quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Um papo reto com José Serra



Meu caro José


(não temos intimidade, mas me dou a liberdade de dispensar o formalismo de "Dr. Serra", ok? Você (outra liberdade) pode me chamar de Roland, o "doutor" eu também dispenso, uma vez que não sou doutor em coisa alguma).

Antes de mais nada, parabéns por sua vitória no primeiro turno da eleição em São Paulo. Essa vitória mostrou duas coisas importantes: Uma, que você é tenaz. Um osso duro de roer, como se diz. Quando a coisa ficou feia, a cada pesquisa surgiam números piores, outra pessoa, menos tenaz, teria jogado a toalha e deixado o barco correr. Você não. Você não perdeu a fé em hora alguma. Não se acovardou, não entrou em desespero, não desanimou. Você confiou na sua proposta e na seu caráter e história. Muito bem! Segundo, o povo de São Paulo, que por alguns momentos (tenso, admito) parecia que iria esquecer das suas realizações na cidade onde você nasceu e se criou, voltou a ter "juízo" na hora da onça beber água. Aquele tantão de gente que falou aos pesquisadores de opinião que "votaria no Russomanno", na hora agá, viram que esta não era uma boa escolha para São Paulo, e retornou ao bom caminho: São Paulo deve muito do que é, hoje, à sua administração. Muitos criticam essa cidade, mas muitos mais morrem de inveja pelo que se conseguiu fazer aqui - uma cidade onde as coisas funcionam. Eu não moro em São Paulo. Mas justamente por não morar aí, é que eu tenho uma visão melhor do que É São Paulo, comparado com as outras capitais do país. Eu, se fosse eleitor nessa cidade, votaria em você sem pestanejar, para o cargo que você quiser. Porque eu sei que esse cargo estaria ocupado por um sujeito capaz - e honesto. Uma rara combinação, diga-se de passagem. Geralmente os postulantes a cargos executivos são ou capazes e desonestos, ou honestos mas totalmente incompetentes. Lembro bem de Saturnino Braga no Rio, minha cidade natal. Um político honestíssimo (se é que existe esse superlativo, honestidade é como gravidez, ou se tem, ou não), repleto de intenções da melhor qualidade, mas infelizmente inadequado para ser administrador até de condomínio, quiçá de uma prefeitura. O Rio sofreu muito com ele, mas nunca o tachou de desonesto. E era um bom senador, se quer saber.

Então, receba meus sinceros parabéns. 

Ok, ok, chega de presepada. Você manteve aqueles 30% de preferência do eleitor que tinha lá atrás, no início da caminhada. Mas agora vem o mais difícil, e você sabe disso. O adversário, em que pese seus defeitos, também encostou naqueles míticos 30% que o PT detém em SP. Há uns 40% do eleitorado que não votou nem em um, nem no outro. Nesse segundo turno, alguns desses vão anular o voto, outros nem vão sair de casa para votar, preferindo pagar aquela multa irrisória do TRE. Mas uns bons 30% do eleitorado que não votou em nenhum dos dois, vai agora decidir os rumos de São Paulo pelos próximos quatro anos - no mínimo.  Pelo que vejo, o rapazinho do PT largou na frente. Usou e vai usar toda a força da máquina do governo federal para seduzir os derrotados do primeiro turno, notadamente Russomanno e Chalita, e ganhar o apoio deles. Quem tem ministérios para oferecer, você ou eles? Então esqueça Russomanno e Chalita. Esses estão com o inimigo. Você ganhou o apoio de Soninha? Muito bom, mas... qual a dimensão disso? Ah, e você ganhou o apoio de Paulinho da Força (PDT). Nesse caso, lamento, mas eu pensaria duas, não, vinte vezes antes de aceitar. Em termos de votos, ele não representa coisa alguma, e em termos de moral, sei não - é capaz de espantar eleitores até do PSDB. Veja lá o que vai fazer, José. O povo não é muito chegado nesses casamentos de conveniência. Nem eu.

Bom, mas e agora?

Segunda feira recomeça a campanha na TV. E a campanha nas ruas já está a todo vapor, assim como na internet. O blogs sujos estão te dando bordoada. Nas ruas, Haddad está te enchendo de tapas verbais. Se você não reagir, vai à lona. O Lula e sua títere Dilma elegeram São Paulo como sua Bastilha particular, depois das derrotas acachapantes em Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre. Tua cabeça está a prêmio, José.

O que você vai fazer?

Certamente você deve estar aí, metido em reuniões com o pessoal do marketing. Hoje, as eleições são um fenômeno de "marquetingue", e os marqueteiros são como técnicos de futebol, armando o time e ensaiando as jogadas, sempre com um bom VT do jogo anterior. É...

Sei não, José. Tenho a forte sensação de que essa de marqueteiro decidir o que o eleitor quer, é a maior furada. Algo como pagar milhões para um advogado defender o sujeito lá no STF - me parece dinheiro gasto à-toa, porque os juízes do STF não julgam pela cabeça coroada de advogados de renome, como bem se viu nesse julgamento do Mensalão. Será que esses caras vão conseguir receber os honorários? Eu não pagaria...  Muito bem, eu tenho a impressão, volto a dizer, que os marqueteiros "acham" que o povo, leia-se, eleitor, vai votar segundo seus ditames. Que o povo vai deixar conteúdo de lado, em favor de embalagem.  Acho que estão errados. Quem sou eu pra dar pitaco, não é? Sou apenas... eu mesmo. Nada entendo de marketing. Talvez entenda um pouco de gente, e só. Talvez nem isso.

Papo reto, José. Vou te dar minha opinião. Você pode querer ou não. Aliás, é provável que nunca chegue a ler esses pitacos. Tudo bem. Escrevo assim mesmo.

1) PARE com essa história de "elegância do confronto". Ai, meu Pai do céu, a eleição não é debate da Academia Brasileira de Letras, com chá e torradas. Eleição é sangue, suor e lágrimas. Chora menos quem pode mais. Pare com indiretas, tentando ser elegante. Seja elegante, sim, mas seja duro. Faça cara feia. Não é difícil - você não é lá muito bonito mesmo. Use as armas que você tem, o inimigo é fraco, o inimigo tem podres e mais podres a esconder. Use isso, sem medo de ser feliz. 

2) Tenha sangue nas veias, homem. O povo não gosta de homens-gelo. Dê-se a liberdade de se indignar, se dar esculacho, de acusar e cobrar, quando não decência, ao menos coerência, do adversário. Sobretudo na TV, mostre que você sabe jogar duro, e bater. "Ah, é campanha negativa!" E daí? Eles querem o que, que você elogie o Haddad? Ele é fraco, e você sabe disso. Mostre isso, por meio de fatos - e se indigne com isso. Chame a si essa responsabilidade.

3) Olha, vou te contar um segredo: ninguém, mas ninguém MESMO, acredita em promessas de campanha. Pergunte a um motorista de táxi se ele acredita em promessas de acabar com os buracos nas ruas. Ele lhe olhará de soslaio, e dirá, cheio de razão: "Esses FDP prometem isso a cada eleição e - ops - olha mais um buraco enorme aí!" Promessa não ganha eleição, José. Promessa deixa o eleitor ainda mais desconfiado, quando não furioso. Não sei se você sabe, mas a credibilidade da classe política não está lá essas coisas, hoje em dia. No lugar de prometer, mostre aquilo que você já fez. Fale que você arrumou a Marginal do Tietê. Diga que acabou a com a infame taxa do lixo criada pela "Martaxa". E com a taxa de iluminação pública para quem nem tem luz na rua. Orgulhe-se disso. Isso o povo entende.

4) Ataque. Ataque. Ataque. Mas atenção, nada de colocar aquela voz idiota em "off" no programa da TV, fazendo as acusações. Nada disso. Apareça na TV, sentado à mesa, sem glamour, sem trilha sonora, e ataque, você mesmo. O povo odeia quem acusa mas não tem a coragem de mostrar a cara. Seja peitudo, seja valente, seja indignado. Pergunte se Haddad vai devolver os R$ 1,8 milhão que gastou com o "kit-gay" cuja distribuição foi vetada pela Dilma. Pergunte se ele tem competência para gerir a cidade de São Paulo, com quase 10 milhões de habitantes, se não conseguiu realizar uma única prova do Enem sem fraude, Na época, ele justificou dizendo que era impossível fazer um Enem sem fraude, "porque o Brasil é muito grande". Mesmo gastando R$ 150 milhões para fazer a obra, ele fracassou. Vai administrar São Paulo de que jeito? Sobretudo, fale da administração Haddad na Secretaria de Finanças do governo Marta (aquela das taxinhas para isso e aquilo). Fale da situação em que você encontrou a prefeitura, em 2005. Fale dos 13 mil credores furiosos. Fale do rombo de R$ 1,8 bilhão que a Marta deixou. Fale do cancelamento de quase R$ 600 milhões em empenhos já realizados, feito pela Marta às vésperas de entregar o cargo, para fugir da Lei de Responsabilidade Fiscal. Não esqueça de lembrar quem era o responsável pelas finanças da prefeitura. Por fim, fale da situação financeira da prefeitura hoje. Oito bilhões de reais em caixa. Compromissos em dia. Folha em dia. Obras em andamento.  Não tenha medo de elogiar o Kassab - ele é aliado, e administrou bem a cidade, em que pese a campanha de desconstrução que movem contra ele.

Você consegue fazer isso, José. Sem baixar o nível, mas um pouco de sarcasmo sempre é bom. Seja, na hora de criticar, apenas mais um paulistano enfurecido com a lorota representada por Haddad e por seu partido.

E não esqueça do Mensalão. Não o torne seu fulcro de críticas, porque, afinal, Haddad não faz parte do esquema. Mas faz parte do partido do esquema - e isso não se pode negar. O povo está feliz com a condenação dos ladrões do dinheiro público. E como o PT sempre endossou essa gente, mesmo depois da denúncia, mesmo agora, depois da condenação, nunca é demais lembrar ao eleitor que um partido que apoia esse tipo de gente não é confiável para gerir um orçamento de R$ 42 bilhões, como o de São Paulo.

Quer seguir na sua trilha monocórdia de promessas e declarações de integridade? Tudo bem, mas depois não venha reclamar quando o PT lhe impuser uma derrota em São Paulo. É hora de reagir, de mostrar coragem e sangue nas veias, José.

Boa sorte - estou torcendo por você.

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