domingo, 24 de janeiro de 2016

A pedra cantada


Quem já jogou bingo, numa dessa quermesses da vida, conhece as regras. Um cidadão fica lá girando aquela gaiolinha com as "pedras" ou melhor, as bolinhas com os números. A cada número que sai, ele grita o respectivo, ou "canta a pedra". E o povo vai marcando suas cartelas. Lá pelas tantas, um berra "Bingo!" de algum canto, indicando que há um vencedor. 

Há dias, publicou-se na imprensa, nas redes sociais e nos blogs a serviço do petismo uma tal "Carta Aberta dos Advogados", com virulentas críticas a tudo e todos que tenham alguma relação com a Operação Lava-Jato. A carta, eivada de um besteirol que beira o ridículo, tal como comparar os trabalhos de investigação levados a cabo pela Polícia Federal, pelo Ministério Público Federal e sob a responsabilidade do Juiz Sérgio Moro, com os Autos da Fé da Inquisição, foi assinada por 104 advogados. Há dúvidas até sobre esse número, uma vez que Gilson Dipp, ex-ministro do STJ e cujo nome consta na carta, afirmou que jamais assinou algo parecido. 

Nem vou me alongar no teor da carta. Outros, como Reinaldo Azevedo e Augusto Nunes, já fizeram isso com maestria, mostrando o absurdo das alegações ali contidas. Outras perguntas se fazem mais importantes, creio. Quem coordenou a elaboração da carta? Quem a redigiu? Existem interesses ali que ultrapassam a boa intenção da preservação dos direitos civis e liberdades democráticas, e adentram o campo do mais reles corporativismo e "jus esperneandi"? Quem pagou a publicação nos principais jornais do país? Essas perguntas ficaram sem resposta - até agora. Mas era possível vislumbrar as feições dos mentores, através da cortina de fumaça que tentaram criar para tornar a carta uma "desinteressada ode ao Estado de Direito" e um libelo contra o rigor "inquisitorial" de Sérgio Moro. Alguns nomes se destacaram na lista dos signatários. O "Kakay" está lá, óbvio. Entre outros advogados dos réus. Hummm... sei não. Isso ficou parecendo uma tentativa de advogados espertos e regiamente pagos, para intimidar o poder judiciário, colocar a opinião pública, hoje totalmente a favor dos trabalhos da força-tarefa e de Moro, contra a Lava-Jato. Não que a Justiça Federal ou o Ministério Público precisem da "chancela" da população. A Justiça deve prosperar independente de opinião pública ou paixões partidárias, respaldada tão-somente na Lei. Mas convenhamos, se Sérgio Moro, os procuradores e policiais federais lá do Paraná não tivessem apoio do povo, teriam chegado onde chegaram? Duvido muito. Suas ações já teriam sido cerceadas por Ministros do STF que parecem advogar mais para o PT do que para a Justiça. Aquelas quatro palavrinhas omitidas do Regimento da Câmara dos Deputados que o digam. A voz das ruas é rouca, muitas vezes difícil de traduzir, mas hoje, soa bem alto o clamor contra a privatização criminosa da Petrobras por um partido político e seus áulicos. Quem terá coragem de encomendar uma pizza nesse cenário? O Brasil está quebrado, o governo tem como único programa de governo se manter no poder, o desemprego explode, a recessão virou depressão, e  aquela gente sai, lépida e faceira, a gastar os bilhões que roubou do contribuinte? Nem a pau, Juvenal.

Essas perguntas citadas acima, referentes à tal "Carta", me vieram à mente logo que ela apareceu na mídia. Qual a origem daquele amontoado de besteiras? A Associação de Juízes Federais não se preocupou com esse detalhe: destruiu a carta na sua essência. Mas a pergunta permanecia: de onde surgiu aquele monstrengo?

Hoje, finalmente, aflorou a verdade. A tal "Carta Aberta" intimidatória foi redigida por obra e graça do escritório de Nabor Bulhões. E quem é Nabor Bulhões? Um dos advogados mais conceituados do país, cujos honorários eu nem me atrevo a adivinhar, e que hoje tem entre seus clientes um certo Marcelo Odebrecht, executivo do grupo Odebrecht, e que está preso em Curitiba por ordem do Juiz Sérgio Moro. Segundo uma dezena de fontes da Folha de São Paulo, subscritores da carta, o advogado teria sido chamado de incompetente pelo patriarca da Odebrecht, Emílio Odebrecht, por não ter conseguido a liberdade de seu cliente junto ao Presidente do STF, Ricardo Lewandowsky (e nesse caso, em se tratando do Ministro Lewandowsky, eu tendo a concordar com o pai do Marcelo...). Marcelo teria se desesperado ao ver frustrada sua esperança de ganhar a liberdade, mesmo pagando uma das bancas de advocacia mais caras do país. Nabor Bulhões então articulou a carta, juntamente com o patriarca da empreiteira.

Questionado a respeito, Nabor Bulhões afirma que assinou a carta "como profissional do Direito, não como advogado do Marcelo". Como se fosse factível separar as duas coisas, não é?

Eu não tenho nada contra o "jus esperneandi". É parte da estratégia de defesa, do arsenal de recursos que todo advogado possui e que pode usar. Afinal, até hoje os advogados de José Dirceu, esse ser mais enrolado do que novelo de lã atacado por uma centena de gatos, alega que seu cliente é "preso político". Todo preso trancafiado numa penitenciária desse Brasil se dirá "injustiçado" - e essa opinião será respaldada por seu advogado. É algo normal e esperado.

Mas uma Carta Aberta, comparando os procedimentos da Operação Lava-Jato com as prisões da Ditadura? Comparar Sérgio Moro a Torquemada? E escrever isso, como se fosse um manifesto "dos advogados brasileiros"?  Tenha Santa paciência, doutor. Assuma que é berreiro de advogado inconformado, que a gente entende como tal. Mas não me venha falar como se representasse uma categoria, quando na verdade o senhor representa o seu cliente. Somente ele.

E nessa hora, eu grito BINGO! Porque essa "pedra" eu cantei, desde o início. 


Um comentário:

samuel disse...

A natureza do golpe em vigor no Brasil está atrelada ao poder judiciário.
Os advogados de um modo geral tem algo a ver com o fracasso do Brasil como nação? SIIIIIIMMMMMMMMM. São os responsáveis diretos, expressados nestas três frases:
O Brasil com suas leis é inviável economicamente.
O Brasil com a sua ESTRUTURA DE JUSTIÇA na aplicação de suas leis é inabitável.
O Brasil é INGOVERNÁVEL PELAS LEIS E PELA APLICAÇÃO DELAS ATRAVÉS DA ESTRUTURA DE JUSTIÇA QUE TEM..
Brasil, mais cursos de direito do que a soma do que existe no restante do mundo... Brasil, era o país dos bacharéis, continua sendo o país dos bacharéis, Brasil será sempre o país dos bacharéis, deitado eternamente em berço esplêndido.....
Brasil? (tambem conhecido como ADVOGASIL) Nem passe por perto que V vai levar um processo ...
Baixo Produto e superlotação de advogados, ocasiona estarem estes matando “cachorros a gritazos” é processo por todo lado. Duração min de cada processo, 06 anos...
Brasil é também conhecido como PROCESSIL afinal a JUSTIÇA é cúmplice dos advogados...
Na impossibilidade de obter JUSTIÇA por meio dessa BUROCRACIA, o advogado, para sobreviver, se vira contra o cliente passando a extorqui-lo e o sistema se torna uma imensa EXTORSÃO!
Mas há o lado positivo: O COMPONENTE “SERVIÇOS” referente aos serviços advocatícios AUMENTA BASTANTE A MEDIDA DO PIB.... kkkk
A fortuna deixada por Tomás Bastos é apenas para lembrar para que serve a Justiça. Enriquecer seus membros. Se Al Capone tivesse ao invés vindo para o Brasil ...., teria sido advogado...( preferivelmente criminalista) Destino dos advogados : OU ADVOGADOS BANDIDOS OU ADVOGADOS POLÍTICOS (redundância...kkkk)