quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Sai uma "massa" aí, Zé?






Em meados de maio, meses antes do início do julgamento do mensalão, o então réu (hoje já devidamente condenado) José Dirceu saiu a campo para intimidar a tudo e a todos com ameaças de baderna nas ruas se fosse mesmo condenado pelo STF. Em Congressos do CUT (onde se discutiu de tudo, menos de trabalho propriamente dito) e da UNE (onde também a discussão sobre a qualidade do ensino deu lugar ao proselitismo pró-José Dirceu), ele "convocou as massas" para ir às ruas, caso o julgamento fosse, nas palavras dele, "político " (leia-se: com condenação) no lugar de "técnico" (leia-se: com absolvição). Ele bradou para quem lhe desse ouvidos: "Vai ter reação!". Para um auditório lotado da UERJ, ele declarou: 

"Todos sabem que este julgamento é uma batalha política. E essa batalha deve ser travada nas ruas também porque senão a gente só vai ouvir uma voz, a voz pedindo a condenação, mesmo sem provas. É a voz do monopólio da mídia. Eu preciso do apoio de vocês”.

Fez o mesmo no Congresso da CUT.

Bem, em face de tão inflamada convocação, eu já imaginava, para o dia seguinte à sentença, caso fosse ela contrária ao interesse do réu, as massas nas ruas.  Avenida Paulista paralisada, com milhões de pessoas protestando. A cena se repetindo na Avenida Rio Branco, no Rio, e em outras capitais. O trânsito caótico. Ameaça de quebra-quebra, a PM tentando controlar a turba furiosa, sem sucesso. Milhares de pessoas em vigília na Praça dos Três Poderes, queimando pneus em frente ao Supremo Tribunal Federal. Talvez um e outro petista mais radical copiando o modelito hindu e ateando fogo ao corpo em plena Esplanada do Ministérios. Pânico, confusão, prisões, tropa de choque na rua...


Ontem os dois Ministros que faltavam dar seu voto se pronunciaram, e veio o veredicto: Brasil, 8. José Dirceu, 2.  Goleada, por assim dizer. Ou seja, a troika que achou que o poder a qualquer preço, mesmo que fosse às custas da compra de consciências com o dinheiro do povo, era politicamente aceitável, agora é oficialmente criminosa. Falta ainda o retoque final, a configuração como quadrilha, para termos o final glorioso de um julgamento que foi, mais do que técnico, justo. 

Só não estou vendo as massas nas ruas.

Quer dizer, as vias de acesso a São Paulo seguem congestionadas, mas creio tratar-se de gente indo trabalhar, e não empunhar faixas de "Injustiça!!!". A Paulista está cheia de gente, indo pra lá e pra cá. A Rio Branco naquela balbúrdia de sempre. E nem sei se o circo (é, circo mesmo) que se instalou perto do Teatro Nacional, ali na Praça dos Três Poderes, já se foi ou não, mas sei que Brasília está como geralmente está, numa quinta-feira: mais vazia do que cheia, e muita gente contando as horas para pegar o rumo do aeroporto.

Como as massas do José Dirceu teimam em não aparecer, tomo a liberdade de oferecer uma, cuja foto está lá em cima, para o "companheiro". Aliás, parece que massa é um prato recorrente no almoço, nas penitenciárias do país. É bom ele ir se acostumando.

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