terça-feira, 17 de julho de 2012

Um Yoda para Marconi Perillo



"À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta." 
                                                                           (Caio Júlio Cesar, 100 AC - 44 AC)



No post anterior, listei os argumentos que me levam à convicção da inocência do Governador do Estado de Goiás, Marconi Perillo, no tocante às acusações formuladas contra ele. Elenquei os prováveis motivos dessa perseguição sem quartel contra o político goiano do PSDB,  e aventurei-me a tentar reconstituir a sequência de eventos que acabaram deixando o Perillo nessa situação de vulnerabilidade, tanto legal quanto política. Reitero minha crença pessoal na lisura dos atos do governador. Tanto quanto pelas ilações nitidamente partidárias expostas pelos seus algozes, como por algo mais profundo e que vem de dentro, ao avaliar a postura franca e destemida do Perillo no enfrentamento das acusações feitas a seu respeito. Diziam os antigos que "quando a esmola é muita, o santo desconfia". No caso do Marconi Perillo, o ódio e sangue nos olhos de seus adversários deixam entrever um viés partidário e até mesmo desavença pessoal contra o governador. Eu tenho um certo horror a linchamentos, ainda mais a linchamentos onde a turba é toda composta de inimigos de longa data. Enfim, espero que a verdade prevaleça, e que eu não "pague língua" como se diz lá em Minas. 

Mas o que me leva a postar, ainda mais com a figura do impagável Mestre Yoda? E qual a ligação entre o sábio cavaleiro Jedi e o jovem governador goiano? Explico

Na saga de George Lucas, o jovem e impetuoso Luke Skywalker, que despontava como líder das forças de rebeldia contra o Império, sofre com sua própria inexperiência. Possui dentro de si todo o potencial do domínio da Força para a causa da liberdade, mas tropeça na inabilidade de controlar a Força. É imprudente, intempestivo, corajoso mas ineficaz. Seu destino, a seguir dessa forma, está selado: nunca será um cavaleiro Jedi, e terá morte medíocre numa batalha qualquer. Mas Luke é aconselhado pelo espírito de um Jedi morto, Obi-Wan Kenobi, a viajar para o planeta Dagobah, onde receberá treinamento Jedi. O jovem cavaleiro aprende, acima de tudo o mais, que a serenidade e a astúcia podem valer muito mais do que a força bruta.

Volto a Goiás. O governador Marconi Perillo é jovem. Desde sua estréia na política em fins dos anos 80, ainda ligado ao governador Henrique Santillo, ele teve uma carreira sólida e vitoriosa. Foi eleito governador pela primeira vez em 1998, derrotando as forças políticas mais influentes do estado, na pessoa de Iris Resende. Re-elegeu-se, cumpriu o segundo mandato, fez seu sucessor e foi eleito Senador. Teve atuação de destaque no Senado. Em 2010 foi eleito novamente ao governo do estado, derrotando outra vez Iris Resende, que contava com todo o apoio da máquina eleitoral petista. Era uma estrela em ascensão dentro do PSDB, com uma perspectiva brilhante. Um cavaleiro Jedi, por assim dizer.

Mas o cavaleiro tem seus pontos fracos. Não que ele seja atraído pelo Lado Negro da Força, o caminho fácil de aderir ao império lulopetista (o que lhe garantiria uma certa imunidade contra ataques, como se vê no caso de governadores com vulnerabilidades muito maiores, tais como Agnelo Queiroz e Sérgio Cabral, devidamente blindados). Não, Perillo não sofre tentações dessa ordem. 

Mas como comete asneiras, esse moço...

Marconi Perillo age como se tudo fosse natural e transparente. Age de consciência tranquila, sabendo que não comete crime algum, que não é corrupto. Nessa crença, ele vai esbarrando em atos que, se não são errados na essência, são equivocados na prática. Falta-lhe um Yoda, um conselheiro, na figura de um auditor de governança em caráter permanente. Alguém que lhe diga, com todas as letras, e de preferência ANTES do fato consumado, que:

Uma pessoa comum pode telefonar para um bicheiro, e desejar-lhe feliz aniversário. Um governador de Estado, não.

Uma pessoa comum pode vender sua casa sem a preocupação de saber das intenções de quem a compra, e da origem dos recursos. Um governador de Estado, não.

Uma pessoa comum pode se cercar de amigos de toda espécie, uns mais certinhos, outros notórios crápulas. Um governador de Estado, jamais

Uma pessoa comum pode entregar a administração de seus bens e negócios a amigos, notadamente os citados acima. Um governador de Estado, não, em hipótese alguma.

Uma pessoa comum pode chegar numa Comissão Parlamentar de Inquérito, e se recusar a revelar informações aos seus membros, tais como a abertura de seus sigilos bancários, fiscal e telefônico. Um governador de Estado, não - ainda mais se estiver óbvio que a Comissão vai quebrar esses sigilos de qualquer forma.

Uma pessoa comum pode pedir dinheiro emprestado aos amigos (embora seja o caminho mais certo para perder os amigos). Um governador de Estado, NÃO!  NÃO! NÃO!  Precisa de dinheiro, governador? Vá ao banco, de preferência um que não tenha negócios com o Estado, e solicite um financiamento! Nunca, jamais, em tempo algum, peça dinheiro aos amigos - ainda mais se esses amigos estiverem ocupando cargos no governo!

Uma pessoa comum pode fazer negócios particulares com membros de sua equipe na empresa onde trabalha embora isso seja pouco recomendável. Um governador de Estado, NUNCA!

A pessoa comum pode e deve ter amigos, daqueles famosos amigos do peito, como na música de Milton. Um governador não tem amigos. É duro constatar isso, mas são os "amigos" no governo que carregam em si a desgraça do governante. Porque raros são os amigos que não sucumbem à tentação de usufruir dessa amizade, além das fronteiras do razoável. Não, Marconi: um governador não tem amigos. Tem colegas de partido, auxiliares e subordinados. Uns mais confiáveis, outros não. 

O que falta ao governador, talvez, seja a consciência de quanto sua função é complexa, e alvo de intrigas de toda espécie. A inveja, o despeito, o rancor dos derrotados, são partes integrais da vida de um político. E simplesmente não é aceitável que um político, ainda mais com a tarimba que deveria vir com quase 25 anos de atividade, se deixe enredar nesse tipo de teia. Falta um ombudsman de gestão, alguém que não precise "agradar" ao chefe, mas que o mantenha longe desse tipo de conflito de interesse e vulnerabilidade, ainda que às custas de ser o amigo mais cruel que o Marconi Perillo possa ter. Alguém que possa auditar cada atitude e prevenir fatos que, depois de consumados, sejam desastrosos para o governador. Um Yoda, talvez.  

E que a Força esteja contigo, Marconi.



Um comentário:

Unknown disse...

Não há blindagem nesse caso. Apenas não há provas de que Cabral esteja envolvido. E se não há provas, não há convocação. Muito simples.