domingo, 7 de outubro de 2012

Hora da Análise - Eleições 2012



São 19 horas, em na maioria dos estados, a apuração dos votos nas capitais já se aproxima do fim. Em quase todas, já é possível afirmar quem leva já no primeiro turno, e quem vai ter nova chance, no segundo turno. Não vamos analisar todas, porque são muitas e o tempo urge. Mas vou dar uma atenção especial àquelas consideradas "chave" para as pretensões do PT e do PSDB para seu futuro político, se é que há alguma correlação entre o voto dado em 2012, para a prefeitura, e o voto que será dado em 2014, quando o destino do Brasil está nas teclas das urnas. 

Vamos começar pelo sul?

Porto Alegre 
A capital gaúcha é um tradicional reduto petista há décadas, com a hegemonia de petistas graduados como Olívio Dutra e Tarso Genro. Sem considerar que a presidente Dilma, para todos os efeitos, é eleitora de Porto Alegre. Assim, PoA é uma das "jóias da coroa" do petismo. Com 80% das urnas apuradas, o que se viu foi uma surra de vara que o PT levou por lá. O PDT, ainda mais tradicional em terras gaúchas, levou já no primeiro turno, com Fortunatti ganhando 65% dos votos válidos. O PT, que poderia ter apoiado Manuela DÁvila (PCdoB) e evitado um vexame maior (ela obteve 18%), amargou um terceiro lugar, com míseros 10%. 

Florianópolis
Santa Catarina é um nicho do DEM/PSD (ex-PFL), e portanto nada mais natural que a vitória de Cesar Souza (PSD), coligado ao PSDB, na capital. Ele vai chegando aos 31%. A surpresa ficou por conta de Gean Loureiro (PMDB), com 27%, que empurrou a candidata de Ideli Salvatti e companhia, Angela Albino, para fora da disputa do segundo turno, com 25%. Outra derrota petista.

Nota: no post anterior, falei da ausência de votos do candidato petista e atual prefeito de Joinville, Carlito Merss. Os votos dele estão efetivamente sendo incluídos nos votos nulos, até que haja uma definição final do TSE sobre sua candidatura. De qualquer forma, ele está muito longe de encostar nos três líderes da disputa na cidade, o que valida a minha análise sobre o desempenho do petista no comando da prefeitura - e olha que Joinville é uma cidade relativamente fácil de administrar!

Curitiba
Na liderança, o esperado: Ratinho Jr, montado na fama do pai televisivo, chegou em primeiro, com 34%. Aqui os institutos se atrapalharam, pois previam o segundo lugar para o atual prefeito, Luciano Ducci. Na reta final, Ducci perdeu o lugar para Gustavo Fruet (PDT), que obteve 27%. O segundo turno vai ser pauleira em Curitiba, com certeza, porque Fruet, em que pese o fato de ser apoiado pelo PT, é, sem dúvida um candidato mais substancial do que o populismo rasteiro de Ratinho. Chama a atenção o erro de estratégia do PSDB, que deixou a disputa em Curitiba em segundo plano, e perdeu uma eleição que poderia ser tranquila.

São Paulo
Conforme mostravam as tendências, Russomanno foi traído por seu passado, e o eleitor, que antes tinha uma certa simpatia pelo sujeito, agora passou a detestá-lo. Cá para os meus botões, creio que o que mais detonou a imagem do Russomanno foi aquela cena, passada "n" vezes na TV, dele entrevistando uma moça seminua no Carnaval, e apalpando os seios dela. Os homens ficaram com uma certa birra por inveja, e as mulheres, com raiva, mesmo. É o tipo de coisa que afunda qualquer candidato, aqui ou em qualquer lugar. Compostura é tudo, não? Serra recuperou os votos que havia perdido para o pupilo de Edir Macedo, e retornou ao patamar de 30% que tinha quando das primeiras pesquisas. Haddad também mordeu parte desses eleitores, e confirmou a tradição de que o PT tem uns 30% do eleitorado paulistano. Essencial para isto, muito mais do que o apoio de Lula ou de Dilma, foi o retorno de Marta Suplicy ao time de Haddad. Essa "vitória" (em cima do Russomanno) o Haddad deve a ela, ninguém mais.  E agora? São Paulo segue mais indefinido do que nunca. As tais pesquisas que mostram um Haddad vencendo Serra no segundo turno valem tanto quanto aquelas que diziam que Russomanno estava garantido no segundo turno: zero. Agora é pau, pau, pedra, pedra, e a briga vai ser feia. Vai ter muita lama voando por aí, podem apostar. Quem ganha? Não sei. Mas a minha torcida (já que não posso ir lá dar o voto para ele) é do Serra. São Paulo merece a seriedade, história e competência desse homem. 

Notinha: aqui onde eu moro, a aprazível cidade de Guararema, SP, o candidato do PR/PSDB/DEM, Márcio, está com 98% dos votos válidos. Deve ser um recorde nacional. Fruto de uma administração que deixou a cidadezinha um brinco - limpa, organizada, boa de viver e passear. Nada como um prefeito sério, não?

Rio de Janeiro
Como apontavam todas as pesquisas, Eduardo Paes (PMDB) levou a prefeitura surfando num maremoto de votos. Embora tenha apoio do PT, e me cause uma certa urticária por ter virado a casaca de PSDB com a qual entrou na vida pública, não resta dúvida que Paes é um candidato mais substancial do que Freixo, do PSOL. Só o fato de ser apoiado pelos artistas engajadinhos já me provoca urticária em relação ao moço do PSOL. Enfim, acho que a cidade do Rio de Janeiro está razoavelmente bem, até prova em contrário.

Belo Horizonte
BH foi a Termópila dos persas petistas. Desde que houve o rompimento tolo e inconsequente do PT com a ampla aliança que elegeu Márcio Lacerda em 2009, Dilma e Lula (Dilma especialmente) decidiram usar a cidade para "quebrar a espinha" do PSDB e de Aécio Neves, potencial contendor para as eleições presidenciais em 2014 (embora eu ainda duvide disso). Lula e Dilma sacaram Patrus Ananias do colete, deram uma banana para a legislação eleitoral (ele fez uma renúncia com todas as características de ter sido retroativa, de um cargo na FIESP, que o impediria de ser candidato, embuste santificado pelo TSE), e se engajaram na luta para fazer dele a cabeça de ponte para estraçalhar o PSDB em Minas. Só esqueceram de combinar com os mineiros, que não são lá muito chegados nesse tipo de coisa, ainda mais vindo de quem não é mineiro (Dilma é, mas está muito mais para habitante dos pagos...). Mineiro é desconfiado, uai. E os mineiros mandaram um recadinho para Lula, Dilma e sua trupe: "Aqui não, sô! Aqui nós não gostamos de quem quebra pactos dessa forma! Sai fora, Dilma!"  E Patrus Ananias, que até tinha uma boa avaliação entre os mineiros, perdeu e perdeu feio - Lacerda foi eleito no primeiro turno. E tem mais: o PSDB de Aécio Neves faturou mais de 70% das cidades do estado. O restante ficou, basicamente, com o PMDB. Nessa, os mineiros fizeram como as crianças do anúncio do leite: "Tomô?"

Salvador
Outra cidade baluarte do petismo, que recebeu atenção especial de Lula e Dilma. O objetivo era uniformizar os governos municipal com o estadual, já alinhado com o federal, de forma a neutralizar reações oposicionistas para 2014, na figura de ACM Neto. De novo, o esquema fez água, pois o soteropolitano viveu na pele os problemas de 2011, o aumento absurdo da violência e da insegurança. Jacques Wagner, no lugar de ser cabo eleitoral, virou "âncora eleitoral". E o carlismo light está de volta. Falta o segundo turno, e a briga também vai ser feia em terras baianas, entre ACM Neto e Pellegrino. Impossível prever o resultado, mas eu aposto minhas fichas no neto do ACM.

Recife
Recife foi o exemplo mais acadêmico de como agir para perder uma eleição, de que se tem notícia na história recente. A cidade tinha um prefeito, com forte desaprovação popular. Nada incomum, numa cidade tão complicada quanto o Recife, com seus inúmeros problemas urbanos. Seguindo o curso natural das coisas, o prefeito quis tentar a re-eleição. Se ganharia ou não, ninguém sabe. Mas ele tinha esse direito, dentro da normalidade partidária. Surgiu um outro candidato. Para resolver a questão, fizeram prévias do partido. Ganhou o prefeito. Ganhou mas não levou: o PT não reconheceu sua vitória (algo típico do PT, por sinal). Ele e o deputado concorrente foram ter com "São Lula" em São Paulo, para que fosse decidida a questão. Lula encarnou o espírito de Alexandre, O Grande, e resolveu cortar o nó górdio da disputa, alijando os dois candidatos e impondo um "tertius". Na sua sapiência imaginária, conseguiu desagradar a gregos e troianos (já que estamos falando de mitologia, não é?). Empurrou Humberto Costa goela abaixo do partido e dos recifenses. A resposta veio nas urnas: uma derrota fragorosa do candidato biônico, que ficou com míseros 18% dos votos, numa cidade tradicionalmente dominada pelo PT. Venceu, em primeiro turno, o candidato (ele também biônico) Geraldo Júlio, do PSB, partido da estrela emergente Eduardo Campos, que vê nessa vitória um convite para alçar vôos mais altos, talvez já em 2014. Lula atirou no que não viu, e não acertou em nada além do próprio pé. 

Fortaleza
Enfim uma vitória petista. Elmano (PT) com 25%, vai disputar o segundo turno com o psbista Roberto Claudio (23%). Note que são porcentagens baixas, o que joga o fiel da balança no colo de Heitor Ferrer, do PDT, que obteve 21%, e Moroni Torgan (DEM) com seus 14%   Quem eles apoiarão? Considerando as dificuldades de entender a política cearense, não me atrevo a responder.

São Luís
No estado de José Sarney, o segundo turno vai ser decidido entre Edivaldo Holanda (PTC) que obteve 36%, e João Castelo (PSDB), com 31%. O PT amargou um pífio quarto lugar (11%). Vai para o segundo turno e, a exemplo do Ceará, é impossível prever o resultado, dado a complexidade do quadro local, apoio da família Sarney, etc.

Belém
Outra briga embolada, com Edimilson Rodrigues do PSOL com 33%, e Zenaldo Coutinho (PSDB) com 31%.  Impossível prever. Mas, novamente, é notável o mau desempenho do PT: seu candidato chegou em sétimo lugar, com 3% dos votos.

Manaus
Manaus se reveste de importância especial, tanto para PT como para PSDB. Pelo lado do PT, embora não tenha candidato próprio, Lula e seus áulicos partiram com tudo no apoio a Vanessa Grazziotin (PCdoB), não porque tivesse qualquer afinidade com a candidata em si, mas para usar uma possível vitória dela para enterrar de vez a carreira política do ex-senador Artur Virgílio Neto, feroz crítico do petismo nos tempos de Senado. Lula não esquece, e quis essa vingança a todo custo. Já Artur Neto quer usar a prefeitura para dar substância a uma tentativa de voltar com fôlego à política, depois da derrota de 2010. E vai conseguindo: Artur Virgílio bateu a Vanessa por 40% a 20%, e tem excelentes chances de ganhar folgado no segundo turno. Em que pese a "sabotagem" à sua candidatura levada a cabo por Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, que enfureceu os amazonenses ao defender o fim dos privilégios fiscais da Zona Franca de Manaus. A permanência de Artur Virgílio no PSDB, depois dessa, é incerta.

Goiânia
Como esperado, o petista Paulo Garcia levou no primeiro turno, com 58% dos votos. Era a vitória mais esperada dessa eleição, e a única (repito: a única) onde o PT tinha amplo favoritismo. Mais pelo bom desempenho de Garcia à frente da prefeitura, do que por qualquer outro motivo.

Resumo....

Há blogs por aí, falando em "expressiva votação do PT nas eleições da capitais". Gostaria de saber em qual planeta essa gente vive. No Brasil, o PT sofreu uma derrota acachapante nas capitais, pelo menos no primeiro turno. Se vai conseguir salvar algumas coisa no segundo, não se sabe. Mas até agora, o desempenho do partido do mensalão é, no mínimo, preocupante. Para eles, claro. Para mim, é só festa.



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