros, não se fala de fazendas de soja compradas em nome de laranjas, não se vê o sujeito em altas badalações parisienses, nem em listas de fortunas. É um tecnocrata, sem dúvida. Não tem lá muito traquejo político, falta-lhe o fogo nas ventas para eletrizar plateias. Tudo bem - eu quero um administrador, não um fanfarrão.

Do outro lado, Fernando Haddad. Rapaz novo, prata da casa do PT. Bacharel em Direito, mestrado em Economia, doutorado em... Filosofia. Sua tese de mestrado foi sobre, vejamos... "O caráter sócio-econômico do sistema soviético". Hein? Foi analista de investimentos do Unibanco. Professor da USP. Subsecretário de Finanças da... Marta.....  Ex-ministro da Educação de Lula e Dilma. Algum cargo eletivo? Não. Já teve alguma função executiva, além do de ministro da Educação? Não.  

Pois muito bem. Nessa campanha, ambos os lados estão pegando pesado nas acusações. Muitos exageros tem sido cometidos, tanto de um lado quanto de outro. Alguns bons exemplos são a acusação de apoio à homofobia, a privataria, supostos roubos em obras em São Paulo, até racismo (contra Serra), e incentivo ao homossexualismo ("Kit Gay"), fraudes no ENEM, quebra das finanças da prefeitura de SP, uso de aviões do governo para fins particulares e o Mensalão (contra Haddad).

Creio que haja uma boa dose de exageros de parte a parte. Em alguns casos, mentiras descaradas. Já falei da "privataria". As outras acusações anti-Serra são mais cômicas do que danosas. Houve um blogueiro patético que o acusou de "Tentar transformar São Paulo na Capital da Homofobia"., como se Serra andasse por aí pregando que se deveria dar bordoada em gays. As insinuações de desvios nas obras do Rodoanel, tão espalhafatosamente anunciadas por integrantes da CPMI do Cachoeira, sumiram como por  encanto, após o depoimento do ex-diretor da DERSA à comissão. Pegaram um vídeo de uma entrevista de Serra à TV, explicando que as notas baixas na avaliação do ensino básico em São Paulo (ainda assim, as melhores do país) se devem, em parte, à maciça imigração para o estado, de pessoas com nível de escolaridade baixo. Uma constatação óbvia, por sinal. Pronto! Usaram isso para acusar Serra de "racista", como se ele tivesse decretado que o imigrante tivesse uma capacidade intrínseca de aprendizado inferior. NÃO! Isso é delinquência argumentativa! 

É preciso dar às acusações sua verdadeira dimensão. Assim como Serra nunca defendeu homofobia, muito menos racismo, Haddad também não foi o autor do absurdo "kit gay" que seria distribuído aos alunos do ensino fundamental. Isso é obra de algum obscuro "chefe" de departamento, de conceitos tão idiotas quanto enviesados, que resolveu pegar uma ideia teoricamente louvável (de divulgar às crianças o conceito de tolerância e aceitação das diferenças) e fazer disso um carnaval. Esse (ir)responsável entregou a execução do projeto, não a educadores, como seria de se esperar, mas a ONG's de ... ativistas gays! Gente que não só defende o modo de vida homossexual (até aí, ótimo, cada um na sua, não é?), como tenta nos convencer de que ele é "superior" ao "ultrapassado" heterossexualismo. Os vídeos da infame cartilha mostram isso além de qualquer contestação. Ser homossexual é "bom", e ser bissexual (eu duvido da existência disso, aliás) é ... vejamos... "50% melhor" (os ativistas fariam bem se voltassem às aulas de aritmética). Haddad teve responsabilidade no episódio, que custou R$ 800 mil ao contribuinte? SIM! Não porque tenha "feito" o kit-gay, mas porque deixou de impedir que ele saísse daquela forma, na função de chefe do ministério. Coube à Dilma, atendendo à gritaria dos que tiveram acesso ao material, vetar sua distribuição. Haddad foi, como ministro da Educação, mero passageiro dos fatos. Para mim, ele não é "culpado" pela besteira. É apenas um incompetente. E o ENEM? Segue o mesmíssimo raciocínio: Haddad tinha diretores que estavam encarregados do processo (louvável, por sinal). Eles "pisaram na bola". Ok, isso acontece nas melhores famílias, como se diz. Uma vez. Houve a segunda tentativa. Nova fraude, mesmo erros. Aí já é caso de demitir gente, não é? Haddad seguiu do mesmo jeito. "Na próxima a gente acerta".  Aí veio a próxima, e... fraude de novo! Mas que coisa!! Leva a mal não, Haddad, mas aí é contigo. Três fracassos é pra demitir Ministro, lamento. Mas o moço deu uma explicação: "Ah, não tem como evitar, o Brasil é muito grande, sabem como é..."  Não eu não "sei como é". Sei que quem não consegue corrigir uma simples falha de segurança numa prova de segundo grau, não merece "passar" em prova alguma. É má-fé? Não. É incompetência? Sem dúvida. E para piorar, houve maracutaia até na contratação das empresas que iriam "sanear" o processo!!! Ah, tem dó, Haddad!

O mensalão se aplica a Haddad? Não. Pelo menos não diretamente. Ele nunca foi sequer mencionado no escândalo. Deve-se abolir a menção ao Mensalão na campanha, então? Também não! Haddad é um candidato do PT. Mais do que isso, é um candidato tirado do bolso do colete de Lula. E o projeto político do PT e de Lula é conhecidíssimo: estabelecer uma hegemonia duradoura do petismo no Brasil todo, esmagando a oposição, a imprensa, o Judiciário e qualquer pessoa ou entidade que se atreva a enfrentá-los. É uma cópia fiel daquilo que vem sendo implantado na Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina... uma "cubanização" sob o nome pomposo de "socialismo", seja bolivariano, seja peronista. Os cubanos desistiram de implantar seu modelito pela via das armas, apelaram para o populismo rasteiro, tão caro aos latino-americanos. Resta ver se conseguem implantar o sistema no continente todo, antes que caia aos pedaços por conta do fracasso econômico, mas isso é outra história. O PT tem um projeto para o Brasil, e algo me diz que ele passa longe daquilo que eu concebo como "democracia". Até hoje, o Brasil que tem resistido aos avanços do lulopetismo é justamente a região mais desenvolvida do sudeste e centro-oeste, como os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e Goiás, que respondem por quase 80% do PIB nacional. O PT sabe que não comandará o Brasil, se não comandar São Paulo. E o partido fará tudo para atingir esse objetivo. Haddad faz parte disso, é uma ponta-de-lança do petismo à moda Lula, no coração de São Paulo. Ora, pela defesa intransigente que o PT fez e faz dos criminosos da Ação Penal 470 (Mensalão), o partido se incorpora aos mesmos, e é tão réu quanto eles. Haddad pode não ter nada a ver com Mensalão, mas cumpre o projeto de poder de um grupo que está enrolado até os fios das barbas no escândalo. Imaginar que seus adversários deixem de usar isso na luta para impedir a tomada de São Paulo, é ingenuidade.

Tirando então as acusações descabidas de moralidade e ética, a questão se resume, mesmo, a uma diferença de COMPETÊNCIA.  Esse deve ser o divisor de águas na eleição. A meu ver, Serra tem. Haddad não. O resto é lero-lero.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Sai uma "massa" aí, Zé?






Em meados de maio, meses antes do início do julgamento do mensalão, o então réu (hoje já devidamente condenado) José Dirceu saiu a campo para intimidar a tudo e a todos com ameaças de baderna nas ruas se fosse mesmo condenado pelo STF. Em Congressos do CUT (onde se discutiu de tudo, menos de trabalho propriamente dito) e da UNE (onde também a discussão sobre a qualidade do ensino deu lugar ao proselitismo pró-José Dirceu), ele "convocou as massas" para ir às ruas, caso o julgamento fosse, nas palavras dele, "político " (leia-se: com condenação) no lugar de "técnico" (leia-se: com absolvição). Ele bradou para quem lhe desse ouvidos: "Vai ter reação!". Para um auditório lotado da UERJ, ele declarou: 

"Todos sabem que este julgamento é uma batalha política. E essa batalha deve ser travada nas ruas também porque senão a gente só vai ouvir uma voz, a voz pedindo a condenação, mesmo sem provas. É a voz do monopólio da mídia. Eu preciso do apoio de vocês”.

Fez o mesmo no Congresso da CUT.

Bem, em face de tão inflamada convocação, eu já imaginava, para o dia seguinte à sentença, caso fosse ela contrária ao interesse do réu, as massas nas ruas.  Avenida Paulista paralisada, com milhões de pessoas protestando. A cena se repetindo na Avenida Rio Branco, no Rio, e em outras capitais. O trânsito caótico. Ameaça de quebra-quebra, a PM tentando controlar a turba furiosa, sem sucesso. Milhares de pessoas em vigília na Praça dos Três Poderes, queimando pneus em frente ao Supremo Tribunal Federal. Talvez um e outro petista mais radical copiando o modelito hindu e ateando fogo ao corpo em plena Esplanada do Ministérios. Pânico, confusão, prisões, tropa de choque na rua...


Ontem os dois Ministros que faltavam dar seu voto se pronunciaram, e veio o veredicto: Brasil, 8. José Dirceu, 2.  Goleada, por assim dizer. Ou seja, a troika que achou que o poder a qualquer preço, mesmo que fosse às custas da compra de consciências com o dinheiro do povo, era politicamente aceitável, agora é oficialmente criminosa. Falta ainda o retoque final, a configuração como quadrilha, para termos o final glorioso de um julgamento que foi, mais do que técnico, justo. 

Só não estou vendo as massas nas ruas.

Quer dizer, as vias de acesso a São Paulo seguem congestionadas, mas creio tratar-se de gente indo trabalhar, e não empunhar faixas de "Injustiça!!!". A Paulista está cheia de gente, indo pra lá e pra cá. A Rio Branco naquela balbúrdia de sempre. E nem sei se o circo (é, circo mesmo) que se instalou perto do Teatro Nacional, ali na Praça dos Três Poderes, já se foi ou não, mas sei que Brasília está como geralmente está, numa quinta-feira: mais vazia do que cheia, e muita gente contando as horas para pegar o rumo do aeroporto.

Como as massas do José Dirceu teimam em não aparecer, tomo a liberdade de oferecer uma, cuja foto está lá em cima, para o "companheiro". Aliás, parece que massa é um prato recorrente no almoço, nas penitenciárias do país. É bom ele ir se acostumando.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Um papo reto com José Serra



Meu caro José


(não temos intimidade, mas me dou a liberdade de dispensar o formalismo de "Dr. Serra", ok? Você (outra liberdade) pode me chamar de Roland, o "doutor" eu também dispenso, uma vez que não sou doutor em coisa alguma).

Antes de mais nada, parabéns por sua vitória no primeiro turno da eleição em São Paulo. Essa vitória mostrou duas coisas importantes: Uma, que você é tenaz. Um osso duro de roer, como se diz. Quando a coisa ficou feia, a cada pesquisa surgiam números piores, outra pessoa, menos tenaz, teria jogado a toalha e deixado o barco correr. Você não. Você não perdeu a fé em hora alguma. Não se acovardou, não entrou em desespero, não desanimou. Você confiou na sua proposta e na seu caráter e história. Muito bem! Segundo, o povo de São Paulo, que por alguns momentos (tenso, admito) parecia que iria esquecer das suas realizações na cidade onde você nasceu e se criou, voltou a ter "juízo" na hora da onça beber água. Aquele tantão de gente que falou aos pesquisadores de opinião que "votaria no Russomanno", na hora agá, viram que esta não era uma boa escolha para São Paulo, e retornou ao bom caminho: São Paulo deve muito do que é, hoje, à sua administração. Muitos criticam essa cidade, mas muitos mais morrem de inveja pelo que se conseguiu fazer aqui - uma cidade onde as coisas funcionam. Eu não moro em São Paulo. Mas justamente por não morar aí, é que eu tenho uma visão melhor do que É São Paulo, comparado com as outras capitais do país. Eu, se fosse eleitor nessa cidade, votaria em você sem pestanejar, para o cargo que você quiser. Porque eu sei que esse cargo estaria ocupado por um sujeito capaz - e honesto. Uma rara combinação, diga-se de passagem. Geralmente os postulantes a cargos executivos são ou capazes e desonestos, ou honestos mas totalmente incompetentes. Lembro bem de Saturnino Braga no Rio, minha cidade natal. Um político honestíssimo (se é que existe esse superlativo, honestidade é como gravidez, ou se tem, ou não), repleto de intenções da melhor qualidade, mas infelizmente inadequado para ser administrador até de condomínio, quiçá de uma prefeitura. O Rio sofreu muito com ele, mas nunca o tachou de desonesto. E era um bom senador, se quer saber.

Então, receba meus sinceros parabéns. 

Ok, ok, chega de presepada. Você manteve aqueles 30% de preferência do eleitor que tinha lá atrás, no início da caminhada. Mas agora vem o mais difícil, e você sabe disso. O adversário, em que pese seus defeitos, também encostou naqueles míticos 30% que o PT detém em SP. Há uns 40% do eleitorado que não votou nem em um, nem no outro. Nesse segundo turno, alguns desses vão anular o voto, outros nem vão sair de casa para votar, preferindo pagar aquela multa irrisória do TRE. Mas uns bons 30% do eleitorado que não votou em nenhum dos dois, vai agora decidir os rumos de São Paulo pelos próximos quatro anos - no mínimo.  Pelo que vejo, o rapazinho do PT largou na frente. Usou e vai usar toda a força da máquina do governo federal para seduzir os derrotados do primeiro turno, notadamente Russomanno e Chalita, e ganhar o apoio deles. Quem tem ministérios para oferecer, você ou eles? Então esqueça Russomanno e Chalita. Esses estão com o inimigo. Você ganhou o apoio de Soninha? Muito bom, mas... qual a dimensão disso? Ah, e você ganhou o apoio de Paulinho da Força (PDT). Nesse caso, lamento, mas eu pensaria duas, não, vinte vezes antes de aceitar. Em termos de votos, ele não representa coisa alguma, e em termos de moral, sei não - é capaz de espantar eleitores até do PSDB. Veja lá o que vai fazer, José. O povo não é muito chegado nesses casamentos de conveniência. Nem eu.

Bom, mas e agora?

Segunda feira recomeça a campanha na TV. E a campanha nas ruas já está a todo vapor, assim como na internet. O blogs sujos estão te dando bordoada. Nas ruas, Haddad está te enchendo de tapas verbais. Se você não reagir, vai à lona. O Lula e sua títere Dilma elegeram São Paulo como sua Bastilha particular, depois das derrotas acachapantes em Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. Tua cabeça está a prêmio, José.

O que você vai fazer?

Certamente você deve estar aí, metido em reuniões com o pessoal do marketing. Hoje, as eleições são um fenômeno de "marquetingue", e os marqueteiros são como técnicos de futebol, armando o time e ensaiando as jogadas, sempre com um bom VT do jogo anterior. É...

Sei não, José. Tenho a forte sensação de que essa de marqueteiro decidir o que o eleitor quer, é a maior furada. Algo como pagar milhões para um advogado defender o sujeito lá no STF - me parece dinheiro gasto à-toa, porque os juízes do STF não julgam pela cabeça coroada de advogados de renome, como bem se viu nesse julgamento do Mensalão. Será que esses caras vão conseguir receber os honorários? Eu não pagaria...  Muito bem, eu tenho a impressão, volto a dizer, que os marqueteiros "acham" que o povo, leia-se, eleitor, vai votar segundo seus ditames. Que o povo vai deixar conteúdo de lado, em favor de embalagem.  Acho que estão errados. Quem sou eu pra dar pitaco, não é? Sou apenas... eu mesmo. Nada entendo de marketing. Talvez entenda um pouco de gente, e só. Talvez nem isso.

Papo reto, José. Vou te dar minha opinião. Você pode querer ou não. Aliás, é provável que nunca chegue a ler esses pitacos. Tudo bem. Escrevo assim mesmo.

1) PARE com essa história de "elegância do confronto". Ai, meu Pai do céu, a eleição não é debate da Academia Brasileira de Letras, com chá e torradas. Eleição é sangue, suor e lágrimas. Chora menos quem pode mais. Pare com indiretas, tentando ser elegante. Seja elegante, sim, mas seja duro. Faça cara feia. Não é difícil - você não é lá muito bonito mesmo. Use as armas que você tem, o inimigo é fraco, o inimigo tem podres e mais podres a esconder. Use isso, sem medo de ser feliz. 

2) Tenha sangue nas veias, homem. O povo não gosta de homens-gelo. Dê-se a liberdade de se indignar, se dar esculacho, de acusar e cobrar, quando não decência, ao menos coerência, do adversário. Sobretudo na TV, mostre que você sabe jogar duro, e bater. "Ah, é campanha negativa!" E daí? Eles querem o que, que você elogie o Haddad? Ele é fraco, e você sabe disso. Mostre isso, por meio de fatos - e se indigne com isso. Chame a si essa responsabilidade.

3) Olha, vou te contar um segredo: ninguém, mas ninguém MESMO, acredita em promessas de campanha. Pergunte a um motorista de táxi se ele acredita em promessas de acabar com os buracos nas ruas. Ele lhe olhará de soslaio, e dirá, cheio de razão: "Esses FDP prometem isso a cada eleição e - ops - olha mais um buraco enorme aí!" Promessa não ganha eleição, José. Promessa deixa o eleitor ainda mais desconfiado, quando não furioso. Não sei se você sabe, mas a credibilidade da classe política não está lá essas coisas, hoje em dia. No lugar de prometer, mostre aquilo que você já fez. Fale que você arrumou a Marginal do Tietê. Diga que acabou a com a infame taxa do lixo criada pela "Martaxa". E com a taxa de iluminação pública para quem nem tem luz na rua. Orgulhe-se disso. Isso o povo entende.

4) Ataque. Ataque. Ataque. Mas atenção, nada de colocar aquela voz idiota em "off" no programa da TV, fazendo as acusações. Nada disso. Apareça na TV, sentado à mesa, sem glamour, sem trilha sonora, e ataque, você mesmo. O povo odeia quem acusa mas não tem a coragem de mostrar a cara. Seja peitudo, seja valente, seja indignado. Pergunte se Haddad vai devolver os R$ 1,8 milhão que gastou com o "kit-gay" cuja distribuição foi vetada pela Dilma. Pergunte se ele tem competência para gerir a cidade de São Paulo, com quase 10 milhões de habitantes, se não conseguiu realizar uma única prova do Enem sem fraude, Na época, ele justificou dizendo que era impossível fazer um Enem sem fraude, "porque o Brasil é muito grande". Mesmo gastando R$ 150 milhões para fazer a obra, ele fracassou. Vai administrar São Paulo de que jeito? Sobretudo, fale da administração Haddad na Secretaria de Finanças do governo Marta (aquela das taxinhas para isso e aquilo). Fale da situação em que você encontrou a prefeitura, em 2005. Fale dos 13 mil credores furiosos. Fale do rombo de R$ 1,8 bilhão que a Marta deixou. Fale do cancelamento de quase R$ 600 milhões em empenhos já realizados, feito pela Marta às vésperas de entregar o cargo, para fugir da Lei de Responsabilidade Fiscal. Não esqueça de lembrar quem era o responsável pelas finanças da prefeitura. Por fim, fale da situação financeira da prefeitura hoje. Oito bilhões de reais em caixa. Compromissos em dia. Folha em dia. Obras em andamento.  Não tenha medo de elogiar o Kassab - ele é aliado, e administrou bem a cidade, em que pese a campanha de desconstrução que movem contra ele.

Você consegue fazer isso, José. Sem baixar o nível, mas um pouco de sarcasmo sempre é bom. Seja, na hora de criticar, apenas mais um paulistano enfurecido com a lorota representada por Haddad e por seu partido.

E não esqueça do Mensalão. Não o torne seu fulcro de críticas, porque, afinal, Haddad não faz parte do esquema. Mas faz parte do partido do esquema - e isso não se pode negar. O povo está feliz com a condenação dos ladrões do dinheiro público. E como o PT sempre endossou essa gente, mesmo depois da denúncia, mesmo agora, depois da condenação, nunca é demais lembrar ao eleitor que um partido que apoia esse tipo de gente não é confiável para gerir um orçamento de R$ 42 bilhões, como o de São Paulo.

Quer seguir na sua trilha monocórdia de promessas e declarações de integridade? Tudo bem, mas depois não venha reclamar quando o PT lhe impuser uma derrota em São Paulo. É hora de reagir, de mostrar coragem e sangue nas veias, José.

Boa sorte - estou torcendo por você.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Amanhecer...




Amanhã será um lindo dia
Da mais louca alegria
Que se possa imaginar
Amanhã, redobrada força
Pra cima que não cessa
Há de vingar
Amanhã, mais nenhum mistério
Acima do ilusório
O astro-rei vai brilhar
Amanhã a luminosidade
Alheia a qualquer vontade
Há de imperar...


Guilherme Arantes, "Amanhã"


Amanhã será um dia como qualquer outro. A previsão é de tempo bom aqui na região de São Paulo, ainda quente mas talvez com chuva à tarde, por causa de uma frente fria que vem chegando do sul. Vou acordar às seis (se o Homem lá de cima permitir que eu tenha mais esse dia, claro!), como de costume, tomar café como de costume, e ir trabalhar, também como costume. Em termos práticos, nada mudará de hoje para amanhã.

Ou não?

Algo me diz que vou acordar com um sorriso mais ostensivo nos lábios (não sou muito dado a sorrisos, mas confesso que trabalhar naquilo que adoro ajuda bastante). Talvez cantarole alguma canção antiga, com a letra terrivelmente mutilada pela memória claudicante para essas coisas como letras de música. Talvez até assobie, coisa que faço com uma incompetência completa. 

Pois embora amanhã, dia 10 de outubro de 2012, seja um dia como qualquer outro, algo me diz que o ar vai estar mais puro, as flores mais bonitas, as cores mais vivas. 

Amanhã o Brasil estará um pouquinho melhor do que hoje. Pelo menos o Brasil que eu imagino como sendo o "meu" país. Aquele que me dá orgulho, que me desafia a ser cada dia melhor. Que me chama ao bom combate. Amanhã o Brasil vai acordar, com a certeza de que o Justiça se fez presente, na hora em que ela se fez mais necessária. Amanhã não terá mais valor o velho e surrado adágio, segundo o qual, "no Brasil só pobre e preto é condenado".  Claro que ainda haverá muita injustiça por esse país. Mas, pegando carona nas palavras de Neil Armstrong, quando pisou pela primeira vez na lua, em 1969, terá sido dado um pequeno passo para um homem, mas um salto enorme para o Brasil.

Porque hoje, ao final da tarde, o Supremo Tribunal Federal baixou seu punho em cima de todas as mentiras, chicanas jurídicas e não-jurídicas, tentativas de pressão e ameaças veladas que vinha sofrendo desde que colocou em pauta o julgamento dos acusados pelo mais grave crime de lesa-pátria já visto nesse país. Hoje o STF acolheu os argumentos do Procurador Geral da República, Roberto Gurgel, e condenou, por esmagadora maioria, os acusados de tentar implementar no Brasil a "República da Corrupção", onde compra-se o voto de parlamentares para tornar mais fácil a vida do presidente (sim, com minúsculo, que um presidente que apela para esse tipo de coisa não merece maiúsculo coisa nenhuma), usando um volume de dinheiro de centenas de milhões de reais, roubados em plena luz do dia, dos cofres públicos. Roubado sem revólver nem dinamite, é verdade, mas roubado assim mesmo. Em tenebrosas negociações, secretos conchavos e fictícios contratos, o dinheiro que serviria para construir escolas, hospitais, saneamento básico e outras necessidades do povo brasileiro, foi desviado, lavado e distribuído feito mesada para um grupo de políticos gananciosos e aéticos, para que estes deixassem de lado suas convicções e entrassem no bonde dos paus-mandados do Partido do Trabalhadores e de seu expoente máximo, aquele que vive alardeando que "nunca antes na história dessepaiz". Nisso, ele está certo: nunca antes na história deste país, houve tanta sujeira, tanta safadeza, tanto desprezo pelo dinheiro da nação. 

Durante anos, o processo vagou a passos de lesma pelo Judiciário. Antes, uma CPI não tinha chegado a coisa alguma, dominada que foi pelo rolo compressor governista. Uma exceção foi o trabalho da Comissão de Ética do Congresso, que, convencido da culpa dos mentores do crime, cassou-lhes o mandato parlamentar. Lula acusou o golpe, e teve então início o processo de desconstrução das denúncias. O presidente foi à TV, se dizer "esfaqueado pelas costas". Recitou a velha e surrada versão de que "não sabia de nada". E demitiu seu "primeiro-ministro", o até-então todo-poderoso Chefe da Casa Civil, José Dirceu, principal acusado de ser o cérebro por trás do esquema imoral e criminoso. Um só participante resolveu tentar negociar o preço de se livrar do processo mediante confissão: Silvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, que foi brindado com um Land Rover pelos serviços prestados ao esquema. Confessou seus erros, foi condenado a prestar serviços comunitários e resolveu a questão no barato, como se viu agora. Lula esperou passar a comoção do escândalo, que quase custou-lhe um processo de impeachment (não chegou a tanto, porque a oposição se acovardou, medrosa dos setenta e poucos por cento de aprovação popular do presidente), e uma vez esfriado, mudou sua postura até então contrita e desdisse o que dissera na TV alguns meses antes (algo perfeitamente normal no caso dele, que vive fazendo dessas coisas). Entrou em voga nas hostes petistas a nova tese de que não houvera mensalão algum, que era tudo invenção "dazelites" para desestabilizar o governo. Uma tese furadíssima, algo bem na linha de Chávez e companhia, mas que foi vendida pela cúpula do PT e comprada a preço inflado pela militância desprovida tanto de cérebro quanto de senso de ridículo. Lula, e depois Dilma, trataram de ir ajustando a composição do órgão que iria, no final das contas, julgar o processo, colocando no STF gente de sua confiança, ou que consideravam como sendo de sua confiança. Se o processo um dia chegasse a juízo, estava, como se diz na bandidagem, "tudo dominado". Os acusados se deram ao luxo de trazer troça com a denúncia apresentada pelo Procurador Geral. Houve que afirmasse que o "mensalão" seria "piada de novela" dentro de alguns meses. Nessa hora, o PT, mais uma vez, cometeu um grave erro de percepção. Confiante no seu "poder" dentro do STF, foi deixando de dar a devida importância ao processo, crente que ele se diluiria nas águas da prescrição, que não tardaria a ocorrer. Mas não foi bem assim que as coisas aconteceram, como se viu. O processo, lento mas implacavelmente, foi acompanhando a fila de processos na pauta do STF, até que, em fins do ano passado, foi entregue a um relator para análise. Que seria seguida por uma revisão, por outro Ministro. Coube a um indicado por Lula, Joaquim Barbosa, a relatoria. O PT respirou aliviado: "esse é dos nossos". Na pior das hipóteses, Barbosa terminaria seu relatório em meados de 2012, e o revisor, também indicado por Lula, Ricardo Lewandowsky, levaria mais um ano ou mais para fazer seu trabalho. Até lá, as penas estariam prescritas, e o processo seguiria o destino de tantos outros: o arquivo morto.

Mas Joaquim Barbosa não é feito da massa amorfa e maleável que Lula e companhia imaginam. Ele acredita que entrou no STF não por um impulso igualitário de Lula, mas por seus méritos, sua idoneidade e seu saber jurídico. Joaquim Barbosa, no exato instante em que sentou na poltrona azul do STF, deixou suas simpatias eventuais de lado, e passou a ser aquilo que desejara ser a vida inteira: um JUIZ, assim, com maiúsculas. Para julgar de forma imparcial, doesse a quem doesse, com base no seu saber e nos valores que todo juiz deveria ter: a imparcialidade.  A turma do PT demorou a perceber isso, e quando deu por si, Joaquim Barbosa havia feito seu relatório, e os indícios preliminares dava conta que ele seria implacável com os "mensaleiros". Instalou-se o pânico nas hostes petistas. O jeito era procrastinar o julgamento, tanto quanto fosse possível. Por sorte, o revisor era Lewandowsky, velho conhecido de Lula, companheiro dos tempos de sindicato em São Bernardo, vizinho e amigo da família da esposa do agora ex-presidente. Estava novamente "tudo dominado".  Lewandowsky cumpriu sua parte - pegou o processo e colocou na geladeira, num processo de revisão que poderia ser feito em semanas, levou meses. E teria levado muito mais, se seus atos não tivesse sido percebidos pela mídia e pelos demais membros do STF. O Presidente, Carlos Ayres Britto, aplicou-lhe um "pito", e o "companheiro" não teve como justificar mais delongas. Entregou na undécima hora, e mesmo assim o julgamento teve que ser marcado com um dia de atraso. Antes, Lula entrou em ação, daquele seu jeito truculento e atrapalhado de sempre: saiu a campo, para convencer os ministros do STF de que talvez não fosse uma boa ideia julgar o mensalão em 2012, que 2013 era melhor... Foi um escândalo, quando um dos abordados, Gilmar Mendes, resolveu que não aceitaria chantagem e botou a boca no mundo. Foi espinafrado pela claque desmiolada da tropa de choque comandada pelo presidente do PT, Rui Falcão, e quem publicou a notícia (Veja) entrou na mira dos engajadinhos do partido. Mas Lula nunca desmentiu o encontro, nem as afirmações de Gilmar Mendes do que havia sido conversado lá. Medo de haver mais gente que sabia da conversa, talvez...

Ao mesmo tempo, estourava o escândalo das relações promíscuas de um campeão da oposição, senador Demóstenes Torres, com um bicheiro goiano, Carlinhos Cachoeira. Esse mesmo Cachoeira já estivera envolvido em negócios escusos com aliados de conveniência do PT, como Waldomiro Diniz. Quem noticiou o escândalo? A Veja. A Polícia Federal divulgou interceptações telefônicas do contraventor com meio mundo da política e do jornalismo, incluindo o Editor chefe da Veja em Brasília, Policarpo Júnior. Foi o que bastou para a rede de intrigas do petismo encontrar outra vertente para explicar o Mensalão: era tudo invenção da mídia, da Veja em particular, junto com o PSDB, para derrubar o governo. Um "golpe". Claro que tais acusações não resistiram à mais superficial análise, mas os blogs sujos, e jornalistas cujas motivações vão desde o partidário até o pecuniário, montaram nessa fantasia e a tornaram palavra sagrada em suas publicações. Mais uma vez, a militância cega, surda e sobretudo burra, comprou sem examinar o conteúdo.

Um detalhe curioso aqui: se o PT tivesse deixado a Ação Penal 470 seguir seu curso normal, desde que deu entrada no STF, ele teria sido julgado ainda em 2011, e seus efeitos teriam sido diluídos pelo tempo até as eleições de 2012, onde teriam pouco ou nenhum impacto. Se tivessem ficado calados, deixado o processo chegar ao fim sem alarde, a repercussão também teria sido menor. E se tivessem deixado de contratar os advogados mais caros do país, teriam economizado alguns bons milhões, sem prejuízo algum (pois os tais advogados não adiantaram de coisa alguma!). O PT tem uma certa tradição de dar tiros no próprio pé, como se viu nas eleições desse ano em várias capitais importantes.

Por fim, chegou o grande dia, o início do julgamento, em 02 de agosto. E hoje, mais de dois meses depois do seu início, ela atingiu seu ponto culminante, com a condenação em última instância, inapelável, dos três principais operadores e idealizadores do esquema criminoso: Delúbio Soares, José Genoíno e José Dirceu. Este, a "eminência parda" que teve a arrogância de afirmar que "um telefonema meu É um telefonema". Vai ligar para quem agora, Zé? Caso seja efetivamente preso (o que ainda é duvidoso, sabem como é, isso AINDA é Brasil), será que poderá dar seus famosos "telefonemas" de dentro do presídio? Tão ou mais importante do que a condenação criminal dos mandachuvas, é o veredicto que se faz do partido em si, que, desde o início, encampou a defesa intransigente dos malfeitores, tornando-se, dessa forma, conivente, se não cúmplice, dos seus atos. E, evidente, faltou um personagem crucial no julgamento, aquele cuja participação efetiva no esquema foi agora denunciada por um dos condenados. Algo me diz que muito se ouvirá falar disso, em futuro próximo. Ou alguém imagina que Marcus Valério vai aguentar calado algumas décadas de prisão?

Hoje, o Supremo Tribunal Federal redimiu a alma e a esperança de milhões de brasileiros como eu, que ainda creem que o Brasil tem jeito, e que mais vale ser pobte e honesto do que poderoso e corrupto.

E por isso mesmo, "amanhã será um lindo dia, da mais louca alegria". Obrigado, Brasil.

domingo, 7 de outubro de 2012

Hora da Análise - Eleições 2012



São 19 horas, em na maioria dos estados, a apuração dos votos nas capitais já se aproxima do fim. Em quase todas, já é possível afirmar quem leva já no primeiro turno, e quem vai ter nova chance, no segundo turno. Não vamos analisar todas, porque são muitas e o tempo urge. Mas vou dar uma atenção especial àquelas consideradas "chave" para as pretensões do PT e do PSDB para seu futuro político, se é que há alguma correlação entre o voto dado em 2012, para a prefeitura, e o voto que será dado em 2014, quando o destino do Brasil está nas teclas das urnas. 

Vamos começar pelo sul?

Porto Alegre 
A capital gaúcha é um tradicional reduto petista há décadas, com a hegemonia de petistas graduados como Olívio Dutra e Tarso Genro. Sem considerar que a presidente Dilma, para todos os efeitos, é eleitora de Porto Alegre. Assim, PoA é uma das "jóias da coroa" do petismo. Com 80% das urnas apuradas, o que se viu foi uma surra de vara que o PT levou por lá. O PDT, ainda mais tradicional em terras gaúchas, levou já no primeiro turno, com Fortunatti ganhando 65% dos votos válidos. O PT, que poderia ter apoiado Manuela DÁvila (PCdoB) e evitado um vexame maior (ela obteve 18%), amargou um terceiro lugar, com míseros 10%. 

Florianópolis
Santa Catarina é um nicho do DEM/PSD (ex-PFL), e portanto nada mais natural que a vitória de Cesar Souza (PSD), coligado ao PSDB, na capital. Ele vai chegando aos 31%. A surpresa ficou por conta de Gean Loureiro (PMDB), com 27%, que empurrou a candidata de Ideli Salvatti e companhia, Angela Albino, para fora da disputa do segundo turno, com 25%. Outra derrota petista.

Nota: no post anterior, falei da ausência de votos do candidato petista e atual prefeito de Joinville, Carlito Merss. Os votos dele estão efetivamente sendo incluídos nos votos nulos, até que haja uma definição final do TSE sobre sua candidatura. De qualquer forma, ele está muito longe de encostar nos três líderes da disputa na cidade, o que valida a minha análise sobre o desempenho do petista no comando da prefeitura - e olha que Joinville é uma cidade relativamente fácil de administrar!

Curitiba
Na liderança, o esperado: Ratinho Jr, montado na fama do pai televisivo, chegou em primeiro, com 34%. Aqui os institutos se atrapalharam, pois previam o segundo lugar para o atual prefeito, Luciano Ducci. Na reta final, Ducci perdeu o lugar para Gustavo Fruet (PDT), que obteve 27%. O segundo turno vai ser pauleira em Curitiba, com certeza, porque Fruet, em que pese o fato de ser apoiado pelo PT, é, sem dúvida um candidato mais substancial do que o populismo rasteiro de Ratinho. Chama a atenção o erro de estratégia do PSDB, que deixou a disputa em Curitiba em segundo plano, e perdeu uma eleição que poderia ser tranquila.

São Paulo
Conforme mostravam as tendências, Russomanno foi traído por seu passado, e o eleitor, que antes tinha uma certa simpatia pelo sujeito, agora passou a detestá-lo. Cá para os meus botões, creio que o que mais detonou a imagem do Russomanno foi aquela cena, passada "n" vezes na TV, dele entrevistando uma moça seminua no Carnaval, e apalpando os seios dela. Os homens ficaram com uma certa birra por inveja, e as mulheres, com raiva, mesmo. É o tipo de coisa que afunda qualquer candidato, aqui ou em qualquer lugar. Compostura é tudo, não? Serra recuperou os votos que havia perdido para o pupilo de Edir Macedo, e retornou ao patamar de 30% que tinha quando das primeiras pesquisas. Haddad também mordeu parte desses eleitores, e confirmou a tradição de que o PT tem uns 30% do eleitorado paulistano. Essencial para isto, muito mais do que o apoio de Lula ou de Dilma, foi o retorno de Marta Suplicy ao time de Haddad. Essa "vitória" (em cima do Russomanno) o Haddad deve a ela, ninguém mais.  E agora? São Paulo segue mais indefinido do que nunca. As tais pesquisas que mostram um Haddad vencendo Serra no segundo turno valem tanto quanto aquelas que diziam que Russomanno estava garantido no segundo turno: zero. Agora é pau, pau, pedra, pedra, e a briga vai ser feia. Vai ter muita lama voando por aí, podem apostar. Quem ganha? Não sei. Mas a minha torcida (já que não posso ir lá dar o voto para ele) é do Serra. São Paulo merece a seriedade, história e competência desse homem. 

Notinha: aqui onde eu moro, a aprazível cidade de Guararema, SP, o candidato do PR/PSDB/DEM, Márcio, está com 98% dos votos válidos. Deve ser um recorde nacional. Fruto de uma administração que deixou a cidadezinha um brinco - limpa, organizada, boa de viver e passear. Nada como um prefeito sério, não?

Rio de Janeiro
Como apontavam todas as pesquisas, Eduardo Paes (PMDB) levou a prefeitura surfando num maremoto de votos. Embora tenha apoio do PT, e me cause uma certa urticária por ter virado a casaca de PSDB com a qual entrou na vida pública, não resta dúvida que Paes é um candidato mais substancial do que Freixo, do PSOL. Só o fato de ser apoiado pelos artistas engajadinhos já me provoca urticária em relação ao moço do PSOL. Enfim, acho que a cidade do Rio de Janeiro está razoavelmente bem, até prova em contrário.

Belo Horizonte
BH foi a Termópila dos persas petistas. Desde que houve o rompimento tolo e inconsequente do PT com a ampla aliança que elegeu Márcio Lacerda em 2009, Dilma e Lula (Dilma especialmente) decidiram usar a cidade para "quebrar a espinha" do PSDB e de Aécio Neves, potencial contendor para as eleições presidenciais em 2014 (embora eu ainda duvide disso). Lula e Dilma sacaram Patrus Ananias do colete, deram uma banana para a legislação eleitoral (ele fez uma renúncia com todas as características de ter sido retroativa, de um cargo na FIESP, que o impediria de ser candidato, embuste santificado pelo TSE), e se engajaram na luta para fazer dele a cabeça de ponte para estraçalhar o PSDB em Minas. Só esqueceram de combinar com os mineiros, que não são lá muito chegados nesse tipo de coisa, ainda mais vindo de quem não é mineiro (Dilma é, mas está muito mais para habitante dos pagos...). Mineiro é desconfiado, uai. E os mineiros mandaram um recadinho para Lula, Dilma e sua trupe: "Aqui não, sô! Aqui nós não gostamos de quem quebra pactos dessa forma! Sai fora, Dilma!"  E Patrus Ananias, que até tinha uma boa avaliação entre os mineiros, perdeu e perdeu feio - Lacerda foi eleito no primeiro turno. E tem mais: o PSDB de Aécio Neves faturou mais de 70% das cidades do estado. O restante ficou, basicamente, com o PMDB. Nessa, os mineiros fizeram como as crianças do anúncio do leite: "Tomô?"

Salvador
Outra cidade baluarte do petismo, que recebeu atenção especial de Lula e Dilma. O objetivo era uniformizar os governos municipal com o estadual, já alinhado com o federal, de forma a neutralizar reações oposicionistas para 2014, na figura de ACM Neto. De novo, o esquema fez água, pois o soteropolitano viveu na pele os problemas de 2011, o aumento absurdo da violência e da insegurança. Jacques Wagner, no lugar de ser cabo eleitoral, virou "âncora eleitoral". E o carlismo light está de volta. Falta o segundo turno, e a briga também vai ser feia em terras baianas, entre ACM Neto e Pellegrino. Impossível prever o resultado, mas eu aposto minhas fichas no neto do ACM.

Recife
Recife foi o exemplo mais acadêmico de como agir para perder uma eleição, de que se tem notícia na história recente. A cidade tinha um prefeito, com forte desaprovação popular. Nada incomum, numa cidade tão complicada quanto o Recife, com seus inúmeros problemas urbanos. Seguindo o curso natural das coisas, o prefeito quis tentar a re-eleição. Se ganharia ou não, ninguém sabe. Mas ele tinha esse direito, dentro da normalidade partidária. Surgiu um outro candidato. Para resolver a questão, fizeram prévias do partido. Ganhou o prefeito. Ganhou mas não levou: o PT não reconheceu sua vitória (algo típico do PT, por sinal). Ele e o deputado concorrente foram ter com "São Lula" em São Paulo, para que fosse decidida a questão. Lula encarnou o espírito de Alexandre, O Grande, e resolveu cortar o nó górdio da disputa, alijando os dois candidatos e impondo um "tertius". Na sua sapiência imaginária, conseguiu desagradar a gregos e troianos (já que estamos falando de mitologia, não é?). Empurrou Humberto Costa goela abaixo do partido e dos recifenses. A resposta veio nas urnas: uma derrota fragorosa do candidato biônico, que ficou com míseros 18% dos votos, numa cidade tradicionalmente dominada pelo PT. Venceu, em primeiro turno, o candidato (ele também biônico) Geraldo Júlio, do PSB, partido da estrela emergente Eduardo Campos, que vê nessa vitória um convite para alçar vôos mais altos, talvez já em 2014. Lula atirou no que não viu, e não acertou em nada além do próprio pé. 

Fortaleza
Enfim uma vitória petista. Elmano (PT) com 25%, vai disputar o segundo turno com o psbista Roberto Claudio (23%). Note que são porcentagens baixas, o que joga o fiel da balança no colo de Heitor Ferrer, do PDT, que obteve 21%, e Moroni Torgan (DEM) com seus 14%   Quem eles apoiarão? Considerando as dificuldades de entender a política cearense, não me atrevo a responder.

São Luís
No estado de José Sarney, o segundo turno vai ser decidido entre Edivaldo Holanda (PTC) que obteve 36%, e João Castelo (PSDB), com 31%. O PT amargou um pífio quarto lugar (11%). Vai para o segundo turno e, a exemplo do Ceará, é impossível prever o resultado, dado a complexidade do quadro local, apoio da família Sarney, etc.

Belém
Outra briga embolada, com Edimilson Rodrigues do PSOL com 33%, e Zenaldo Coutinho (PSDB) com 31%.  Impossível prever. Mas, novamente, é notável o mau desempenho do PT: seu candidato chegou em sétimo lugar, com 3% dos votos.

Manaus
Manaus se reveste de importância especial, tanto para PT como para PSDB. Pelo lado do PT, embora não tenha candidato próprio, Lula e seus áulicos partiram com tudo no apoio a Vanessa Grazziotin (PCdoB), não porque tivesse qualquer afinidade com a candidata em si, mas para usar uma possível vitória dela para enterrar de vez a carreira política do ex-senador Artur Virgílio Neto, feroz crítico do petismo nos tempos de Senado. Lula não esquece, e quis essa vingança a todo custo. Já Artur Neto quer usar a prefeitura para dar substância a uma tentativa de voltar com fôlego à política, depois da derrota de 2010. E vai conseguindo: Artur Virgílio bateu a Vanessa por 40% a 20%, e tem excelentes chances de ganhar folgado no segundo turno. Em que pese a "sabotagem" à sua candidatura levada a cabo por Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, que enfureceu os amazonenses ao defender o fim dos privilégios fiscais da Zona Franca de Manaus. A permanência de Artur Virgílio no PSDB, depois dessa, é incerta.

Goiânia
Como esperado, o petista Paulo Garcia levou no primeiro turno, com 58% dos votos. Era a vitória mais esperada dessa eleição, e a única (repito: a única) onde o PT tinha amplo favoritismo. Mais pelo bom desempenho de Garcia à frente da prefeitura, do que por qualquer outro motivo.

Resumo....

Há blogs por aí, falando em "expressiva votação do PT nas eleições da capitais". Gostaria de saber em qual planeta essa gente vive. No Brasil, o PT sofreu uma derrota acachapante nas capitais, pelo menos no primeiro turno. Se vai conseguir salvar algumas coisa no segundo, não se sabe. Mas até agora, o desempenho do partido do mensalão é, no mínimo, preocupante. Para eles, claro. Para mim, é só festa.



Apuração!


A apuração dos votos segue a todo vapor, já havendo definição em Curitiba, onde Ratinho Jr e Gustavo Fruet vão brigar no segundo turno. O atual prefeito ficou de fora, revertendo a pesquisa recente.

Quando tiver um quadro mais definitivo nas demais capitais, vou fazer uma análise.

Mas por ora, deliciem-se com essa: na bela e acolhedora cidade de Joinville, SC, até as 18:33h, com 18% das urnas apuradas, o atual prefeito, Carlito Merss conseguiu a façanha de não ter um único voto. Nenhum. Será que a urna onde ELE votou não foi apurada ainda, ou nem ele votou em si mesmo?  É uma situação curiosíssima, e merece um estudo melhor. Será que ele foi impugnado à última hora? O que se sabe é que havia uma rejeição monstruosa ao atual prefeito, sabe-se lá porquê. 

Sabem o partido dele?  É, adivinharam: PT. 

O joinvillense mostra que o velho adágio do faroeste americano ainda tem valor: 

"Da primeira vez em que o homem branco enganou os índio, foi culpa do homem branco. Da segunda vez em que o homem branco enganou os índio, a culpa foi dos índios!"

Pois é.... esses não caem mais nas lorotas do petismo.


Em tempo: aparentemente, há uma impugnação contra Merss, mesmo - o TRE reprovou as contas de publicidade feitas durante o promeiro semestre de 2012 - ano de eleição. É possível até que esteja recebendo votos, mas eles não estão sendo computados nem divulgados.

Mensalão e Eleições

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou nesta quarta-feira (3) que seria "bom" que o julgamento do mensalão tivesse reflexo na escolha de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. "As urnas dirão se houve alguma repercussão [do julgamento do mensalão nas eleições]. A meu ver, era bom que houvesse, seria salutar", enfatizou Gurgel no intervalo da sessão desta quinta.

Os blog sujinhos, sustentandos com dinheiro público, deram uma repercussão imensa a essa declaração do Procurador Geral da República, vendo nisso a exteriorização de um viés político-eleitoral das acusações formuladas pelo Gurgel (que foram, até agora, acatadas em sua esmagadora maioria, pelo STF). Fizeram uma gritaria danada!

A meu ver, foi outro tiro no pé. A declaração poderia ter passada quase despercebida. Com a "indignação" dos petralhas, ganhou as manchetes - e até quem nem tinha visto, agora leu, e pensou nas declarações. Muitos hão de refletir se querem mesmo avalizar nas urnas, candidatos de um partido com tais inclinações para o crime. 

Os petistas se abespinharam:
"Mas vem cá... pode-se condenar um partido inteiro por causa dos erros de uns? Não teve o caso Demóstenes no DEM? O mensalão mineiro, do PSDB? Porque execrar apenas o PT?"

Se colocarem a cachola para funcionar, verão o motivo. Vejamos o caso do Demóstenes Torres. Ao ser flagrado em relacionamento pouco recomendável com um notório meliante, ele foi convidado a prestar explicações. Primeiro ao seu partido, depois ao Congresso. Como não conseguiu convencer  os membros do DEM de que agia de boa-fé, foi sumariamente largado à própria sorte pelo partido. Pediu para sair, para não ser expulso. O DEM não moveu uma palha para defendê-lo - porque, em primeiro lugar, estava convencido da culpa do senador, e segundo porque sabia que, caso insistisse numa defesa infrutífera do Demóstenes, figuraria como "avalista" dos atos dele perante a sociedade - e eleitores. Ao deixar Demóstenes arder no mármore do inferno, o DEM se isolou dos erros dele, e embora tenha sofrido desgaste, não ficou com sua reputação atrelada a um caso de má-conduta. O DEM já tinha feito o mesmo, com relação ao ex-governador do DF, José Roberto Arruda. Ao fazer isso, o partido deu explicações à sociedade: "São atos de pessoas, não do partido, e o partido não as aceita". Não há, portanto, motivo para satanizar o DEM por conta disso. No máximo, sugerir ao partido que escolha melhor seus quadros. O PSDB age da mesma forma em relação ao "mensalão mineiro". Quando este processo chegar a julgamento no STF, ninguém verá FHC em encontros escusos com Ministros do STF, tentando procrastinar o julgamento. Ninguém verá o presidente do partido defendendo de unhas e dentes os acusados. Ninguém verá os líderes do PSDB berrando que é "golpe" nem que os magistrados do STF estão "julgando politicamente". Se Azeredo for condenado no esquema, ele que se vire, o PSDB não lhe prestará solidariedade. Alguém consegue imaginar o PSDB dizendo que irá apelar à Corte Interamericana para reverter decisões da mais alta instância da justiça brasileira? Com isso, também o PSDB "se isola" dos atos de seus membros. É um partido, não uma "famiglia" mafiosa, poxa.

Mas o PT fez tudo isso, e mais. Defende, de forma até pueril, ações que SABE que são erradas, tenta confundir todo mundo, tenta "trocar" o crime de corrupção por "crime de caixa 2", o que seria, aos olhos do partido, amplamente palatável, um "crime menor". Ora, crime é crime! Um partido político vir a público defender um crime como "menor", é de lascar! 

Então, já que resolveu dar guarida e proteção a criminosos dentro do Partido, o PT, de certa forma, se torna cúmplice desses crimes. Tudo se fez em nome do partido, e o partido não abandonará seus membros graduados, como toda boa "famiglia". Pois então que pague o preço. E o preço é a visão, aos olhos do eleitor, de que o PT, antes um partido que lutava pela ética, agora acoita bandidos, e o faz com gosto. Confunde-se com eles, portanto. 

E nisso, o Gurgel falou a mais pura verdade. Eu pensaria muitas vezes, antes de votar em candidatos de um partido que age dessa forma. Afinal, imagine se o eleito (com o meu voto) for do partido? Se um dia ele resolver malversar recursos públicos, nem mesmo a repreensão do partido vai ter? Pelo contrário, o partido vai procurar escamotear até o fim seus desvios.

É esse o partido que eu quero, com a mão no cofre da Prefeitura? Não!

Pensem bem nesse domingo. Boa eleição!

sábado, 6 de outubro de 2012

Patriota acha que inventou um neologismo. Inventou nada!

Uma das saias-justas mais comuns aos políticos e simpatizantes daquilo que se convencionou chamar de "esquerda" (mas que na verdade é apenas anti-americanismo bobo) ocorre quando alguém lhes faz duas perguntas cujas respostas, se dadas com sinceridade (algo difícil, mas não impossível), resultam num paradoxo, ou melhor, numa contradição em termos. Assim, ó: 

1) Você é a favor da democracia, e contra a ditadura?
2) Você apóia os governos da Venezuela, Cuba, Coréia do Norte?

Para a primeira pergunta, a resposta é, invariavelmente, SIM. Poucos dirão que são a favor de uma boa e velha ditadura. Até mesmo uma turma que pegou em armas nos "anos de chumbo" com o objetivo mais do que explícito de implantar uma ditadura marxista-leninista no Brasil, dirão que "estavam lutando pela democracia". Uma ova. Uns irão mais longe, dizendo bobagens colossais como "os EUA são uma ditadura" (ouvi essa dias atrás). É na hora da segunda pergunta que o caldo entorna. Se são tão democratas assim, como aceitam e endossam os regimes cubano e norte-coreano? Como podem fechar os olhos para a repressão política existe nesses países? Há muitos casos, sendo um dos mais eloquentes a paixão desmesurada que Chico Buarque devota a Cuba (não consta que ele tenciona mudar para lá, lástima). De modo geral, os esquerdopatas gaguejam qualquer coisa nessa hora, acusam a gente de estar a serviço do "PiG", e encerram o debate ali mesmo. 

Alguém fez a pergunta incômoda ontem, ao Chanceler Antonio Patriota, o sujeito que, pelo menos em tese, é a nossa autoridade máxima na seara diplomática. Numa palestra do chanceler na Casa do Saber, no Rio de Janeiro, na noite de sexta-feira, surgiu a pergunta indigesta: "A Venezuela pode ser considerada uma democracia plena?"

Como bem sabem até as pedras da calçada, a Venezuela é um país onde o presidente, ao longo de sucessivas alterações na Constituição, aprovadas por um Congresso manipulado e referendadas por um Supremo Tribunal totalmente aparelhado pelo chavismo, que o transformaram, na prática, em ditador. Ou, usando uma expressão antiga, em "déspota esclarecido". Ele amordaça a imprensa, prende e arrebenta, e não dá sinais de querer largar do poder enquanto vivo estiver. Há um simulacro de oposição, que atualmente ganha força por causa da insatisfação popular com Chávez e seu governo corrupto. Nas eleições presidenciais em curso, existe o risco até de uma derrota de Chávez, desde que não ocorram fraudes. Mas que ninguém se iluda: Chávez sofre do "Mal de Lula" num grau ainda mais profundo, e tolos são aqueles que acham que ele se resignará a ser derrotado nas urnas. Escrevam aí: a oposição não ganha na Venezuela, e na remotíssima possibilidade de ganhar, não leva. A meu ver, não é bem aquilo que se possa qualificar de "democracia", aquela, sabem, no estilo ateniense...

Pois bem. Como acham que o Patriota se saiu dessa?  Ora, nessa hora, ele "inventou" uma definição alternativa para a democracia venezuelana. Leiam o que saiu na Veja On-Line:


"Na noite de sexta-feira, após uma palestra na Casa do Saber, no Rio de Janeiro, a questão caiu novamente sobre o chanceler Antônio Patriota, que participou intensamente da gestão da crise paraguaia, em plena realização da Rio+20, em junho. Acostumado a justificar a relação do governo brasileiro com o regime de Chávez desde quando era embaixador em Washington (2007-2009), Patriota deu seu jeito de responder a uma pergunta incômoda – apesar de já exaustivamente respondida pelo bom senso: A Venezuela pode ser considerada uma democracia plena?
Patriota deu início à explicação isentado Chávez de culpa pela polarização política em seu país, que, segundo descreve, é muito mais intensa do que no Brasil. O chanceler lembrou que Chávez, democraticamente eleito, sofreu uma tentativa de golpe em 2002 — mas não mencionou que Chávez também participou de duas tentativas de golpe antes de ser eleito. Patriota alegou que a oposição venezuelana durante anos se afastou do processo democrático, contestando sua legitimidade, e que retomou a atividade ainda em um ambiente extremamente dividido — como promete ser o pleito do próximo domingo.
Por fim, o ministro saiu-se com essa: “A resposta é que não existe um modelo único de democracia. Existem graus diferentes de amadurecimento democrático. Existem circunstâncias especiais. E o julgamento sobre um país aqui na nossa região, onde subscrevemos cláusulas democráticas (Tratado de Ushuaia, no Mercosul, e carta democrática, da UNASUL), é coletivo e político até certo ponto. Se a região considera que há plena democracia na Venezuela, então há plena democracia na Venezuela. A Unasul poderia ter se reunido, deliberado sobre a Venezuela, e considerado que não havia (plena democracia). Não é essa a opinião da América do Sul. Então é essa a resposta possível. Não é inteiramente satisfatória, mas é a resposta possível”, afirmou.

Uau! O chanceler se superou nessa! Não contente em criar neologismos para definir a pseudo-democracia do país vizinho, ele ainda culpou a oposição pela "polarização" (leia-se: conflito) que grassa na Venezuela. A gente vê algo aqui também, não é? O PT vive alardeando que o problema do Brasil é a oposição "dazelites" golpista, a imprensa golpista, agora tem o STF golpista... Em seguida, colocou a cereja no bolo sentenciando que "se a Unasul diz que lá é uma democracia, então É uma democracia, ora!" Como é que é? Basta a chancela do Unasul, um grupelho de países cujo ideário sobre o tema remonta a "democratas" como Fidel Castro, para dizer o que é e o que não é "democracia"? Ora, faça-me o favor, Chanceler! Mas o melhor ainda estava por vir: o Chanceler tentou criar o neologismo da "Democracia Relativa", que se aplicaria à Venezuela. Epa! Epa! Epa! Alguém precisa avisar ao Patriota que o termo não é exatamente novo. Foi usada - e combatida ferrenhamente pela tímida oposição da época - por Ernesto Geisel, quando inquirido sobre a "democracia brasileira" de 1977. O alemão não era muito dado a democracia absoluta, como se sabe, embora tenha sido o primeiro dos generais-presidentes a efetivamente iniciar um processo de redemocratização, ainda que "lenta e gradual" nas próprias palavras. Patriota faria bem se desse ao autor da neo-definição de democracia o devido crédito.

Como dizem lá na roça: "Essa gente me mata de vergonha!"