quinta-feira, 26 de julho de 2012

Os Idos de Agosto estão chegando!

"A culpa é toda minha, e portanto, eu a ponho em quem eu quiser!"
Homer Simpson

Julho vai findando, e o agosto que começa na semana que vem promete emoções dignas de Copa do Mundo. Não, não é a Olimpíada de Londres o motivo dos olhos grudados na tela da TV, dos debates inflamados nos bares e da troca de ofensas diuturnas nas chamadas redes sociais. A Olimpíada, em que pese sua importância esportiva e de orgulho (ou vergonha) nacional, empalidece frente às outras disputas que ocuparão corações e mentes nesse mês de agosto. Mês de desgosto para alguns, de vitórias para outros. Por um lado, a sequência de uma CPMI.  Que tinha importante função saneadora e moralizante, até o exato dia em que o relator, Odair Cunha (PT-MG) decidiu (ou decidiram por ele, que obedeceu, como bom militante que é) que a coisa perigava ir muito além da encomenda inicial, pisou no freio e puxou as rédeas da Comissão para direcioná-lo exclusivamente a seu terceiro e último objetivo sobrevivente: acossar um dos mais destacados e combativos governadores do PSDB. Os outros dois objetivos, a tentativa de demonizar a imprensa não-alinhada com o lulopetismo, abrindo caminho para mais um ataque à liberdade de imprensa sob o disfarce de "controle social da mídia", e a criação de uma cortina de fumaça para desviar a atenção popular do julgamento do Mensalão, já haviam fracassado inteiramente. Nesse exato dia, em que o relator saiu a questionar testemunha quanto ao papel de parede usado na "reforma" da casa que pertencera ao Marconi Perillo, a CPMI deixou de fazer qualquer sentido. Não vai passar disso. Não vai buscar esclarecer as tenebrosas ligações da Delta, braço financiador e parceiro do Carlinhos Cachoeira, com os governos que contrataram seus serviços. Não, isso não vai acontecer, e os protestos do Senador Álvaro Dias encontrarão ouvidos moucos. Já nem se fala no prefeito de Palmas, do PT, cujas ligações com o esquema Cachoeira-Delta são escancaradas, notaram? Tudo indica que a CPMI, no lugar de ofuscar o julgamento do Mensalão no STF, será fatalmente ofuscada por ele. Melhor seria fazer mesmo o tal "acordão", não se fala mais em Marconi Perillo, Agnelo Queiroz, Sérgio Cabral, deixa a Justiça Federal lidar com Cachoeira, esquece Cavendish, Pagot, Cabral e PAC. Libera os deputados e senadores para fazer como nós, simples mortais: ligar a TV na TV Justiça, e acompanhar o "julgamento do século", a Ação Penal 470, vulgo "Mensalão".  Esse sim, será o assunto para aquecer as frias noites de agosto.

O que dizer da AP 470? 

Sinceramente, não sei. Conhecendo um pouco o Judiciário, creio que é temerário fazer qualquer prognóstico. Cabeça de Juiz, sabem como é. No frigir dos ovos, cada um dos Onze (sim, o amigo fraternal de José Dirceu, Antonio Dias Toffoli, estará lá, cumprindo o que lhe foi determinado) vai analisar e emitir sua sentença sobre cada um dos 36 réus (dois serão absolvidos, a pedido do MP). Pelo que sinto, eles não estão sendo afetados em seu discernimento jurídico por nenhuma das canhestras tentativas de imposição de decisão ventiladas pela imprensa cooptada, nem pelos petistas cada vez mais inquietos e apreensivos. Mas que essas manobras são um capítulo à parte, isso são. A coisa começou com a tentativa de intimidação do ex-presidente Lula sobre membros do STF, para que o processo, que já mofa na fila há mais de cinco anos, não fosse apreciado "em ano eleitoral", mesmo estando maduro para tal. Gilmar Mendes, a princípio, seguiu a sabedoria mineira: não havia mérito em escancarar o comportamento deplorável de Lula, primeiro porque eles são (ou eram) amigos, segundo porque não se ia ganhar, institucionalmente, coisa alguma com a denúncia da pressão lulista. Acossado por uma campanha difamatória orquestrada nos porões do petismo aloprado, Gilmar não teve outra saída senão botar a boca no trombone. Deu no que deu: um ex-presidente que não teve sequer a coragem de vir a público e chamar seu acusador de mentiroso, deixando a tarefa para a militância. Medo de ser desmentido  posteriormente, talvez. Mais: o ato não-republicano do Imperador de Banânia abespinhou a suprema corte, que a partir de então correu célere para fazer o que já se imaginava quase inviável: julgar os mensaleiros ainda em 2012, e antes das aposentadorias de Cesar Peluzo e Ayres Brito e sua troca por dois "Toffoli" mais ao gosto dos petistas. Ayres Brito cobrou o chicaneador Lewandovsky, que, sob risco de cair na crítica de seus pares e da sociedade, entregou sua revisão do processo a tempo para o início do julgamento em 2 de agosto. Fechou-se a porta da procrastinação. O PT tentou abrir outras. Tentou destruir a reputação de Gilmar Mendes, acusando-o de ser anti-PT, corrupto, nepotista e vendido ao PSDB. Esqueceu, providencialmente, das decisões do próprio Mendes, contraditórias até, que beneficiaram membros do partido em passado recente. Tentaram forçar o ministro a se declarar impedido. Fracassaram novamente.  Ato continuo, o réu-maior, "líder de sofisticada organização criminosa" (as palavras não são minhas, estão na peça acusatória da PGR), José Dirceu, foi "às bases", reuniu a companheirada da CUT e, num curioso paralelo com o ato moribundo do Collor antes de renunciar, "motivou" os sindicalistas pelegos a "botarem a massa na rua", caso o desfecho seja sua condenação. Não parece ter conseguido motivar mais do que meia-dúzia de gatos pingados. Surgiram as opiniões de juristas a soldo do PT, dizendo que o julgamento teria que ser "técnico" e não "político", deixando claro que "técnico" no idioma do petismo, é sinônimo de "absolvição". Embora estapafúrdia, a teoria foi adotada com gosto pelos blogs repletos de militantes que, se mal sabem ler e escrever, sabem muito bem seguir os ditames dos seus manipuladores. O STF, impávido, não tomou conhecimento das maquinações do submundo petista. Nenhum ministro quis debater o assunto, até para não criar mais celeuma num assunto que é responsabilidade exclusiva do tribunal. Muito pelo contrário, os membros do STF trataram de agilizar os procedimentos para o julgamento, criando mecanismos para desarmar agilmente as inevitáveis tentativas de chicana. E saíram de férias. Imagino o efeito que tal comportamento teve nas hostes do petismo centrado na figura de Zé Dirceu. Fica cada vez mais evidente a veracidade da declaração de Gilmar Mendes, ao relatar seu encontro com Lula: "O Zé Dirceu está desesperado".  Pelo visto, está mesmo. E seu desespero eclodiu em outra manobra digna de riso: a tentativa de "tirar o seu da reta", jogando a culpa toda da maçaroca nas costas do "boi de piranha" do PT, o "professor" Delúbio Soares, que era tesoureiro do PT à época.  Delúbio encarnaria o capeta, o tinhoso, o coisa-ruim, e traria para si toda a ira persecutória do STF, livrando a cara dos "maiorais" do partido, Zé Dirceu e Genoíno.  Teria, talvez, um busto em bronze no Instituto Lula, como o mártir que se imolou pela "causa". Não deu certo, aparentemente. Afinal de contas, os autos do processo estão conclusos, não adianta querer mudar os fatos, sete anos depois. Também andaram esquecendo de "combinar com os russos", como se diz, porque o advogado de Delúbio afirmou hoje que o tesoureiro apenas cumpriu ordens da direção do partido. Acho que o busto em bronze já era. Assim como de nada adiantam as afirmativas de Lula de que "o Mensalão não existiu". Ora, se não existiu, de que mesmo Lula se desculpava, naquele pronunciamento pela TV? E o Silvinho Land-Rover, coitado, confessou e foi prestar serviço comunitário, de graça? A tese de que o PT tenha feito um acordo de financiamento eleitoral de outros partidos não encontra sustentação na lógica. O partido estava virtualmente quebrado em 2004, depois da gigantesca campanha para eleger Lula. Mal tinha para si, com uma dívida imensa. Iria financiar PR , PTB e outros partidos menores, a troco de que? A troco de apoio nas votações no parlamento, ora.  Precisamente aquilo de que é acusado: comprar votos favoráveis ao governo, no congresso nacional. Em bom neo-português: mensalão. "Ah, mas havia petistas pegando dinheiro também... se eram do PT, não seria necessário dar dinheiro para eles votarem com o governo!". Assim gritam os petistas. Pura lorota: Quem anda acompanhando o que acontece na Câmara dos Deputados nas últimas semanas, tem visto o presidente da casa, Deputado Marco Maia, fazendo verdadeira chantagem contra o governo, na busca de verbas paroquiais. E ele é do PT! Voltando ao mensalão, corrupto é corrupto, não tem filiação partidária, muito menos ideologia. O fato é que o argumento dos mensaleiros, de que o dinheiro era mero caixa 2 de campanha, e servia para pagar compromissos dela oriundos, não se sustenta nos fatos: retiradas na boca do caixa, em valores até modestos, por congressistas. Coisa de R$ 50 mil para um, R$ 100 mil para outro. Uma típica mesada. Um "cala-boca", também conhecido por "jabá". Comandado por Zé Dirceu, o todo-poderoso articulador político do PT na Casa Civil. Gerido por Delúbio Soares, tesoureiro do partido. Operacionalizado por Marcos Valério, dono de agências de publicidade com acesso tanto à Câmara dos Deputados como outras fontes de recursos, como Banco do Brasil. Com dinheiro lavado em instituições bancárias obscuras como Banco Rural e BMG. Dinheiro obtido por apropriação indébita de verbas do Banco do Brasil, que deveriam  ter sido devolvidos ao banco e não foram (a absurda  decisão de Ana Arraes à frente do TCU, validando como legal um crime que aconteceu há sete anos, nem vem ao caso, o fato persiste que eram recursos do Banco do Brasil, à época, ou seja, meu, seu, nosso dinheiro).

E, agora, segundo deixa entrever a defesa de um dos participantes do processo, tudo foi feito sob a égide, senão comando supremo, daquele cujo nome faz uma falta imensa no rol dos acusados da Ação Penal 470: Luiz Inácio Lula da Silva. Que foi poupado do envolvimento, na ocasião, pela inoperância de um uma Oposição medrosa, que temeu a reação popular, no lugar de buscar a moralidade na coisa pública, doesse a quem doesse.

E agora?

Agora a máquina de versões do petismo parece que vai perdendo alguns parafusos. Como o julgamento é mesmo iminente, como o risco de condenação é real, e como todas as chicanas (das quais a mais risível é a carta remetida aos STF essa semana, por alguns advogados paulistas, entre os quais dois ligados umbilicalmente ao PT, pedindo que o julgamento seja adiado para não coincidir com as eleições, ou seja, os causídicos acham justo que julgamentos com efeito político só possam ser realizados em ano que não tem eleição) fracassaram, os petistas e demais envolvidos vão mesmo é adotando o comportamento de membros de uma quadrilha daquelas bem rastaqueras, de assaltantes, quando são colocados frente a frente na delegacia: um acusa o outro, que acusa o terceiro, cada qual querendo tirar o seu da reta. O chefe acusa o tesoureiro, que acusa o intermediário, que acusa o banco, que acusa o partido, que acusa todos aqueles que não são do partido, que acusam Lula que... não acusa ninguém, apenas diz que nada disso existiu, foi tudo invenção da mídia golpista.

"Sofisticada Organização Criminosa"?? Uma ova. Bando de ratos, isso sim.

E que venha agosto. O canal Justiça é capaz de ter mais IBOPE do que a vilã Ritinha, da novela global.

Nota: Agora à noite (26), o advogado Antonio Malheiros Filho, defensor de Delúbio Soares na Ação Penal 470, enviou nota ao jornal O Globo para alterar as declarações publicadas nestaquinta-feira. Na entrevista concedida ao jornal, Malheiros declarara que "todas as decisões (do partido) eram do colegiado, da Executiva". Segundo O Globo, na nota o advogado ajustou as declarações para também poupar a direção petista, como vinha fazendo o ex-tesoureiro do partido e réu no processo do mensalão.

Como se vê, nada muda no PT. "Cumpanhêro" tem mais é que andar na linha e seguir as ordens. Delúbio foi escolhido o "cavalo" do espírito maléfico da incorporação da culpa coletiva, que ele que não se meta a relinchar justo agora na hora da onça beber água. Cabrito bom não berra. Aquele busto de bronze é bem capaz de sair, no final das contas.

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