segunda-feira, 18 de abril de 2016

As Neo-Velhinhas de Taubaté



Sim, eu sei. A Velhinha de Taubaté morreu. O Veríssimo matou-a em 2005. Segundo o autor do crime, na verdade ela morreu vitimada pela decepção com seu ídolo, Antonio Palocci, em quem acreditava cegamente, e que destruiu as ilusões da sua fã ao chafurdar feito um Duroc calorento na lama do Mensalão. O coração da velhinha não suportou saber que todas suas ilusões foram implacavelmente assassinadas. Ela, que acreditava em  todo mundo, até no Lula, perdeu a vontade de viver. 

Mas, ao que parece, deixou uma legião de herdeiros. Desde maridos e esposas vítimas de traição e que não se convencem da infidelidade do seu par nem mesmo ao vê-los sair do motel com outra pessoa ("vai ver, só foram conversar!") até gente cujas convicções políticas lhes coloca uma venda nos olhos, enquanto os que lhes manipulam colocam uma cangalha nos seus ombros. 

Bem, chega de falar da Velhinha: afinal, seu criador, segundo consta, também faz parte da turma que ainda crê no inverossímil. 

Falemos dos "neo-velhinhas de Taubaté". Eu não consigo atinar o que possa ter havido com o discernimento dessa gente. Ando evitando tomar vacinas aprovadas pelo governo, porque na minha paranoia, desconfio que as vacinas possam conter um vírus que destrói o senso de ridículo das pessoas que tem predisposição a uma síndrome que denomino "SPSN" ou "Síndrome do Petista Sem-Noção". O que acontece com esse povo? 

Eles acreditam que Lula realmente não sabia de nada.
Eles acreditam que Dilma também não sabia de nada.
Eles acreditam que o sítio de Atibaia e o triplex do Guarujá não sejam, mesmo, do ex-presidente.
Eles acreditam que o crise econômica é causada pela .... oposição!
Eles acreditam que a Operação Lava-Jato é uma conspiração da CIA com a Rede Globo.
Eles acreditam que José Dirceu precisava mesmo daquela "vaquinha" para pagar a multa que lhe foi imposta na condenação do Mensalão.
Eles acreditam que Dilma e demais terroristas dos anos 60 e 70 lutavam pela democracia.
Eles acreditam que Lula tirou 40 milhões de brasileiros da miséria.

A lista é longa.... não dou conta de escrever tudo. No resumo da ópera, os que sofrem dessa síndrome acreditam naquilo que ouvem, da boca dos seus "líderes". Senso crítico? Pra quê? Desconfiômetro? Não! Um mínimo de senso de ridículo? Ridículo, para eles, é não crer nas palavras de um José Eduardo Cardozo, de um Rui Falcão, de um Jaques Wagner. Esses são os apóstolos do "Grande Líder", e suas palavras não podem ser contestadas e pronto. Desde que Dilma negou que tenha se encontrado com a ex-Secretária da Receita Federal, Lina Vieira, para tratar da investigação da família Sarney, em 2009, uma mentira tão óbvia que clama aos céus, ela também entrou no Olimpo daqueles que, na visão dessa gente, são incapazes de contar uma mentira sequer. O estelionato eleitoral de 2014 nunca existiu, na cabeça dessa gente (bem, aqueles que perderam seus empregos desde então, uma legião de uns 3 milhões de cidadãos, talvez tenham se curado da síndrome porque, como diz o velho ditado francês dos tempos do Terror, "a visão do patíbulo aguça a mente". Mas nem isso é certo. O estrago cerebral que 13 anos de bazófia petista são capazes de provocar, ainda não foi adequadamente dimensionado). 

Essa semana, tivemos mais umas provas da existência dessa desconexão cerebral dos petistas com a realidade dos fatos. A votação, na Câmara Federal, para a admissibilidade do processo de crime de responsabilidade contra a presidente Dilma Rousseff. O que se viu foi surreal. Primeiro, tentaram impor uma Comissão Especial submissa ao governo. E acharam que haviam conseguido, quando o STF se meteu onde não devia e produziu uma quimera jurídica absurda que impôs ao Legislativo, numa clara afronta ao princípio constitucional da separação dos poderes. O meu malvado favorito, Eduardo Cunha (longe de mim defender o deputado, quero que seja cassado tanto quanto qualquer um), como de bobo não tem nada, soube jogar o jogo do PT melhor que os petistas e emplacou uma Comissão que, se não era o sonho da oposição, também não tinha pendores pró-PT. A tigrada petista apostava na mediocridade do relator, o até-então obscuro deputado do PTB de Goiás, Jovair Arantes, um pacato dentista, para produzir um relatório inexpressivo, eivado de inconsistências e erros, que seria esmagado tanto no STF quanto na Câmara. Erraram, e erraram feio. O relator produziu um documento praticamente impecável, virtualmente blindado contra vigarices jurídicas dos "doutores" do PT. O Jovair foi fenomenal: teve o cuidado de remover do relatório toda e qualquer menção a acusações que extrapolavam as contidas no pedido de impeachment feito por Hélio Bicudo, Janaína Paschoal e Miguel Reale Jr, e com isso abortou as tentativas canhestras da Advocacia-Geral da União (leia-se: Advocacia-Geral da Dilma) de impugnar o relatório. Mas nos debates da comissão, a que todos os deputados da Câmara assistiram, o libelo não ficou restrito às "pedaladas" de 2015 e a remanejamentos do Orçamento, crimes sem dúvida, mas que por si só dificilmente fariam 367 deputados votar "SIM" na noite de ontem. Não.. nos debates falou-se de tudo: das pedaladas de 2014 (que, por uma interpretação tresloucada da Constituição por parte do STF, foram consideradas "atos estranhos ao exercício do cargo"), à delação de Delcídio denunciando as tentativas de Dilma de obstruir a Justiça, passando por Pasadena e as conversas indecentes da Presidente com o seu "chefe" Lula. Tudo isso foi banido do relatório, mas não da mente dos congressistas. Como apagar? Impossível. E assim, livre das amarras jurídicas absurdas, os deputados puderam votar com conhecimento pleno de causa. Um lance de mestre, do "desprezado" Jovair Arantes.

Muito bem, mas falávamos da "síndrome". Voltemos a ela. Desde que saiu o relatório da Comissão Especial, e Eduardo Cunha marcou a data da votação no plenário, ficou claro que o governo teria dificuldades em barrar o processo. Reinaldo Azevedo, no seu blog da Veja On Line, chamou a atenção para esse fato. Os acontecimentos posteriores como a divulgação dos grampos telefônicos de Lula com a presidente torpedearam muitos apoios que o governo ainda tivesse. Ninguém chega a deputado federal sendo obtuso ou bobinho. Nem o Tiririca. A ala dos indecisos, que geralmente se notabiliza por votar com o governo em troca de um asfalto aqui ou um posto de saúde acolá (quando não presentinhos mais pessoais) viu que ia ficar difícil explicar aos seus eleitores uma opção por um governo inepto, corrupto (não que eles se importem com isso!) e principalmente falido, ainda mais em vista de uma possível cassação. Já pensaram? Como um deputado vai explicar que apoiou um governo morto, que nem mesmo conseguir se manter no poder? Na política, vergonha é perder, diz a "sabedoria" popular. O Estadão e a Veja montaram infográficos mostrando a intenção de voto dos deputados, baseados em opções declaradas por eles mesmos. E esses gráficos deixavam claro que o impeachment contava com algo como 320 votos, sobrando quase 100 indecisos ou que não declararam o voto. Ora, se 320 já tinham deixado claro que diriam "SIM", como imaginar que não haveria mais 22 entre esses 80 ou 90 restantes? 

Mesmo assim, imperou a "síndrome". Óbvio que não se pode esperar que um José Guimarães ou um Afonso Florence, do núcleo duro do PT, admitissem que iriam perder. Seria o mesmo que perder por antecipação. Eles tem o dever de mentir, não é? Mas entre mentir e ACREDITAR nessa mentira, deveria haver um fosso de bom-senso. E aqui entrou a "síndrome". A petezada ACREDITOU. O espírito da Velhinha de Taubaté ressurgiu do além e se apossou da mente da massa. Senão vejamos algumas afirmações extraídas de um dos principais blogs a serviço do petismo mais rasteiro, o "Brasil 247":

"Frente contra o Golpe é assinado por 186 deputados" (Leonardo Attuch)

"A Frente em Defesa da Democracia foi protocolada no Congresso com 186 assinaturas de deputados, 14 a mais do que o necessário para barrar o impeachment. Então, quem está mentindo para enganar a sociedade são os golpistas!" (Leopoldo Vieira)

"O golpe perde apoio - a oposição está longe de conseguir os votos na Cãmara" (Laurez Cerqueira)

"Golpistas perdem votos e o Brasil amanhece ao som de "Vira, Virou" (Brasil 247)

"O blefe dos 342 votos que eles não tem" (Alberto Cantalice)

"Movimento "Nem Dilma nem Temer tira 30 votos dos golpistas" (Tereza Cruvinel)

"O impeachment não passará na Câmara" (João Carlos Gonçalves, Força Sindical)

"Sem votos para o golpe, Cunha poderá adiar votação" (B247)

"Planalto garante que tem mais de 180 votos" (Brasil 247)

"Mais de 100 deputados já deixaram Brasilia e desligaram os celulares" (Roberto Requião)

"Já temos 179 votos garantidos" (Jaques Wagner)

"Governo virou a noite em vantagem" (Ricardo Berzoini)

Que os chefôes da organização criminosa que vai sendo escorraçada do poder afirmem essas besteiras e sandices, vá lá. Eles são pagos para isso.

O incrível é ver um monte de gente acreditando nisso, e depois vendo a realidade se impor: 367 votos a favor do impeachment, 25 a mais do que o necessário. E o governo, cadê os 180 votos? Viraram 137, mais 7 abstenções e duas ausências.

Agora, a ópera-bufa volta com força total: o PT já anuncia por meio de seus bate-paus de nariz marrom, que terá maioria no Senado para rejeitar a denúncia e salvar Dilma. De novo, a tigrada se anima, fala em ir às ruas, comemorar a vitória. De novo, serão desmentidos pelos fatos. Para tirar Dilma do poder por 180 dias, basta maioria simples (metade mais um dos presentes) no dia da votação. Dessa vez, o artifício de pedir (e pagar) para que congressistas faltem, não vai adiantar: vale o quorum do dia. Se tiver 42 senadores no plenário, o voto de 22 já manda Dilma para casa. Segundo a Veja, 45 senadores já se posicionaram a favor do impeachment. Alguém ainda alimenta dúvidas?

E será que alguém acredita que Dilma possa voltar, ao fim dos 180 dias de afastamento?

Nem a Velhinha de Taubaté. Desculpe, Veríssimo.

2 comentários:

Augusto José de Carvalho Neto disse...

Perfeito o seu comentário, meu caro Roland. Agora o que resta para a petezada é juntar os cacos, pedir o boné e tchau.

Augusto José de Carvalho Neto

Wilkens disse...

Opa Roland Cooke, sou um camarada seu de facebook.

E apenas para ilustrar a vexame que é esse partido, vou colocar alguns números.

Tirando os votos do próprio PT e dos "cegos ideológicos" PCdoB e PSOL (da esquerda mais "dura"). Foram:
10 votos do PCdoB
6 votos do PSOL
60 votos do PT
Totalizando 76 votos.

E como foram 137 votos contra o impeachment (137 - 76 = 61), temos 61 votos do NÃO nos demais partidos.

E, se você considerar uma Câmara sem o PT, PSOL e o PCdoB, então teremos uma Câmara de 437 (513 - 76 = 437).

Então a porcentagem de NÃO nos demais partidos, que foi 61, calculada em uma Câmara de 437...

Então, o governo, sem o núcleo duro, teve ínfimos 13,9% de apoio em todos os demais partidos.

Como um partido que tinha tanto apoio popular, e que ainda tem um pouco (não sei como!), e com a máquina governamental na mão, consegue a proeza de míseros 13,9% de apoio? Como isso é possível?

Essa mulher, se tivesse o mínimo de juízo, já tinha pedido a renúncia!

Que vexame!