quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Excessos à parte....


A "guerra" pela prefeitura de São Paulo, maior e mais rico município brasileiro, está acirrada. São bombardeios verbais disparados de lado a lado, com acusações que, se fossem para ser levadas a sério, seriam casos de delegacia, e não de eleição.

De um lado, José Serra, que já foi prefeito, já foi governador, já foi ministro em mais de uma pasta. Um sujeito em quem eu nunca votaria, há vinte ou trinta anos, por causa de sua militância de esquerda. Como muitos sabem, eu fui a favor da Revolução de 64, e via nos generais um progresso que estancou quando eles entregaram o poder. Claro que o tempo passou, e a minha visão mudou. Ainda tenho profundo respeito por gente da estirpe de Humberto Castello Branco, Golbery do Couto e Silva e Ernesto Geisel, mas concordo que o tempo em que os "milicos" poderiam governar jaz num passado distante, e que não desejaria reviver - no que eu discordo frontalmente de alguns membros da chamada "direita", que sonham com isso. Não, eu não quero a volta da turma do quepe. Não admito perder um milímetro da liberdade que me foi outorgada pela redemocratização (sim, porque ela veio de graça, dizer que a liberdade foi "conquistada" no Brasil é mais uma afronta à verdade dos fatos). Quero falar o que quiser, quero escrever meus textos, quero ler o que me der na veneta, quero ter direitos básicos que, de modo geral, tanto a direita como a esquerda radicais tendem a suprimir. Mas isso é assunto para outra postagem, sobre "liberdade de imprensa" que postarei essa semana, se os afazeres profissionais permitirem.  Volto a José Serra. Passei a nutrir simpatia pelo "feio" quando ele, ao lado de Fernando Henrique Cardoso, cuidou do processo de desestatização de estatais, pelos idos de 1996. Eu sempre abominei esse conceito keynesiano de que o Estado é o motor da economia. Isso foi muito mal interpretado pelos governantes, que acham que o Estado tem que SER a economia. É um entulho marxista. Quanto mais o Estado se mete a ser empresário, menos eficaz ele se torna naquilo que é sua obrigação primeira: governar. Seria muitíssimo mais confortável se FHC e Serra tivessem deixado as estatais, paquidermes ineficazes, quietas. Ainda teríamos fila de espera para comprar (!!!) uma linha telefônica, celular seria para gente rica... Mas, em compensação, seríamos "donos" da Vale, certo? Grande coisa. Ser "dono" da Vale não me ajuda em muita coisa, objetivamente falando. Ela não me pagava dividendos de cidadão, assim como não me paga dividendos de acionista (porque eu não sou, ora bolas!). Epa, divaguei de novo. Serra. O Serra, ao optar pelo caminho mais pedregoso de enfrentar tanto a direita nacionalista saudosista (e ela existe, não tenham dúvida) quanto a esquerda burra e estatizante, ganhou meu respeito. Ganhou um pouco mais quando, na função de ministro da Saúde, enfrentou as multinacionais farmacêuticas com argumentos humanistas no lugar de bravatas, e conseguiu criar no Brasil uma florescente indústria de medicamentos genéricos, que retiram da etiqueta de preço o duvidoso benefício da "marca" (como se essa valesse um tostão furado para quem precisa de remédio). Fez isso com maestria científica e fiscalização eficaz, resultando em benefícios que nem mesmo o mais hidrófobo dos petistas ousa contestar. Foi um bom ministro do Planejamento, e foi melhor ministro da Saúde. Por fim, no comando de São Paulo, iniciou o processo de saneamento financeiro do município, após a desastrosa gestão da petista Marta Suplicy, aquela que tentava compensar a esculhambação financeira com as notórias "taxas". Entregou a prefeitura antes da hora, atendendo a uma convocação do seu partido, que via o risco de um governo petista do estado. Foi eleito, e o povo da cidade de São Paulo lhe deu essa vitória, mesmo ele tendo deixado a prefeitura prematuramente. Se Serra não tivesse se candidatado ao governo, teríamos um Mercadante no governo, o que seria, bem... seria a extensão daquilo que estamos vendo no plano nacional, para o estadual. Me dá calafrios. José Serra já se provou como administrador. Eticamente, não tenho reparos a fazer. Quem o acusa disso e daquilo, até hoje, apesar da gravidade das acusações, não conseguiu com que o Ministério Público Federal, sempre à cata de suspeitos de escândalos, abrisse sequer um inquérito. Fala-se em "Privataria Tucana", baseado num livro ridículo de um autor mais ridículo ainda, mas nem mesmo no livro há acusações contra o Serra (se houvesse, o autor teria que provar as acusações na Justiça, e se não obtivesse êxito, isso lhe renderia cadeia, segundo o nosso Código Penal). O autor negou, em juízo, que acusasse Serra ou sua família de alguma coisa. Então qual o valor de um livro desses? Insinua, mas não acusa. É apenas um exemplo mal-enjambrado de péssimo jornalismo. O fato de ter sido promovido pela CartaCapital já dá o tom de sua confiabilidade. Lixo. Serra segue morando na mesma casa do Alto de Pinheiros, não se fala de fazendas de soja compradas em nome de laranjas, não se vê o sujeito em altas badalações parisienses, nem em listas de fortunas. É um tecnocrata, sem dúvida. Não tem lá muito traquejo político, falta-lhe o fogo nas ventas para eletrizar plateias. Tudo bem - eu quero um administrador, não um fanfarrão.

Do outro lado, Fernando Haddad. Rapaz novo, prata da casa do PT. Bacharel em Direito, mestrado em Economia, doutorado em... Filosofia. Sua tese de mestrado foi sobre, vejamos... "O caráter sócio-econômico do sistema soviético". Hein? Foi analista de investimentos do Unibanco. Professor da USP. Subsecretário de Finanças da... Marta.....  Ex-ministro da Educação de Lula e Dilma. Algum cargo eletivo? Não. Já teve alguma função executiva, além do de ministro da Educação? Não.  

Pois muito bem. Nessa campanha, ambos os lados estão pegando pesado nas acusações. Muitos exageros tem sido cometidos, tanto de um lado quanto de outro. Alguns bons exemplos são a acusação de apoio à homofobia, a privataria, supostos roubos em obras em São Paulo, até racismo (contra Serra), e incentivo ao homossexualismo ("Kit Gay"), fraudes no ENEM, quebra das finanças da prefeitura de SP, uso de aviões do governo para fins particulares e o Mensalão (contra Haddad).

Creio que haja uma boa dose de exageros de parte a parte. Em alguns casos, mentiras descaradas. Já falei da "privataria". As outras acusações anti-Serra são mais cômicas do que danosas. Houve um blogueiro patético que o acusou de "Tentar transformar São Paulo na Capital da Homofobia"., como se Serra andasse por aí pregando que se deveria dar bordoada em gays. As insinuações de desvios nas obras do Rodoanel, tão espalhafatosamente anunciadas por integrantes da CPMI do Cachoeira, sumiram como por  encanto, após o depoimento do ex-diretor da DERSA à comissão. Pegaram um vídeo de uma entrevista de Serra à TV, explicando que as notas baixas na avaliação do ensino básico em São Paulo (ainda assim, as melhores do país) se devem, em parte, à maciça imigração para o estado, de pessoas com nível de escolaridade baixo. Uma constatação óbvia, por sinal. Pronto! Usaram isso para acusar Serra de "racista", como se ele tivesse decretado que o imigrante tivesse uma capacidade intrínseca de aprendizado inferior. NÃO! Isso é delinquência argumentativa! 

É preciso dar às acusações sua verdadeira dimensão. Assim como Serra nunca defendeu homofobia, muito menos racismo, Haddad também não foi o autor do absurdo "kit gay" que seria distribuído aos alunos do ensino fundamental. Isso é obra de algum obscuro "chefe" de departamento, de conceitos tão idiotas quanto enviesados, que resolveu pegar uma ideia teoricamente louvável (de divulgar às crianças o conceito de tolerância e aceitação das diferenças) e fazer disso um carnaval. Esse (ir)responsável entregou a execução do projeto, não a educadores, como seria de se esperar, mas a ONG's de ... ativistas gays! Gente que não só defende o modo de vida homossexual (até aí, ótimo, cada um na sua, não é?), como tenta nos convencer de que ele é "superior" ao "ultrapassado" heterossexualismo. Os vídeos da infame cartilha mostram isso além de qualquer contestação. Ser homossexual é "bom", e ser bissexual (eu duvido da existência disso, aliás) é ... vejamos... "50% melhor" (os ativistas fariam bem se voltassem às aulas de aritmética). Haddad teve responsabilidade no episódio, que custou R$ 800 mil ao contribuinte? SIM! Não porque tenha "feito" o kit-gay, mas porque deixou de impedir que ele saísse daquela forma, na função de chefe do ministério. Coube à Dilma, atendendo à gritaria dos que tiveram acesso ao material, vetar sua distribuição. Haddad foi, como ministro da Educação, mero passageiro dos fatos. Para mim, ele não é "culpado" pela besteira. É apenas um incompetente. E o ENEM? Segue o mesmíssimo raciocínio: Haddad tinha diretores que estavam encarregados do processo (louvável, por sinal). Eles "pisaram na bola". Ok, isso acontece nas melhores famílias, como se diz. Uma vez. Houve a segunda tentativa. Nova fraude, mesmo erros. Aí já é caso de demitir gente, não é? Haddad seguiu do mesmo jeito. "Na próxima a gente acerta".  Aí veio a próxima, e... fraude de novo! Mas que coisa!! Leva a mal não, Haddad, mas aí é contigo. Três fracassos é pra demitir Ministro, lamento. Mas o moço deu uma explicação: "Ah, não tem como evitar, o Brasil é muito grande, sabem como é..."  Não eu não "sei como é". Sei que quem não consegue corrigir uma simples falha de segurança numa prova de segundo grau, não merece "passar" em prova alguma. É má-fé? Não. É incompetência? Sem dúvida. E para piorar, houve maracutaia até na contratação das empresas que iriam "sanear" o processo!!! Ah, tem dó, Haddad!

O mensalão se aplica a Haddad? Não. Pelo menos não diretamente. Ele nunca foi sequer mencionado no escândalo. Deve-se abolir a menção ao Mensalão na campanha, então? Também não! Haddad é um candidato do PT. Mais do que isso, é um candidato tirado do bolso do colete de Lula. E o projeto político do PT e de Lula é conhecidíssimo: estabelecer uma hegemonia duradoura do petismo no Brasil todo, esmagando a oposição, a imprensa, o Judiciário e qualquer pessoa ou entidade que se atreva a enfrentá-los. É uma cópia fiel daquilo que vem sendo implantado na Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina... uma "cubanização" sob o nome pomposo de "socialismo", seja bolivariano, seja peronista. Os cubanos desistiram de implantar seu modelito pela via das armas, apelaram para o populismo rasteiro, tão caro aos latino-americanos. Resta ver se conseguem implantar o sistema no continente todo, antes que caia aos pedaços por conta do fracasso econômico, mas isso é outra história. O PT tem um projeto para o Brasil, e algo me diz que ele passa longe daquilo que eu concebo como "democracia". Até hoje, o Brasil que tem resistido aos avanços do lulopetismo é justamente a região mais desenvolvida do sudeste e centro-oeste, como os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais e Goiás, que respondem por quase 80% do PIB nacional. O PT sabe que não comandará o Brasil, se não comandar São Paulo. E o partido fará tudo para atingir esse objetivo. Haddad faz parte disso, é uma ponta-de-lança do petismo à moda Lula, no coração de São Paulo. Ora, pela defesa intransigente que o PT fez e faz dos criminosos da Ação Penal 470 (Mensalão), o partido se incorpora aos mesmos, e é tão réu quanto eles. Haddad pode não ter nada a ver com Mensalão, mas cumpre o projeto de poder de um grupo que está enrolado até os fios das barbas no escândalo. Imaginar que seus adversários deixem de usar isso na luta para impedir a tomada de São Paulo, é ingenuidade.

Tirando então as acusações descabidas de moralidade e ética, a questão se resume, mesmo, a uma diferença de COMPETÊNCIA.  Esse deve ser o divisor de águas na eleição. A meu ver, Serra tem. Haddad não. O resto é lero-lero.

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