segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Lula é o Tufão da política?



Há pouco mais de sete anos, um vídeo que mostrava o então diretor dos Correios, indicado por um partido aliado do governo de Lula, recebendo maços de dinheiro vivo, provocou uma reação em cadeia que levaria ao maior escândalo na história da República brasileira, o suborno sistemático de congressistas de outros partidos (e até do próprio PT, quem conhece como funciona a colcha de retalhos ideológica do petismo sabe que ali os interesses pessoais tendem a sobrepujar os partidários) para que seguissem, feitos títeres, os mandamentos emanados do Planalto, nas votações da Câmara dos Deputados. O que se buscava com isso era um golpe contra a democracia, a traição da vontade popular, sob o eufemismo de "governabilidade". Certamente não terá sido a primeira vez que políticos trocam votos por favores pessoais nessa República, mas foi a primeira vez em que isso foi adotado como uma ferramenta contumaz de governo. E, pior, o petismo, àquela altura endividado com os gastos abusivos da campanha eleitoral de 2002, não tinha de onde tirar os recursos para pagar a propina. Como sói acontecer nesses casos, voltaram os olhos cobiçosos para o dinheiro público, o qual foi dilapidado sem cerimônia, para pagar os caraminguás que davam de presente para deputados, e que ganhou o nome de Mensalão. 

O esquema ia bem, até que o vídeo mostrado na TV levou ao escândalo, potencializado pela decisão de um dos beneficiados, o ex-deputado Roberto Jefferson, de não ir a pique sozinho. Ele botou a boca no trombone, e com isso deixou um rastro de evidências e denúncias que, por pouco, não levaram ao impeachment do então Presidente. Só não deu em processo de cassação, por covardia da oposição, temerosa da reação popular diante de uma governo recém-empossado, e que prometia mudar o país, principalmente na questão da pobreza. Em nome de um "respeito" indevido, Lula foi poupado.

Antes disso, porém, o Presidente, já com medo de se ver envolvido no escândalo (que viria a ser mais um dentre muitos de seu governo), inaugurou sua estratégia que se tornaria um favorito nas hostes do petismo: "Eu não sabia de nada". Era uma afirmação difícil de ser levada a sério, pois ele havia sido o principal beneficiado do esquema criminoso e, nas palavras de seu "Primeiro-Ministro" ad hoc, José Dirceu, "nada se fazia no PT sem o conhecimento e aval de Lula". Lula escancarou: foi à TV, e num pronunciamento que hoje é antológico, pediu desculpas à nação pelo mau comportamento de seus correlegionários. Se disse traído, chamou os fatos de "inaceitáveis" e pediu desculpas.  Passados sete anos, há quem duvide disso. Pois o vídeo está aqui, para refrescar a memória:


Já em 2011, com a progressão do caso do Mensalão de um simples escândalo (ora, foram tantos...) para um processo judicial no Supremo Tribunal Federal, com perspectivas concretas de acabar não em pizza, mas em cadeia, principalmente para a cúpula petista comandada por José Dirceu, Lula resolveu mudar o discurso. Esqueceu seu pedido de desculpas, e passou a acusar os acusadores. Surgiu uma versão alucinada de que o Mensalão teria sido uma "farsa", montada pela oposição e pela "mídia golpista" (da qual o mais odiado participante é a Editora Abril e sua revista semanal, a Veja), com o apoio logístico e operacional de um contraventor goiano, o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Não se falou mais naquela confissão e pedido de desculpas de 2005. Era como se Lula agora se confessasse "traído" pelas informações errôneas que teria recebido, dando conta das estrepolias de seus colegas do PT, e agora afirmava que era tudo invenção, uma farsa. Quer dizer, o cidadão primeiro se diz traído, depois muda e se diz traído, não pela "esposa", mas pelo "Ricardão"....  Como se viu depois, pelo resultado do julgamento da AP 470, o Mensalão, essa história de "farsa" não passou mesmo de uma ... farsa! Lula talvez devesse ter voltado à sua versão de 2005, e se confessado traído duplamente, primeiro pelo ato em si, e depois pela negativa do ato, tudo culpa de seus interlocutores no PT.  Não o fez, óbvio, e pelo visto, agora segue firme na nau dos insensatos que questiona o julgamento realizado por uma Suprema Corte da qual mais de metade dos membros foram escolhidos e nomeados por ele mesmo. 

E agora, mais um escândalo, no longo rosário de mutretas levadas a cabo por gente graúda do PT. Como escreveu Reinaldo Azevedo no seu blog, "a cada enxadada, uma minhoca". A Polícia Federal recebeu uma denúncia, foi atrás, e... voilá: mais uma roubalheira, mais uma corrupção em série, mais podridão... mais minhocas. Dessa vez, a secretária responsável pelo escritório da Presidência da República em São Paulo, pessoa de confiança de Lula, tanto que o acompanhou por mais de uma década, tendo sido mantida no cargo pela Dilma por imposição do ex-Presidente, resolveu "tirar o seu", seguindo o exemplo de tantos outros. Cobrava uns trocados aqui, uma viagenzinha acolá, coisas miúdas, para obter pareceres de encomenda de órgãos do governo, como ANA e ANAC, para empresários interessados. Transformou o escritório da Presidência da República Federativa do Brasil, em São Paulo, num free-shop de favores vendidos a preços de ocasião. Poderosa, indicou e conseguiu emplacar nas diretorias de agências reguladores, apadrinhados seus, que muito facilitariam seus negócios. Arrogante, exigia tratamento de "madame".

Descoberta a maracutaia, a moçoila "madame" foi para o olho da rua, e responde a processo, assim como várias pessoas ligadas a ela. Isso pode parecer um ato de eficiência da Presidente Dilma. Não é. Eficiência seria ela nem ter mantido no cargo essa pessoa, tendo por fiador apenas a palavra de Lula que, como se sabe, tem um valor relativo nas horas de crise. Há quem diga que Dilma foi isenta e democrática, ao "permitir" que a Polícia Federal fizesse a investigação! Vejam só a que ponto chegamos! É bem possível que Dilma, quando ainda era Ministra-Chefe da Casa Civil, tenha dado ordens à então-Secretária da Receita Federal, Lina Vieira, para que encerrasse logo a investigação que a SRF conduzia sobre a família Sarney, aliada do governo Lula. Ela nega, a Lina Vieira confirma, ficou uma palavra contra a outra, o assunto morreu. Talvez nunca venhamos a saber a verdade dos fatos. Mas daí a imaginar que ela poderia impedir o trabalho da Polícia Federal, é um despropósito. Seria crime de responsabilidade, e além de tudo, seria inócuo, pois a Polícia Federal não é a KGB do governo - é a Polícia Federal do Brasil, ora bolas.

E onde entra o Tufão nessa história? Afinal de contas, colocamos lá no topo uma charge do Lula empunhando a máscara do chifrudo mais célebre da televisão brasileira...

Ao tomar conhecimento do (novo) escândalo, agora envolvendo sua apadrinhada Rosemary Noronha, quando chegou de seu périplo à Índia em busca do Prêmio Nobel (!!!), Lula novamente recorreu ao paradigma do marido traído, ao pegar a companheira no pulo: "Eu me senti apunhalado pelas costas".  Ou seja, o eterno desavisado leva mais uma rasteira de suas pessoas de confiança, e, mais uma vez, "não sabia de nada".

É possível que ele não soubesse mesmo. Afinal de contas, é corrupção de varejo. 

Mas... vai gostar de levar uma "facada nas costas" assim, lá em Mumbai, Lula! Desse jeito, sendo sempre o último a saber das coisas, o que o senhor me passa é uma terrível impressão de que não tem a menor noção de recrutamento de pessoal, e escolha de amizades!

Isto é, claro, se ele não chegar na TV daqui a uns anos e afirmar que foi tudo armação da Veja, não é?

PS: A Rosemary Noronha mandou avisar que "não afundará sozinha".  Foi montada uma operação especial do PT para "acalmar" a moça. Como conseguirão esse feito, não sei. Mas torço para que não consigam. Se ela decidir mesmo que vai naufragar agarrada a uns e outros, podem surgir dali coisas interessantes. Principalmente sobre a real utilidade do tal "Escritório da Presidência" em São Paulo. É aguardar e torcer.

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