domingo, 7 de outubro de 2012


Mensalão e Eleições

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou nesta quarta-feira (3) que seria "bom" que o julgamento do mensalão tivesse reflexo na escolha de prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. "As urnas dirão se houve alguma repercussão [do julgamento do mensalão nas eleições]. A meu ver, era bom que houvesse, seria salutar", enfatizou Gurgel no intervalo da sessão desta quinta.

Os blog sujinhos, sustentandos com dinheiro público, deram uma repercussão imensa a essa declaração do Procurador Geral da República, vendo nisso a exteriorização de um viés político-eleitoral das acusações formuladas pelo Gurgel (que foram, até agora, acatadas em sua esmagadora maioria, pelo STF). Fizeram uma gritaria danada!

A meu ver, foi outro tiro no pé. A declaração poderia ter passada quase despercebida. Com a "indignação" dos petralhas, ganhou as manchetes - e até quem nem tinha visto, agora leu, e pensou nas declarações. Muitos hão de refletir se querem mesmo avalizar nas urnas, candidatos de um partido com tais inclinações para o crime. 

Os petistas se abespinharam:
"Mas vem cá... pode-se condenar um partido inteiro por causa dos erros de uns? Não teve o caso Demóstenes no DEM? O mensalão mineiro, do PSDB? Porque execrar apenas o PT?"

Se colocarem a cachola para funcionar, verão o motivo. Vejamos o caso do Demóstenes Torres. Ao ser flagrado em relacionamento pouco recomendável com um notório meliante, ele foi convidado a prestar explicações. Primeiro ao seu partido, depois ao Congresso. Como não conseguiu convencer  os membros do DEM de que agia de boa-fé, foi sumariamente largado à própria sorte pelo partido. Pediu para sair, para não ser expulso. O DEM não moveu uma palha para defendê-lo - porque, em primeiro lugar, estava convencido da culpa do senador, e segundo porque sabia que, caso insistisse numa defesa infrutífera do Demóstenes, figuraria como "avalista" dos atos dele perante a sociedade - e eleitores. Ao deixar Demóstenes arder no mármore do inferno, o DEM se isolou dos erros dele, e embora tenha sofrido desgaste, não ficou com sua reputação atrelada a um caso de má-conduta. O DEM já tinha feito o mesmo, com relação ao ex-governador do DF, José Roberto Arruda. Ao fazer isso, o partido deu explicações à sociedade: "São atos de pessoas, não do partido, e o partido não as aceita". Não há, portanto, motivo para satanizar o DEM por conta disso. No máximo, sugerir ao partido que escolha melhor seus quadros. O PSDB age da mesma forma em relação ao "mensalão mineiro". Quando este processo chegar a julgamento no STF, ninguém verá FHC em encontros escusos com Ministros do STF, tentando procrastinar o julgamento. Ninguém verá o presidente do partido defendendo de unhas e dentes os acusados. Ninguém verá os líderes do PSDB berrando que é "golpe" nem que os magistrados do STF estão "julgando politicamente". Se Azeredo for condenado no esquema, ele que se vire, o PSDB não lhe prestará solidariedade. Alguém consegue imaginar o PSDB dizendo que irá apelar à Corte Interamericana para reverter decisões da mais alta instância da justiça brasileira? Com isso, também o PSDB "se isola" dos atos de seus membros. É um partido, não uma "famiglia" mafiosa, poxa.

Mas o PT fez tudo isso, e mais. Defende, de forma até pueril, ações que SABE que são erradas, tenta confundir todo mundo, tenta "trocar" o crime de corrupção por "crime de caixa 2", o que seria, aos olhos do partido, amplamente palatável, um "crime menor". Ora, crime é crime! Um partido político vir a público defender um crime como "menor", é de lascar! 

Então, já que resolveu dar guarida e proteção a criminosos dentro do Partido, o PT, de certa forma, se torna cúmplice desses crimes. Tudo se fez em nome do partido, e o partido não abandonará seus membros graduados, como toda boa "famiglia". Pois então que pague o preço. E o preço é a visão, aos olhos do eleitor, de que o PT, antes um partido que lutava pela ética, agora acoita bandidos, e o faz com gosto. Confunde-se com eles, portanto. 

E nisso, o Gurgel falou a mais pura verdade. Eu pensaria muitas vezes, antes de votar em candidatos de um partido que age dessa forma. Afinal, imagine se o eleito (com o meu voto) for do partido? Se um dia ele resolver malversar recursos públicos, nem mesmo a repreensão do partido vai ter? Pelo contrário, o partido vai procurar escamotear até o fim seus desvios.

É esse o partido que eu quero, com a mão no cofre da Prefeitura? Não!

Pensem bem nesse domingo. Boa eleição!

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