sábado, 22 de dezembro de 2012

Moral e Cívica


Vocês se lembram das aulas de EMC? Educação Moral e Cívica? Bem, eu imagino que somente os mais velhos se lembrarão disso. E no Brasil, claro. Não sei se existe um paralelo em outros países, mas desconfio que sim. Para quem desconhece do que se trata, eram aulas versando sobre civismo, com ênfase em aspectos éticos. Aliás, a própria ética era dissecada. Havia, na escola onde eu estudava, uma outra matéria que tratava de política, a OSPB (Organização Social e Política Brasileira), que, a rigor, era uma imposição do Ministério da Educação às escolas, em tempos de regime militar. 

Nunca tive paciência para nenhuma das duas matérias. A questão política era algo intangível para um garoto de 14 anos, muito mais interessado em outras coisas mais próprias de sua idade do que se a Revolução de 64 havia sido boa ou não. Eu sabia que meu pai era um anticomunista ferrenho, e isso me bastava. Se ele era contra as idéias de Marx, eu também era, e pronto. Já no tocante ao civismo e ética, nada daquilo que era ensinado nas aulas me era novidade. Civismo? Eu morei durante boa parte da infância, numa pacata cidadezinha da Pensilvânia, e na escola o civismo era um dos pilares do ensino. O amor à pátria, o respeito às leis, a Regra de Ouro da ética ("Não faça aos outros aquilo que não admites que façam contigo"), eram tão corriqueiras quanto o jogo de baseball na hora do recreio. E quanto aos outros aspectos de respeito ao próximo e ojeriza à mentira, o cinto do meu pai, de couro grosso e fivela dupla, valia por mil aulas. Ainda assim, eu tirava boas notas em ambas as matérias, consideradas "fáceis" - o que não era o caso de Matemática ou Francês, onde eu me arrastava de uma série a outra.

Creio que não existe mais Educação Moral e Cívica nas escolas. Talvez tenha se tornado uma matéria politicamente incorreta, nesses tempos em que a "nova educação" prescinde de ensinar o português correto e adota a esculhambação gramatical como aceitável, ajudando a formar legiões de ignorantes e iletrados que servem à perfeição para votar em outros iletrados e ignorantes. Mas faz falta, se querem minha opinião. Talvez, se ensinassem um pouco de ética básica na escola, não precisaríamos de tantas penitenciárias. Talvez esses estudantes, quando crescessem, e resolvessem seguir pelo caminho da política, pensassem mais no povo que os elege, do que no seu poder e fortuna pessoal. Quem sabe?

E já que atrevo-me a dar conselhos educacionais (ainda estamos num país livre, espero!), vou dar mais um. Não creio que o Ministério da Educação, em tempos de Haddad e Mercadante, vá aceitar minha sugestão, mas... isso não lhe tira o mérito, muito antes pelo contrário. Retornem com a Moral e Cívica! Ensinem ética na escola! 

E para contribuir ainda mais com a questão, anexo um vídeo que achei por aí, que pode servir de "aula magna" reintroduzindo a velha e boa MORAL e CÍVICA nas escolas brasileiras. Certamente será uma aula controversa, vai gerar discussões inflamadas, como é da natureza de todo bom assunto.

Quem ministra essa aula é um professor de ilibada reputação, um jurista cuja história é parte da história do Brasil, do lado BOM do Brasil. Cujas credenciais são sólidas, em defesa da cidadania, dos direitos humanos e da moralidade pública. Advogado formado pela USP em 1947, jurista, ativista de direitos humanos. Um homem de esquerda. Não dessa esquerda de araque que grassa na América Latina nos nosso dias, mas de uma esquerda cuja preocupação maior era a diminuição da desigualdade entre as pessoas. Essa esquerda que não existe mais, seduzida que foi pelos charutos Havana e uísque 12 anos tão próprios do poder. Sobrou nas almas e mentes de poucos, e resiste bravamente na mente ainda afiada desse senhor de 90 anos. Ele lutou por isso. No auge da ditadura, enfrentou e venceu o Esquadrão da Morte, e nem mesmo o mais feroz dos generais encontrou nele uma falha moral que lhe permitisse cassar-lhe os direitos ou levá-lo a um dos porões da repressão. Fez carreira política, sempre dentro do PT. Deixou o partido em 2005, desiludido com os rumos que o partido e seus donos seguiram após se apossarem do poder.

Peço desculpas antecipadamente por algumas inserções no vídeo, a meu ver desnecessárias e que na verdade tiram o foco do mais importante: as palavras de um homem honesto, de rara inteligência, e sua desilusão frente ao que se transformou um ideal depois de vislumbrar a chave do cofre. O video não e de minha lavra - eu teria mantido apenas a entrevista. Sejam pacientes, portanto, o vídeo é um tanto longo.

Com vocês, o professor Hélio Bicudo.




Um comentário:

Cláudia Nogueira disse...

Em entrevista ao Pedro Venceslau do Brasil Econômico no ano de 2010, Hélio bicudo comentou e "profetizou":

"Estou afastado da questão partidária. Quando me perguntam em quem vou votar eu respondo. Se Dilma vencer, o Brasil passará por um processo de mexicanização.

Eu temo que o Brasil enfrente 30 anos de corrupção. O PT de hoje é um partido de direita. Não tem nada a ver com o partido que fundei."