sábado, 11 de agosto de 2012

Pinóquio e o PT

Nasci em 22 de fevereiro. Enquanto menino, morava nos EUA, e o tema recorrente nas minhas festinhas de aniversário era, de modo geral, uma alusão a George Washington, um dos "founding fathers" do país, e seu primeiro presidente. George Washington também nasceu em 22 de fevereiro, em 1732. Não se sabe se é lenda ou realidade, mas sobre Washington há uma história curiosa acerca de um fato ocorrido na sua infância. Segundo dizem, aos seis anos, ele ganhou do pai uma machadinha. E num ato de traquinagem tipicamente de garoto, resolveu testar a nova ferramenta cortando uma cerejeira que havia no quintal da casa da família. Realizado o mal-feito, ele viu o estrago e calou-se. Mas não demorou para o pai, severo educador, descobrir a árvore cortada, e enfurecido, exigir que o culpado se entregasse. George, mesmo sabendo que não escaparia do castigo, foi ao pai e contou que fora ele que decepara a muda. Disse que não poderia jamais contar um mentira. O pai o perdoou, dizendo: "Meu filho, o fato de você não ter mentido vale para mim mais do que mil cerejeiras, ainda que sua flores fossem de prata e as folhas de puro ouro!"

Nas minhas festas de aniversário, sempre havia uma alusão ao pai da nação, e à história da cerejeira. A decoração do bolo vinha sempre em torno desse tema, uma machadinha e uma arvorezinha cortada, feitos em glacê colorido. Eu morria de pena da coitada da árvore sacrificada, tanto que odiava quando chegava o dia de buscar um pinheiro cortado, exalando perfume da seiva derramada, para o Natal. Eu aprendi três coisas com essa "doutrina": Gostar de cerejas, ser um amante das árvores e ter uma certa ojeriza por mentiras. Não que seja imune a elas, não me entendam mal. Conheço o valor estratégico de uma mentira, assim como todos. As exceções, segundo consta, são os portadores da Síndrome de Down e os Na'vi, fictícios habitantes de Pandora. Mas há que separar as coisas. Nos Estados Unidos há um discernimento claro entre aquilo que se chama "white lie" ou "fib", pequenas mentiras que servem de lubrificante social, da mentira grosseira ou de má-fé, para enganar, ludibriar ou, na maior parte dos casos, evadir-se das consequências dos atos cometidos. No Brasil não há essa distinção clara, embora intuitivamente se reconheça uma diferença de gravidade entre mentiras com e sem intenção dolosa. A história de Washington é pouco conhecida entre nós. Mas há outra lenda, que é popular por essas bandas: a história do boneco Pinóquio e seu nariz delator. A cada lorota contada, um surto de crescimento do nariz do infeliz. E isso o delataria a todos, e o tornaria, além de boneco, um ser sem qualquer credibilidade. Pinóquio atingiu seu objetivo de transformar-se em gente - mas para isso teve que aprender que mentir é inaceitável. 

Ao que parece, a história americana é bem mais eficaz para forjar na cabeça das crianças a aversão à mentira. Embora não haja falta de mentirosos por lá, é aqui, no Patropi, que eles encontraram um habitat perfeito para seguir a orientação bíblica: "crescei e multiplicai-vos". No Brasil, a arte da mentira virou vantagem competitiva na seleção natural dos habitantes. Embora visto com severidade enquanto o mentiroso é criança, parece que ao ganhar a maioridade o brasileiro obtém, junto com a carteira de habilitação, um alvará para a mentira descarada. E se por ventura entrar para a política, a habilidade de aplicar caôs passa a ser pre-requisito mais importante do que qualquer diploma universitário. A inclinação dos políticos para a mentira no Brasil é folclórica. Ninguém sequer leva a sério quando um candidato a prefeito promete resolver o problema da segurança pública, não porque saibam que cinco minutos depois da posse ele vai mudar o discurso e afirmar categoricamente que "isso é atribuição do governador, não do prefeito", mas porque sabem que ele fala baboseira e nada fará, ainda que fosse mesmo responsabilidade do cargo que almeja. É coisa para entrar num ouvido e sair por outro, como se diz. Ou, como disse um ex-presidente, "é liturgia do cargo".

Porém, mesmo dentro desse manancial de invencionices e lorotas de maior ou menor periculosidade, nenhum peixe nada com tanta desenvoltura quanto os adeptos de uma seita que se denomina "Partido dos Trabalhadores". Que já faz apologia da trapaça no próprio nome, uma vez que seus líderes podem ser tudo na vida, menos "trabalhadores", na definição exata da palavra. Seu sacerdote-mor, uma espécie de papa do petismo, é aposentado por invalidez desde 1988, quando teve decepado o dedo mindinho num acidente assaz comum (até demais) num torno. Trabalhador? Conta outra! Claro: ele também ganha uma compensação do Estado por ter sido "prisioneiro da ditadura". Passou 31 dias preso, quando a ditadura no Brasil já era qualquer coisa menos dura. Foi muitíssimo bem tratado no DOPS, segundo afirmou em entrevista. Mas recebe como se lhe tivessem pendurado no pau-de-arara. Conta mais uma! E ele as conta, em profusão. A cara desse cidadão nem queima, ao falar coisas que fariam o Barão de Munchausen corar de vergonha.

Para o petismo, a mentira deixou de ter conotação negativa, e passou a ser requisito político essencial. Os membros do partido se esmeram e parecem até competir entre si, no afã de produzir a cascata mais inverossímil e dar a ela ares de "verdade divina" aos olhos dos brasileiros. Os néscios da massa acreditam piamente, assim como os devotos da Igreja Universal acreditam que aquela água anunciada na TV, tarde da noite, vai mesmo curar-lhes os males do espírito e do corpo. Os letrados (sendo bem generoso nessa acepção) se dividem: uns são petistas, e dessa forma tomam a palavra de José Dirceu, Delúbio, Lula, Dilma e companhia como mensagens vindas diretamente de Deus, e portanto acima desses conceitos chinfrins de maniqueísmo "verdade" versus "mentira". Se Lula disse que nada sabe sobre corrupção, isso não é algo que possa ser colocado em dúvida, jamais. Seria anátema, algo como duvidar da virgindade de Maria. Outros se permitem duvidar, e até reconhecer que quase tudo que sai da boca dos petistas é pura pabulagem, porém fecham os olhos e dizem, conformados: "Ora, eles são, mas quem não é?" Não deixam de ter uma parcela de razão, porque mentirosos os há de toda inclinação política. Mas em lugar nenhum o ato do aplique é tão defendido e reverenciado quanto nas hostes petistas. Demóstenes Torres mentiu, sobre suas relações ambíguas com o contraventor Carlinhos Cachoeira? Sim. Mas o ato dele não foi endossado pelo seu partido. Ele ficou à deriva, e perdeu o mandato com votos de seus correligionários. Caso tivesse sido absolvido no Senado, ninguém dançaria o "funk da pizza" em sua homenagem. Se, por outro lado, ele fosse do PT, haveria uma tropa de choque pronta a lhe defender com unhas e dentes. Porque é assim que pensa e age o PT: mais do que justificar os meios, os fins são supremos, e nada, nenhum tremor de decência ou autocrítica, pode barrar-lhes o caminho. E o fim é um só: a perpetuidade no poder. 

Preciso citar exemplos? Face a profusão de conversas fiadas aplicadas desde a chegada do PT ao poder, fica difícil selecionar os mais emblemáticos. Eu começaria pela afirmação de Lula que nada sabia sobre o esquema de corrupção realizado por seus amigos e parceiros de partido, com vistas a garantir a "governabilidade", conhecido como "Mensalão". Conta outra! Depois, a negativa da Dilma em ter se encontrado com a então Secretária da Receita Federal, Lina Vieira, ainda na campanha de 2010, com o objetivo de "aliviar" a investigação sobre a "famiglia" Sarney. Conta outra! Nem preciso citar o desfile de caras-de-pau que andam pelos corredores do STF nos dias atuais, alardeando que "nada tinham a ver" com o Mensalão. Que foi, pelo visto, obra do Sobrenatural de Almeida, personagem rodrigueano que derrotava meu Fluminense nas tardes de domingo. Contem outra!

Uma que me chamou a atenção foi o trololó do atual candidato petista à prefeitura de Belo Horizonte, Patrus Ananias. Pelo rigor da Lei, ele não poderia ser candidato, porque ocupava, até o dia de seu anúncio pelo partido, um cargo na FIESP, ou seja, após o prazo final de desincompatibilização exigido por lei. Em início de junho, quando encerrou-se o prazo, o nome de Patrus sequer era cogitado para a eleição, pois o PT estava firmemente fechado com o PSB em torno da reeleição do prefeito Márcio Lacerda. A coligação foi rompida, e em princípio de julho, o nome de Ananias foi anunciado por Lula e Dilma. O candidato sequer se deu ao trabalho de retificar seu perfil na internet, em que se dizia Presidente de um Conselho na FIESP, enquanto não foi alertado para o problema. E aí surgiu a "renúncia" ao cargo na entidade, feita de forma providencial um dia antes do prazo fatal, e num dia em que a FIESP nem tem expediente, um sábado. A revista VEJA denunciou o fato, e na semana seguinte publicou uma carta do comitê de campanha do Patrus Ananias, na qual o missivista tenta fechar o argumento em duas frentes contraditórias: 1) Não havia incompatibilidade, pois o cargo na FIESP não impede a candidatura, e 2) o candidato renunciou no prazo legal, pois "já se falava em sua candidatura em Belo Horizonte" durante o mês de junho.  Ora, se não era preciso renunciar, por que renunciou? Por que falar em prazos? Conta outra, Patrus Ananias! Enfim, o juiz eleitoral que decidiu o caso resolveu considerar como válida a renúncia feita um mês antes da hipótese da candidatura, e estamos conversados. Sinal que os crédulos não são todos analfabetos. Assim como na Igreja Universal, também há gente com curso superior querendo se benzer com 318 pastores. Paciência. Aos olhos do magistrado, colou. Aos meus, nem a pau, Juvenal. Patrus Ananias pode até ter sido um bom prefeito, um bom ministro, e pode ser ótima pessoa. Mas nessa aí, ele seguiu a velha cartilha petista: mentiu. E um sujeito que já começa mentindo, merece crédito?

Enfim, a seguir a tendência atual, em que o PT parece que vai mesmo ter sucesso em ficar no poder por mil anos, assim como pretendido pelo Terceiro Reich, nós, aquele pequeno grupo de brasileiros que enxerga um palmo além da ponta do nariz, vamos ter que ir nos acostumando com a contumácia de mentira dos dirigentes petistas. Vamos dar risadas nervosas, vamos escrever em blogs, vamos fazer mil charges a respeito. E os mentirosos estarão aí, a exercer seu ofício. 

Resta rogar-lhes a praga da fábula: Que seus narizes cresçam para sempre. Assim saberemos reconhecê-los à distância.

Um comentário:

Euler Eustaquio disse...

Roland
Parabens pela pstagem.Nuca vitanta verdade escrita por uma pessoa.Pena
que no Brasil essas coisas são corriqueiras.Acostumamos com as mentiras.No Brasil temos varias quadrilhas CV no rio PC em SP mas a maior de todas acupa todo a Pais e é conhecida por PT uma corja de ladroes apoiados por sindicatos sem ideologia querendo levar tudo.
Pena, nós trabelhadores pagamos uma das maiores taxas tributarias do mundo e o pior não temos retorno em nada,temos o pior
serviço de sude do mundo educação nem se fala segurança então fica
sem comentar.estamos nas maõs de
bandidos tanto no governo quento na sociedade.
Um abraço
Euler de Almeida