terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Xeque-mate.... SQN...



Xeque-mate.... só que não...

E a operação Lava-Jato segue seu curso, lentamente navegando pela lama, não da Samarco, mas sim da escória da corrupção institucional que tomou conta do Brasil a partir de 2003. Não, eu não estou dizendo que o PT inventou a corrupção! Ela já existe, creio, desde que o homo sapiens entregou um naco de antílope ao chefe do bando rival, em troca da permissão para morar em alguma caverna. A história é pródiga em exemplos de corrupção, envolvendo desde xerifes a papas. Com o poder, costuma vir uma quase irresistível vontade de usá-lo - em benefício próprio. Mas a corrupção, de modo geral, é um delito cometido de forma subreptícia, discretamente, entre corruptor e corrompido, exceções feitas aos casos da Máfia e cartéis da droga, que associam a vontade de ficar rico com o desejo de permanecer vivo, afinal, nesses casos, quem recusa acaba morto. No Brasil do PT, a corrupção ganhou status institucional, quase uma política de Estado, ou ao menos de Governo. O sistema se retroalimenta, num moto-contínuo no qual favores são concedidos e remunerados, e essa remuneração é usada, ao menos em parte, para pagar o custo da manutenção do corrompido no Poder, garantindo a continuidade do processo. A outra parte... bem, a outra parte serve para enriquecer essa gente, de uma forma inacreditável. Mansões, apartamentos triplex, sítios, fazendas, barcos, aviões, carros de luxo... a maioria, convenientemente disfarçada sob títulos de propriedade de terceiros, "amigos". E, em alguns casos, uma parte do butim tem como finalidade calar a boca de alguns que "sabem demais", bem como pagar os honorários astronômicos de bancas de advocacia renomadas, com fama de intimidar, por sua própria notoriedade, até juízes, promotores e policiais.

Nem preciso dizer quem paga a conta, não é?

No entanto, por uma feliz coincidência (feliz para o Brasil, que fique bem claro), um certo processo acabou caindo nas mãos de um juiz honesto, lá do Paraná. E esse juiz teve a suprema sorte de conviver com uma equipe do Ministério Público igualmente honesta e, sobretudo, meticulosa e eficiente. Junto com esses, uma Polícia Federal eficaz e empenhada. Era uma combinação poderosa. O fio da meada de uma Operação Lava-Jato que, como o nome diz, começou com uma simples investigação de lavagem de dinheiro de um obscuro doleiro, engrossou, ganhou substância e acabou arrebentando o dique que segurava oculto um mar de lama que tomou o Brasil de norte a sul. O povo a tudo assiste, num misto de incredulidade e esperança.

Hoje, mais um capítulo foi escrito. Como num conto de terror de Stephen King, o capítulo não é estanque: possui ramificações, tentáculos que conectam essa parte da história com outras, ainda mais escabrosas.

Com a delação do ex-diretor internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, fecha-se um capítulo do escândalo do Petrolão chamado "Caso Schahin". Todas as pontas soltas do caso foram conectadas, os depoimentos de todos os envolvidos são consistentes e coerentes entre si. Vejamos qual foi a trama, quem foram seus protagonistas, e o que eles disseram em depoimento. As conclusões são óbvias.

Em 2006 o PT buscou um financiamento junto ao Banco Schahin, o braço financeiro do grupo de mesmo nome, que, coincidência ou não, possui interesses também na área petrolífera. O partido precisava de 12 milhões de reais. Segundo depoimentos, metade desse dinheiro era destinado a pagar uma chantagem de um empresário de transportes de Santo André (SP), que ameaçava envolver Lula e Gilberto Carvalho no assassinato do prefeito Celso Daniel (PT). Note-se que Celso Daniel estava disposto a revelar um vultoso esquema de achaque do PT contra empresários de transporte coletivo na cidade. O Banco Schahin emprestou o valor solicitado, mas não diretamente: fez o empréstimo ao "melhor amigo" do então presidente Lula, o pecuarista José Carlos Bumlai. Que repassou os valores ao PT, que por sua vez passou ao empresário-chantagista.
Tudo teria ficado por isso mesmo, mas ocorre que Bumlai, obviamente, não pagou a dívida (ele chegou a alegar que pagou com embriões de gado, uma desculpa tão esfarrapada que ele mesmo a abandonou posteriormente). Em 2009, a dívida já estava em cerca de 60 milhões de reais. E o grupo Schahin queria receber, lógico.

E então surgiu a oportunidade. O Brasil entrava na euforia do pré-sal, a perspectiva de um futuro regado a petrodólares. A Petrobras estava numa daquelas fases que os fornecedores chamam de "compradora", com planos de investimento superiores ao PIB de muitos países do terceiro mundo. Era pura festa. A Schahin mexeu os pauzinhos: acionou um lobista, Fernando Baiano, para conseguir um naco desse pote de ouro. A coisa acabou nas mãos de um tal Nestor Cerveró, então diretor internacional da Petrobras. Indicado pelo PT, lógico. Cerveró não se fez de rogado: assinou um arrendamento de um navio-sonda arranjado pela Schahin, o Victoria 10.000. O valor do contrato? US$ 1,6 bilhão. Tudo sem licitação, claro.

O Grupo Schahin ficou tão feliz com o contrato, que "perdoou" a dívida do Bumlai, digo, PT. E Lula ficou tão feliz com a atuação de Cerveró que o indicou para uma diretoria na Petrobras Distribuidora. Isso em 2008, quando a Diretoria Internacional da Petrobras já se encontrava sob fogo cerrado de uma CPI. A permanência de Cerveró no cargo era insustentável. Saiu Cerveró (não sem antes colaborar com a desastrada compra da refinaria de Pasadena, que rendeu mais alguns milhões aos corruptos), entrou Jorge Luiz Zelada, que, como se sabe agora, prosseguiu com as maracutaias existentes e hoje virou  delator. E Cerveró? Foi para a Petrobras Distribuidora, onde em 2011 foi empossado como Diretor Financeiro por... Dilma Rousseff. Só foi demitido em 2014, às vésperas de ser preso por Sergio Moro.

Quem afirma essas coisas todas?

O Banco Schahin confirma que emprestou o finheiro a Bumlai, para repasse ao PT. Confirma que jamais recebeu o dinheiro de volta, e que perdoou a dívida quando Cerveró, por ingerência de Bumlai e Fernando Baiano, contratou o navio-sonda da Schahin.

Bumlai confirma que tomou o empréstimo a pedido do PT, e que parte do valor foi remetido ao partido em Santo André.

Fernando Baiano confirma que atuou na intermediação da contratação do navio-sonda, bem como na transferência de Cerveró para a Petrobras Distribuidora.

Cerveró acaba de confirmar que atuou a mando do PT, e que Lula ficou tão feliz com o desfecho do caso que o indicou ao novo posto.

Ou seja, todos os implicados no caso contam a mesmíssima história. E nessa história, o nome recorrente como beneficiário final da tramóia  é... Luiz Inácio Lula da Silva. Que, como já afirmou Yousseff na sua delação, "sempre soube de tudo". Agora, os depoimentos vão mais longe: não só sabia, como foi parte atuante na trama.

Em face disso tudo, nada mais natural que houvesse um pedido de investigação ou mesmo indiciamento do ex-presidente. Afinal, o teor dos depoimentos é contundente! Não um nem dois: TODOS os depoentes são unânimes em apontar Lula como parte do esquema, feito para, entre outras coisas, tirar um chantagista do seu encalço.

Mas não há sequer um pedido de investigação. Nada.

Há algo de muito estranho nisso.

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